Revista semanal pela Internet Índio Gris
Nº 97. ANO 2001 QUINTA-FEIRA 4 DE
ABRIL

 

UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2002

NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
CASTELHANO, FRANCÊS, INGLÊS, ALEMÃO
ÁRABE, PORTUGUÊS, ITALIANO E CATALÃO

La danza Interminable

ÍNDIO GRIS É PRODUTO
DE UMA FUSÃO
O BRILHO DO GRIS
E
O ÍNDIO DO JARAMA
A FUSÃO COM MAIS FUTURO DO SÉCULO
XXI

Índio Gris


ÍNDIO GRIS Nº 97

ANO II

EDITORIAL

ENTREVISTA AO POETA MIGUEL OSCAR MENASSA
Domingo, 31 de março de 2002

Carmen Salamanca: Não chegou nenhuma nota de El País, desculpando-se, não fizeram caso depois da entrevista, não disseram nada. Me parece que estão se fazendo de surdos.

Miguel Oscar Menassa: Me parece que os de El País têm muito trabalho porque não sabem em quem têm que votar nas próximas eleições. Aznar, colocados por ele no poder, agora já não lhes agrada e não tem como substituí-lo. Parece que há um problema porque querem apresentar Polanco, que disse “E eu acaso não encaminho bem os destinos de Prisa? Que diferença há entre Prisa e Espanha?”. Creio que estava Cebrián e lhe disse: “nenhuma (viram como é Cebrián, sempre vai adiante), por fim Felipe González não é tão mal” e Polanco lhe disse: “demonstre para mim”. E escreveram um livro juntos para demonstrar a Polanco que Felipe González servia para algo, mas se lês as porcarias que escreveram e que publicaram, vai se dar conta de que o pobre Polanco não vai querer deixar El País nas mãos destes dois. Parece que vai se apresentar às eleições.

CS: O livro se intitula O futuro já não é o que era.

MOM: Bom, também és muito imaginativa e me atribui coisas que eu não cheguei nem sequer a pensar. No outro dia a confusão que fez, tens uma confusão na cabeça...

CS: Por que diz que tenho uma confusão na cabeça?

MOM: Como se gostasses que o mundo fosse outro.

CS: Homem, pois sim, todavia algo de idealismo nos resta.

MOM: E onde aprendeu essa palavra?

CS: Não sei, mas me lembro que Menassa diz, às vezes, que os últimos idealistas caíram com o Muro de Berlim, que depois disso já não há ideais.

MOM: Menassa disse isso? Não creio que Menassa diga isso. Menassa deve dizer que os ideais que serviam para que os jovens há algum tempo puderam eleger entre um ideal e a droga, esses ideais não existem, que é necessário gerar outros ideais. Mas tudo o que custa algo de trabalho leva as pessoas a um esforço para fugir disso.

CS: Estamos na Semana Santa, no outro dia falava do dilúvio cristão, o que pensa da paixão cristã?

MOM: Me perguntas mal, porque a paixão cristã moveu montanhas. O que eu vou pensar da paixão cristã? Nunca houve gente tão apaixonada como os cristãos. Se deixavam matar por seus ideais, conquistaram, roubaram, executaram, o que me perguntas? Me perguntas por este festejo que fazem.

CS: Sim, por exemplo.

MOM: Bom, disso eu sempre tenho pensamentos muito econômicos. Aos touros eu proibiria, sabe por que os proibiria?

CS: Por quê?

MOM: Porque eu creio que dá muito mais dinheiro um prostíbulo do que os touros. Eu não sei por que o governo não quer com um prostíbulo e sim com os touros. Porque o povo quer os touros. Mas o povo também quer cocô engarrafado, também quer heroína, quer armas de fogo... não vão dar tudo isso ao povo porque o povo quer. Então com os touros como o povo quer, deixamos os touros, é uma vergonha. Depois tenho que agüentar os ecologistas espanhóis. Esta entrevista vai sair muito mal. Sabe por quê?

CS: Por quê?

MOM: Porque começaste peleando e não se pode começar o dia peleando.

CS: Peleando? Por que peleando?

MOM: Sim, começou burlando as pessoas de El País como se as pessoas de El País não tivessem nenhum problema além de agüentar que você se levante num domingo pela mannhã e lhes comece a incomodar. Como se não tivessem problemas, quando não sabem o que fazer.

Aznar é uma invenção do jornal El País. Quando nós confiávamos no jornal El País, porque tinha estado aí, e começaram a noticiar que Felipe González: quem iria se animar a votar em Felipe González? Se além disto todas as pessoas consideravam que o jornal El País era como o jornal da democracia. Agora não sabem o que fazer com Aznar, não podem tirá-lo, vá saber quando vão tirá-lo de cima. As pesquisas dizem que ganha três eleições mais, mesmo que agora Aznar tenha cometido um erro, que já criticamos na entrevista passada.

