ENTREVISTA
AO POETA MIGUEL OSCAR MENASSA Domingo,
7 de abril de 2002
Carmen
Salamanca: Fale-nos de seu começo na pintura. Como começou a pintar? Por
quê?
Miguel
Oscar Menassa: Comecei a pintar como todo mundo, quando tive contato com
minha própria merda, como acontece a todo mundo, quando era pequeninho, mas
depois tive como que uma... não vêem que agora pinto com luvas? Porque ainda não
posso superar... E depois, na verdade, meu primeiro óleo foi aqui na Espanha.
Eu sou um pintor do exílio, não porque represente algum exilado, senão que me
exilei e depois comecei a pintar. Portanto, se alguém quer pintar, aconselho
que se exile, é muito simples, eu quero o bem para a humanidade como para mim
fez bem o exílio.
Depois
Rodolfo Alonso, um poeta muito importante para mim, muito respeitado e muito
querido, falando de tudo um pouco chegou a se perguntar seriamente: se eu
tivesse ficado em meu país, se teria escrito como escrevo, quem sabe se teria
chegado a pintar. Talvez o homem tenha razão.
Quero
dizer que agradeço à ditadura militar argentina que me fez sair de meu país,
porque dessa maneira segundo fontes muito muito cultas e muito inteligentes,
isso me fez bem, me deu uma dor, mas... Fez bem a minha escritura, fez bem a
minha pintura. Viva o exílio.
CS:
Se exilou, mas aqui teve que encontrar alguém que lhe ensinasse a dar seus
primeiros passos, ou começou a pintar espontaneamente?
MOM:
Me levantei uma manhã e disse: pintor, e me pus a pintar.
CS:
E quais considera que são seus mestres na pintura?
MOM:
Não quero lhe mentir, mas recorra duzentos museus da Europa, África se há
algum, Ásia e América e esses são meus mestres. Entende o que lhe digo? É
como se eu dissesse: tenho um poeta preferido e lhe digo um nome, eu sou capaz
de dizer-lhe um nome, mas se nvestigas mais, na realidade são como 2.000 os
poetas que gosto. Um é ingrato, é como quando alguém lembra das namoradas,
sempre lembra duas ou três namoradas, ou dois ou três namorados, quando teria
que se dar conta de que todas as pessoas que tiveram alguma relação com ele
colaboraram em sua felicidade.
Capenga
o verde bexiga (que a bexiga é branca), que é um verde que quando está ao
natural é quase negro. Traço um plano inclinado, lhe faço uma curva como se
fosse uma nádega que depois vai ser uma árvore e traço uma fenda vertical
assim, e fico contente porque manchei a tela. Entende por quê comecei a pintar?
Comecei a pintar porque se eu quisesse me casar com uma virgem todos os dias,
minha vida teria sido um escândalo, teria terminado no manicômio, louco. Ao
contrário, me sinto diante da tela em branco e essa virgindade mancho com um
desejo, porque na realidade um dia elejo o verde, noutro o azul... Entende o que
lhe digo? Se não me entende, me diz que não me entende.
CS:
O azar das combinações, creio que essa frase utilizas às vezes para falar da
escritura; poderia ser aplicada à pintura também?
MOM:
Bom, eu agora estou pensando que não posso abandonar a escritura, porque já
tenho um compromisso social, mas claro está que penseiultimamente em abandoná-la pela pintura. Abandonar a poesia, uma pessoa
que já escreveu 3.000 poemas, não pode abandonar a poesia; entende o que lhe
digo? Mas está surgindo um interesse poético pela pintura, isso que sentiste
esta manhã quando estava pintando seu quadro, e disse “Ah, por fim associo
livremente na pintura!”. Isso é possível porque o mecanismo de produção da
pintura é exatamente igual ao mecanismo de produção dos poemas.
CS:
Como se poderia resumir esse mecanismo de produção da pintura? É como nos
poemas?
MOM:
No sentido de que é produção inconsciente, que não tem nada a ver com o
conhecimento, que tem a ver com o saber. Pintar tem a ver com o saber
inconsciente, por isso que quando me perguntas “qual mestre considera na
pintura?” Realmente vem à cabeça dez, quinze nomes. Para mim mestres são
todos aqueles que fizeram uma coisa melhor que eu, antes do que eu, de todos
eles tenho algo para aprender. Porque há poetas que gosto mais do que outros,
mas o fato mesmo de qualificá-los de poeta faz com que alguém tenha algo para
aprender deles.