Deixe as pessoas do El País tranqïilas, que já têm problemas suficientes: problemas de consciência, problemas éticos, onde levaram o povo espanhol? A que os levaram a crer? O jornal, o paladino da democracia que é o jornal El País na Espanha. O que levou o povo a crer? O levou a crer que Aznar era melhor do que Felipe González porque Felipe González tinha uma namorada na América Latina. Podes crer que se organize toda uma campanha contra um governante e a favor de um futuro governante, tudo porque o governante tinha uma namorada? Se fosse em Alicante ninguém teria dito nada, mas como a namorada era argentina, então se armou uma confusão. Não me importam estas coisas, mas como cada um escuta, escuta, escuta...

Não contem nada à mulher de Felipe González porque não quero ter problemas. Estamos falando de política.

CS: Sim, claro.

MOM: E Aznar, como bem mostra Canal plus, que creio ser de El País também.

CS: Sim.

MOM: Agora querem dar-lhe uma volta. Agora, com Bush, o mostram como um pouco homossexual. Não é que Aznar não engane a mulher, como fazia Felipe González, senão que engana diretamente a mulher com homens, e quando a mulher lhe pergunta “me enganaste, querido?” Ele lhe responde “nunca te enganei com nenhuma outra mulher”. Que genial! Como inventou isso. Eu estou estudando a sexualidade de Aznar, porque quero mudar um pouco minha sexualidade, me sinto muito vigiado. Ele se arranjou bastante bem com isso, todos o olham pela frente e ele faz tudo com a parte de trás, então é muito difícil que o descubram.

Me parece bárbaro que tenhamos um governante que tão bem sabe se ocultar da mulher, me parece sensacional. E deve ser porque a quer tornar presidenciável, à mulher, então não quer lhe dar desgostos.

CS: Há muitos rumores acerca disso, muitos chistes.

MOM: A quer fazer presidenta de seu coração e ela escreve, tem outras coisas na cabeça, não vá estar todo o tempo pensando em Aznar. Eu tomei conhecimento de que Zapatero aprendeu um tango, um tango que se chama Bigotito: “Bigodinho se teu pai vivesse e te visse luzindo essa penugem à Chaplin, te prometo que te arrancava pelo cabelo, te tirava ao capricho”. E tem até namorada com essa figura...

CS: Há uma frase de 22 de janeiro de 1978 em Psicoanálise do líder...

MOM: E quer me fazer responsável por algo que ocorreu há 25 anos? Diga-me.

CS: “O homem, em geral, acreditando que a loucura não é um fato social, a atribui a outro. Crendo que a glória é um suave encontro com a mãe, não pode compartilhá-la. “El País” atribui não se sabe que loucura a outro, negando que é um fato social. Neste caso queria dá-la a Felipe González.

MOM: Felipe González tampouco é um santo, muita gente se sente maltratada por ele, é muito interessante isso. O próprio caso do jornal El Mundo, tinha bronca de Felipe González.

CS: Fazem troça com a paranóia de Aznar, “Vai-te Sr. González”.

MOM: Na verdade, os meios de difusão tornaram tudo muito fácil para Aznar, agora que estão contra vamos ver o que acontece com ele. E se ganha as eleições com o periodismo contra Aznar, então logo temos um tirano. Não sei se vão se animar a tanto, a deixar Aznar mesmo que não queiram. É que não entendo muito, você me pergunta por coisas que não entendo. Por que não me pergunta sobre algo que eu entenda?

CS: Estou lhe perguntando por sua escritura.

MOM: Adiante, por favor.

CS: Muito interessante este livro, me publicitaste como um manual de filosofia psicoanalítica e pode ser que tenhas razão, inclusive. Diz: “Se modificar os estilos de produção é mudar de vida, nossa vida mudou”.

Me chamou a atenção isso de modificar os estilos de produção. O que se modificou? Isto é de 1978, como se modificaram?

MOM: É muito simples. Porque o cara sempre fala da arte, não das batatas. Então aí está falando de várias coisas. Diz, consideramos seriamente que qualquer que aceite as regras de convivência pode ser um grande escritor, um grande pintor... E isso significa alterar as leis de produção artística, no entanto, sem ir mais longe, aqui na Espanha há muitos artistas, alguns deles donos de grandes empresas de arte, que pensam - pobres - que alguém nasce poeta, que nasce pintor. Há que lhes dizer que na realidade se trata de um trabalho que alguns podem realizar de uma maneira conveniente e outros mais ou menos, e que existem matérias-primas. É uma teoria aonde se faz necessária a Universidade, o estudo, a cultura, a transmissão da cultura.

Se eu penso que você pode ser uma grande escritora, com trabalho, a estou obrigando a estudar, a ler, a não crer que as coisas estão dentro de seu ventre, a que aceites ter tido uma herança cultural. Que, apesar de que seus pais (ponha qualquer coisa), eram pobres, recebeste a mesma herança cultural dos ricos. Quando os povos não se ocupam da herança cultural é porque querem dominar, os estados querem nos fazer crer que se nasce poeta, que só os ricos podem chegar à Universidade, coisa que demonstrou haver ricos que chegam à Universidade e ricos que chegam à merda, e há pobres que chegam à Universidade e há pobres que chegam à cadeia, mas nem todos os pobres vão para a cadeia, nem todos os ricos vão à Universidade, mas há uma mania do Estado de nos fazer crer... Não vê que agora vão gerar os débeis mentais?

CS: O que disseste?

MOM: Agora o estado espanhol quer gerar débeis mentais, como há muitas ONG que se ocupam dos débeis mentais e não têm muitos, com a nova lei de estudo vão ser gerados muitos débeis mentais, por categoria. Categoria débil mental número 1, categoria débil mental número 2, categoria débil mental número 3, etc. Entende o que digo?

CS: Sim.

MOM: Menos mal que me entendes porque é muito difícil, as pessoas não querem me entender.

CS: É muito simples o que dizes, tudo ao inverso e já está.

MOM: O que está dizendo?

CS: Que seu pensamento é revolucionário.

MOM: Revolucionário do porongo. Disseste tudo ao contrário, depois quando alguém vai buscar, dizem “fizeste tudo ao contrário”.

CS: Tudo ao contrário de como eles crêem.

MOM: Quem são eles? Você é eles?

CS: A ideologia imperante, a massa social, o estado.

MOM: A massa! Agora está insultando as pessoas.

CS: Modificar os estilos de produção é fazer as coisas ao contrário, que não digam para mim. A um que nasce pobre lhe toca cadeia, bom, se modificamos isso é fazê-lo ao contrário de como eles mandam.

MOM: Por favor, ponha-se um pouco mais séria porque me parece que hoje não vai ser possível.

CS: Sim, é que estamos na Semana Santa. “A morte não existe, ela é também uma construção de nossos desejos.” No sentido de que a gente tem que poder ter a palavra, tem que poder ter em seu psiquismo essa palavra, senão...

MOM: Sim, isso e também, eu sou muito freudiano, bom, li Freud, então isso é um artígo de Freud de 1906, Psicoterapia pelo espírito, que é um lindo texto. Aí ele diz da morte, na realidade, que se morre pelo mesmo mecanismo que se enferma, isto é, por um problema com o desejar. Por isso que já lhe disse que os grandes homens crêem que a partir de uma certa idade, se poderia decidir morrer. Por exemplo, Borges, o gênio, morreu antes, ele morreu aos 98 anos, mas morreu antes porque não queria decidir morrer, porque ele havia dito que antes dos 100 anos se morre por acidente, porque depois dos 100 anos se elege morrer. Pelas dúvidas, morreu aos 98 para que não dissessem que havia decidido morrer.

CS: Perdão, mas quem sabe influenciada pela conversa, estou vendo nessa figura o rosto de Aznar, umas sobrancelhas muito povoadas juntas, uma espécie de boina. Talvez me engano.

MOM: É como o problema de deus, se busca em meu coração, o encontra, mas se o busca nos livros, nos livros deus está morto. O mesmo acontece com este homem, a publicidade também faz efeito sobre mim. Se a Espanha vai bem e ele é lindo apesar de que é muito feio e as moças: “ai que lindo que é Aznar”, no final alguém termina levando-o no coração mesmo que conscientemente assim não seja. Digo-lhe o que estás dizendo. Eu não vejo o que vês, eu vejo aqui um senhor a ponto de se lançar definitivamente sobre o amor e não creio que isto aconteça a este moço.

CS: Estava me recordando de Rajoy, da maneira de não responder as perguntas da oposição numa suposta sessão séria do Congresso para responder essas perguntas. Me irrita muito isso do poder: como é possível que sigam governando quando burlam o povo?

MOM: Nas perguntas que fazes é como se não tivesse se dado conta de que a democracia (está sendo demonstrado), não é uma boa forma de governar os povos. Porque se chama democracia, mas depois quando tens maioria absoluta é porque o povo se tornou louco, e o povo enlouqueceu muitas vezes, enlouqueceu com Hitler, com Mussolini, enlouqueceu com Perón, com Franco. O povo é louco em geral, vamos dizer a verdade, não podemos nos confundir com o que o povo pede ou diz, pede qualquer coisa.

CS: Quer dizer que o povo é manejável?