CS:
Então, mesclar cores seria como mesclar palavras.
MOM:
As cores são significantes, como as palavras, portanto a combinação é
infinita. Por exemplo, eu insisto no fato de que a língua castelhana tem um
milhão de palavras, que é uma língua muito rica e poderíamos chegar a ter a
sexualidade de um milhão de palavras. No computador, outro dia observei, há
1.300.000tons de cores. Nem todas as línguas tem um milhão de palavras
como a língua castelhana.
CS:
Quiseste dizer que a pintura é uma linguagem ou entendi mal?
AD:
Só há uma linguagem.
MOM:
Como escrever poesia, te aconteceu com o quadro da manhã, o realizaste sentindo
que associavas livremente, além disto, Miguel elegeu as cores, quer dizer que não
elegeste nem as cores.
CS:
Eu, que sou aluna de sua oficina, até dois ou três quadros atrás, sentia que
era uma prisão ter idéias, querer fazer algo, querer controlar a experiência.
Temos
falado, digamos, das semelhanças entre a tarefa de escrever e a tarefa de
pintar, mas qual seria a diferença principal entre ambas as tarefas?
MOM:
Esta é uma pergunta muito geral que eu não posso responder, porque seguramente
me equivocaria. Eu posso lhe dizer o que aconteceu comigo e acontece comigo. Não
sei se está bem dito assim, mas eu sinto que tenho mais liberdade com a
pintura. Para mim, quando pinto ninguém me persegue, ao contrário, quando
escrevo me perseguem, por dizê-lo de alguma maneira, muitos poetas.
CS:
No começo de suas pinturas as mesclas de cor que faz até parecem escandalosas,
por isso da liberdade de eleger as cores.
MOM:
Penso que a combinação nem sempre é feliz, mesmo que isso não queira dizer
que não possamser combinadas, com um pouquinho mais de trabalho, às vezes
consegues o que não consegues com a simples mescla. Há uma cor que é o
“burnt sienna” que é uma das cores que mais gosto e que ao trabalhar me
custa mais esforço; eu vejo que quando as pessoas a usam, o quadro borra um
pouquinho. Comigo não acontece, mas me custa muito trabalhá-la, ao contrário
há cores que, se experimentas, por exemplo o vermelho, verde, com um preto, faz
assim e está pronto o quadro. Com este verde não é tão fácil, este é um
verde esmeralda.
CS:
Quem dirige a mão?
MOM:
Estive a ponto de responder-lhe: Deus. Na realidade já lhe disse, o sistema
inconsciente. Digamos que o artista que sou sem saber que o sou, o artista que
sou desconhecido para mim, esse. Eu creio que a arte está reprimida nos
estados, que com todas essas bobagens que dizem da arte, que o poeta não sei o
quê, que o escritor não sei quanto, para mim parece que o que fazem é
reprimir o acesso à criação. Porque deve haver um saber inconsciente nos
criadores que se abrem a porta à criação, entram cinco milhões de pessoas,
ninguém perderia a maravilha de criar se abrimos as comportas da criação. O
que acontece é que estão um pouco fechadas, entre os estados e os próprios
criadores que crêem que foram benditos por Deus...
CS:
Quer dizer que a criação é uma possibilidade de todo sujeito.
MOM:
Sim, é uma espécie de trabalho especializado com uma aprendizagem e utilizando
as matérias primas apropriadas, estudando um pouquinho, conhecendo, olhando,
tendo visto, como na poesia. Se conheço a poesia que foi escrita até o momento
em que eu cheguei, é muito mais fácil que possa escrever um bom poema do que
pensar que em minhas tripas há poesia.
Com
a pintura também me aconteceu o que me acontece com todas as minhas coisas, eu
sinto que há muitos rufiões no mundo, que todo mundo quer viver de nada, do
ar, que todo mundo é super explorado, que é muito difícil que um artista faça
dinheiro, que os poetas morrem nas salas escuras dos hospitais do estado onde
mal os atendem, eu não entendo por quê. Que, de duzentos pintores de Madrid, há
mais ou menos dois que vão bem e o resto faz com que os donos das galerias
estejam bem. Estou cansado de ler o jornal El País para me procurar e buscar a
alguém de meus companheiros, os grandes poetas, mas na realidade não aparece
nenhum. Então assim como fui criando meus próprios meios de difusão, As
2001 Noites, Extensão Universitária, O Índio Gris, eu penso
que eu mesmo tenho que pintar, envernizar, emoldurar, distribuir e vender. Que
sob nenhum conceito alguma outra pessoa tem que ganhar dinheiro além das que
trabalham na concepção de um quadro: o pintor, a pessoa que se ocupa de
envernizar, a pessoa que se ocupa de emoldurar, a pessoa que se ocupa de
transladar, etc. Imagino que vamos conseguir, mesmo que evidentemente esteja
rodeado de gente muito moderna que me aconselha que me darei melhor se eu sair
de meu covil, do que encerrado em meu covil. O que acontece é que encerrado em
meu covil cheguei até onde cheguei. E logo expõem meus quadros em uma galeria
de Madrid e, quem vai comprar meus quadros? A mesma gente que os compra em minha
galeria. Ou a galeria de Madrid vai me trazer clientes? Assim que meus clientes
compram em uma galeria de Madrid para que o galerista de Madrid leve a
porcentagem... Não. Prefiro não vender, em vez de estar preocupado com que
herança lhes deixo. Que herança lhes deixo? Pinto dois ou três quadrinhos por
semana e os vou deixando aí.
Esta
reflexão melancólica que acabo de fazer não tem nada a ver com a realidade,
na realidade eu vendo quadros. Não sei se algum pintor de Madrid vendeu tantos
quadros quanto eu, e podemos falar dos últimos 15 anos.
Para
mim tem que interessar seguir pintando.
CS:
Te interessa a experiência em si mesma?
MOM:
Não, a experiência em si mesma não me interessa. Eu o entendo: uma vez que o
quadro está realizado me dou conta que é uma mercadoria, quando o pinto me
divirto, uma vez que o termino de pintar me divirto porque consegui, uma
mercadoria me divertindo. Entende? E isso não é tão fácil como as pessoas crêem.
Entende?
Quando
lhe digo: entende? E o repito quatro vezes, o que lhe digo é queé muito importante o que acabo de dizer. Porque todos somos criadores, o
que acontece é que é muito difícil criar e que isso sirva para vender, não
é tão fácil como as pessoas crêem, porque não se trata exatamente da
qualidade, se trata de uma qualidade que seja equivalente com as outras
qualidades, tem que ser uma qualidade equivalente, mas além disto, há
quantidade de problemas no mercado, o mercado está controlado, há muita gente
que vive desse controle. Então se torna difícil, às vezes, penetrar nessa
camada do poder.
Gosto
do Grupo Cero e se lhe dou 40% é porque está subvencionando o Editorial Grupo
Cero. Porque o Grupo Cero não ganha dinheiro com o editorial, o Grupo Cero
gasta dinheiro com o editorial, então dou ao Grupo Cero porque subvencionar um
editorial como o Editorial Grupo Cero, que deu a conhecer nos últimos dez anos
a uns trezentos, quatrocentos poetas consagrados e a pelo menos 100 poetas
jovens, me parece que é uma boa maneira de investir o dinheiro.
CS:
Sim, no dia 16 apresentamos dois livros seus Cartas a mi mujer e Monólogo
entre la vaca y el moribundo.
MOM:
Na terça-feira 16 de Abril. São de prosa.
CS:
São narrativas, sim. Fiquei pensando nisso de prosa, são prosa poética. São
como seus quadros, dificilmente definíveis.
MOM:
Por que diz isso?
CS:
Dificilmente definíveis.
MOM:
Ah! Viu que difícil é me copiar.
CS:
Sim, isso vai ser muito difícil para os falsificadores do século que vem, bom,
ou deste século.
MOM:
Na poesia acontece o mesmo. Eu às vezes penso que meus discípulos não
escrevem como eu, não tanto por minha qualidade como mestre senão porque minha
poesia é inimitável, porque nem eu a posso repetir, para mim também foi
brutal essa coisa que faz a poesia.
CS:
Qual é a coisa brutal que a poesia faz?
MOM:
Bom, só podes dizer que a poesia não lhe agrada se não a escutas, ou seja, se
quando põem poesia você se faz de boba, e isso é muito fácil para o ser
humano. Mas se escutas um poema, nunca mais pode deixar de escutar poesia. Por
isso que, quando as pessoas zombam de mim, na realidade eu zombo das pessoas. As
pessoas escutam recitar e zombam porque dizem: “olha este, as bobagens que
escreve”. No entanto, eu me divirto porque sei que se alguém chega a escutar,
diz: “vou escutar as bobagens que diz este homem” esse perdeu, infectado
para sempre. De quê? Disso. Porque, quem depois de ter conhecido outro grau de
humanidade, não quer estar com esse outro grau de humanidade? Só um estúpido,
só um imbecil; uma pessoa seminormal, semi-sadia, quer voltar a repetir essa
humanidade.
CS:
Freud disse que o sujeito não abandona nenhum gozo que tenha provado.
MOM:
Tem razão, o homem. A única maneira de não aceitar a poesia é não
escutando; bom, há gente que fode oito mil vezes em sua vida sem gozar em
nenhuma pelas dúvidas de que o vá necessitar.
CS:
Um leitor pediu que desenvolvesses um pouco mais o tema da entrevista anterior,
onde disse que fecharia todos os museus e poria cadeias de prostíbulos, porque
há gente que acreditou.
MOM:
Fazem bem em acreditar porque se eu chego a governar, faço isso. Sabe por quê?
De que serve ter o Museu do Prado, se de oito milhões que vivem em Madrid só
vinte e cinco pessoas estão capacitadas para entrar no museu do Prado? Para que
serve? Eu digo: ponhamos um prostíbulo no Museu do Prado, ganhemos dinheiro,
cobremos a comissão, eduquemos o povo espanhol e quando houver em Madrid oito
milhões de pessoas capazes de se emocionar com os quadros que há no Prado,
voltamos a colocar os quadros no Prado. Enquanto isto é estúpido ter o Prado
para quinze pessoas, com o que custa ter o Museu do Prado aberto. Por isso me
agrada o Grupo Cero, porque quando se deu conta de que o que estava fazendo,
fazia bem, pôs a serviço da população.
Não
lhe agrada a resposta que lhe dei. Como vai gostar? Se és uma das quinze
pessoas que vai ao Prado. Como vai gostar?
CS:
O que pensa dessas idéias pós-modernas de que a pintura não dá mais, que
agora tudo é audiovisual. Já o diziam com o rádio, que ia desaparecer quando
apareceu a televisão. Agora dizem o mesmo da pintura.
Público:
Do teatro também.
MOM:
Claro, com a aparição do cinema...
CS:
É uma mentalidade de amores únicos.
MOM:
Que há muitos negócios, há tantos negócios que vocês não entendem. Se,
justo agora que a todo o mundo ocorre pensar o negócio audiovisual, lhes
ensinam a pintar, lhes estropiam o negócio. É comoos filmes pornográficos ou
ir fazendo o filme pornográfico em casa, com as pessoas conhecidas, com a
senhora. Se as pessoas seguem os conselhos psicoanalíticos, não tens que
enganar ninguém, com a pessoa que está contigo. Não digo nem sequer que há
que inventar a grapete. Acabou o negócio da pornografia, então, para que não
se acabe o negócio da pornografia segue estando proibida a sexualidade
importante na cotidianeidade. Se se permitisse a sexualidade e se permitisse,
por exemplo, o que fazem com a droga: “se toma tal coisa tome com cuidado,
tome-a assim, molhe-a, faça-a assim” pago pelo estado, por que não ensinam a
foder? Por quê não dizem: “se for devagarzinho, com tranqüilidade, com um
pouquinho de saliva, lhe mete um dedinho no cu, a vai fodendo e então não sei
o que”, para que o homem necessita ver um filme pornográfico?
Tampouco
lhe agradou esta resposta? Hoje não lhe agrada nada do que lhe disse. O que
tinha pensado? De quequeria falar?
CS:
Parece que a ignorância do povo é uma boa fonte de ingressos.
MOM:
A ignorância dos povos é uma fonte de ingressos de alguns trapaceiros, vis
comerciantes, que se aproveitam da ignorância do povo. Além disto, eu
considero que os trapaceiros não têm a culpa, por que as pessoas têm que
progredir, as pessoas têm que se dar conta onde está a vida, onde está a
morte e que o estado é responsável por essa ignorância das pessoas.
Por
que digo que minhas teorias são boas? Porque pinto, as pessoas vêm à oficina
e pintam, ninguém se mete com o que fazes a não ser quando está feito. E se
és muito jovenzinho, nem a crítica se lhe faz porque, vamos ver se está
inventando um novo estilo e isso que eu vejo feio é o começo de uma nova
maneira... Claro, se já passam uns anos e segues fazendo bobagens, lhe dizemos:
o novo estilo não aparece, por que não pintas como todo mundo?
CS:
Que versatilidade, uma cor ou uma palavra, conforme como se coloque e conforme
ao lado de que é colocada, é uma coisa ou outra.
MOM:
Muito bem, está aprendendo um montão de coisas, convém fazer estas
entrevistas.
CS:
No fundo, eu faço estas entrevistas para me tornar culta.
MOM:
Elegeu a melhor maneira.
CS:
E ainda me divirto.
MOM:
Esta não é a entrevista para o Índio.
CS:
Pensei que podia ser. Por que não, se fala de poesia?
MOM:
Sim, por favor, me faça uma pergunta de política porque, senão nossos
leitores vão nos criticar. O que aconteceu esta semana? O que lhe interessou
esta semana nos jornais, Salamanca?
CS:
Me interessou uma espécie de aperto no qual está Bush, porque já disse duas
vezes para Sharon que pare os ataques, que vá embora dos territórios ocupados
e Sharon disse que vai quando termine seu trabalho.
MOM:
E o que pensaste?
CS:
Bom, primeiro me divertiu muito que alguém diga que não ao grande ianque.
MOM:
Exatamente, porque não lhe disse que não. Havia um acordo prévio de que ele
iria dizer quando parar porque estava gestando o apoio dos países árabes, mas
não ia parar. Por que eu digo isto? Porque quando ocorre aos Estados Unidos que
algo tem que parar te atira a bomba atômica e pára, então, se não atira a
bomba atômica em Israel quer dizer que Sharon e Bush estão de acordo. Como a
polícia boa e a polícia má, uma te dá uma paulada e outro te dá um cigarro,
isto é a mesma coisa.
CS:
Me parecia totalmente surrealista que alguém dissesse que não aos Estados
Unidos.
MOM:
Além disto, não somente aos Estados Unidos, Estados Unidos e todo o concerto
internacional. Justo você me pergunta das coisas, das que eu não quero me
meter. Porque eu não quero me meter onde se meteu Polanco, o homem dizendo a
verdade, agora resulta que o querem tornar presidente da Espanha. O homem já
tem seu negócio, não sei se vai querer. Comigo aconteceria o mesmo, se eu me
ponho a falar, me ponho a falar, me ponho a criticar, no final, algum louco, que
sempre há algum louco, vai dizer “este serve para presidente”, e não estou
em idade. Eu estou em idade de dirigir um asilo de anciões, isso sim, isso me
agradaria.
CS:
Bom, dentro de uns anos, a Espanha vai ser isso. Em 2040 vai ser o país mais
velho do mundo.
MOM:
Está bem, eu vou ter 100 anos. Que me nomeiem diretor da Espanha, quando
sejamos um asilo de anciões e eu tenha 100 anos, está bem.
CS:
Sim, está bem.
MOM:
Várias notícias, disseram que apresentávamos um livro. E que cobrávamos
entrada para que as pessoas não creiam que somos uma seita?
CS:
Aos domingos às 18 h, sim, cobramos entrada, mas isso é outra coisa.
MOM:
Como outra coisa?
CS:
A apresentação de seus livros é na terça-feira, 16 de Abril e não se cobra
entrada.
Nos
recitais dos domingos, “compramos” entrada, cobramos entrada, compramos esse
momento de poesia.
Agora
são como meninos, os políticos, não deixam Piqué e Solana verem Arafat, então
voltam e Piqué diz na tevê: “Pois nós já sabíamos, não creiam que nos
pilharam desprevenidos, nós já sabíamos que não nos íam deixar entrar”.
MOM:
E pensas que é mentira.
CS:
Claro que é mentira, são uns ingênuos. Piqué crê que a golpe de barrete...
MOM:
O que Piqué não pode crer, e não pode crer Solana, é que os Estados Unidos
estavam de acordo com Israel. Isso é o que não se pode crer.
E
Madrid não tem nenhum problema? Nenhum problema tem Madrid? Tudo vai bem com
Madrid?
CS:
Madrid é um problema em si mesma, com este prefeito que temos, quero dizer que,
até a polícia municipal está fazendo folgas e se pegando há uns dias com a
polícia nacional em uma manifestação.
MOM:
Isso é o que eu digo em um poema, quando estoura a guerra já ninguém sabe
onde vive a amada e já ninguém sabe onde se aninha o traidor.
CS:
Mas é ótima a expressão, hoje vinha no jornal.
MOM:
O soldado morto por “fogo amigo”.
CS:
Com amigos assim, quem quer inimigos? Estamos nos enlameando na política,
melhor deixá-lo.
Bestas
imaculadas, alaridos do perdido tempo do amor,
obstinados, obstinados galopes, excitados de calor e medo.
Cambalhotas inquietas, aves de rapina violadas pela fé.
Viagens perfilando-se para o futuro, pequenos náufragos.
Enegrecida
passagem voluptuosa, teu corpo enceguecido.
Teu corpo, essa terra aberta, sem mais, ao universo.
Tua planície de paz, no meio, exato, de teus peitos.
E a fadiga violenta de teu ventre, abandonando-se.
Desato
minhas pernas para voar sobre teu coração, ainda,
como se voar fora um voar de amêndoas e de deuses,
me submerjo entre cálidos vagalumes obscurecidos e
cego de amor, sou um pequeno Deus adulterado.
Lamento
comunicar-te, como dizem meus versos: passaram os anos.
E
um homem de 61 anos não pode andar de calçõezinhos pela Gran Vía
madrilenha sem ter alguma teoria que fundamente seu andar. E eu, querida,
me dou conta, não tenho nenhuma teoria que me permita andar nu aos 61
anos. Ou seja, que estou no ponto onde se compreende, e se toma mais ou
menos bem, o fato de ter que mudar de vida, radicalmente.
Uma
mudança radical de minha personalidade. Algo com o dinheiro. Algo com o
sexo. Aprenderei a cuidar meu trabalho e meu sexo, começarei por me tirar
da vitrine das ofertas, dos saldos.
Por
um tempo, basta de pulular sonhos e um pouco mais de produção de negócios
e de trabalho. Contratos, tempo, dinheiro, vida plena, que bem levados serão
suficientes para realizar alguns de nossos sonhos.
Imaginei
que estarias fazendo com qualquer um, mas gozando não me deu ciúmes,
poderia dizer que quando te via nos braços delas duas, sentia uma
alegria... Por fim, me dizia, essas duas mulheres me desejam também e o
que está muito claro, com tudo o que me acontece, é que eu as desejo
como uma besta.
Primeiro,
quis ser uma mulher, logo ser uma grande mulher e nada consegui, sigo como
uma menina assustada do tamanho de teus genitais, algo terei que aprender
contigo.
Certa
tristeza por não poder desfrutar de tudo o que me ofereces, mas tive dias
de plena luz, desse sol que tanto te faz viver. Tive esses dias nos quais
só me acontecia o amor.
Bailei,
bailei como uma louca de amor pela música.
Meu
corpo se sacudia golpeado pela música. As outras mulheres não existiam,
sua pica não existia. Só existia meu corpo se movendo, levemente, ao
compasso. Me sentia bonita e atraia todas os olhares sobre meu corpo de
mulher, quente, apaixonada.
Ele
passeia como um perito bailarino fazendo que está interessado por mim e
muito próximo move o corpo com elegância para outras, me equilibro sobre
ele, um pouco cambaleamos e caímos um em cima do outro e aí aproveitei,
enquanto nos ajudavam a nos levantar, para lhe dizer:
Devo
me considerar pelo trato que me estão dando (indiferença total) um dos
escritores mais importantes deste século e, por outra parte, o ama-te
mais fiel que ela teve em todos os tempos.
As
uniões posteriores ao reinado do amor, não só protegem interesses econômicos
(como ela gosta de colocar) senão que impõem uma prevenção de muitas
enfermidades corporais e toda a loucura.
O
entrecruzamento absurdo de caracteres torna impossível qualquer
sistematização. Tenho que deixar de ser um homem sofrido que perdeu tudo
em seu passado.
Radiantes
espelhismos fugiram de mim, afugentados por esta nova realidade que me
submete: a alegria, a diversão, o gozo, me têm perfeitamente encadeado a
viver e não há de vir nenhum Deus a me dizer como devem ser minhas
coisas.
Índio
Gris
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PRANTOS
DO EXÍLIO
Autor:
Miguel Oscar Menassa
75 pág. 18 €, $ 20.00 Contém treze lâminas
com alguns dos melhores
quadros da obra de Miguel Oscar Menassa.