MOM: Manejável e qualquer outra coisa que lhe ocorra. Porque os povos reagem, mas sabes quando reagem? Reagem no limite do limite do limite.

CS: Quando já não tem arrumação.

MOM: Não quero dizê-lo dessa maneira.

CS: Agora entendo porque Freud dizia que há três tarefas impossíveis que são: educar, governar e, qual é a outra?

MOM: Psicoanalisar.

CS: Psicoanalisar. Em governar se vê claramente, porque não há estado que possa prever a felicidade dos cidadãos, quero dizer que, ensinar-lhes a ser feliz, é uma maneira de educação.

MOM: Isso não se pode, porque sai muito caro.

CS: Mas não produziria mais um povo feliz do que um povo insatisfeito? No sentido da produção capitalista.

MOM: Eu vou lhe dizer uma coisa que não sabes, seguramente. Estou respondendo a sua frase: “se um povo feliz não trabalha mais”. Vêem como são os intelectuais, os intelectuais nesse momento de revolução, na União Soviética pediam duas coisas, que duas coisas pediam? A mudança da língua russa e a sexualidade livre. Stalin, que ficou como o ditador russo, não era nenhum abobado, disse-lhes que nem falar, pensar em mudar a língua não porque a língua era infra-estrutural, portanto, se mudasse a língua enlouquecia todo o povo russo, então os russos conseguiram a liberdade sexual. Disseste: um povo que por fim era feliz. Conseguiram de verdade, mas acontece que em pouco tempo tiveram que frear a coisa e voltar à sexualidade dos czares, melhor dito, à sexualidade pré-czarista, devido a baixa da produção.

Estou respondendo simplesmente com um exemplo bobo a sua pergunta, também boba, se as pessoas felizes trabalham mais. Não se demonstrou isso. No dito desta gente que terminou dando um passo para trás no que havia conseguido com a excusa da produção, se produzia menos, diziam.

CS: Está falando de felicidade, mas sem chegar a esse extremo, não seria possível um certo grau de conforto ou de comodidade ou de bem viver?

MOM: Me atribuis coisas que eu não disse.

CS: Eu pergunto porque, tal e qual estás colocando, o assunto não tem solução. Se há que ser infeliz para que o sistema capitalista siga funcionando e se produza e possamos seguir vivendo...

MOM: Eu vou lhe dizer uma coisa, a felicidade acarreta muitas questões de difícil resolução para os sistemas atuais.

CS: Além de que não se possa conseguir a felicidade, por definição. Que problemas a felicidade coloca que são de difícil solução?

MOM: A felicidade? O problema é que um homem feliz quer mais, um homem feliz não se conforma com o que tem, quer mais. Por exemplo, quando era infeliz, o homem pedia um pouco de pão, quando tem um pouco de pão e é feliz quer pão para os amados e quando tem pão para os amados quer educação para os filhos, e quando tem educação para os filhos quer universidade para os jovens, e quando tem universidade para os jovens quer trabalho para as pessoas que saem da universidade. Então, uma pessoa que estava aí quieta, estúpida, tarada, que eu manejava a meu antojo, ao lhe fazer feliz se transforma em um competidor, em um enche saco que vai querer o bem para a humanidade. Não é que o feliz vai se conformar com a felicidade para ele, vai querer essa felicidade para o resto do mundo. Entende?

CS: Sim.

MOM: Não lhe respondi?

CS: O que oferece a psicoanálise ao homem para conseguir uma mínima parcela de felicidade?

MOM: Ao homem não sei, mas a você, três ou quatro sessões semanais. Estive bem, ein?

CS: Me deixaste sem palavras. Mas insisto, este manual de filosofia psicoanalítica algo terá para dizer a respeito de...

MOM: De quê?

CS: “Tenho a possibilidade da metamorfose, sou humano”. Algo poderemos mudar.

MOM: Claro, estamos vendo (que você, senhorita, não quer entendê-lo) que estamos numa crise total de querer salvar a humanidade em sua globalidade, isso é o que nos acontece. Isso é o que acontece ao homem atual, ao homem, aos estados. Hoje em dia tudo se negocia, eu quero salvar os palestinos, então tenho que dar autorização para que comam o cu dos iraquianos, quero salvar aos iraquianos, então não posso me meter no problema palestino. Tudo se negocia, querida.

Não há mais saídas coletivas, porque nenhum estado está disposto a esquecer dos negócios que estão fazendo e começar a se ocupar das pessoas, não há nenhum estado no mundo que possa se ocupar das pessoas, então, como as pessoas vão mudar? As pessoas vão mudar de uma maneira individual, grupal, por isso a importância dos grupos, que é nossa proposta didática.

Porque senão, terminamos acreditando que é verdade o que vemos, e o que vemos não é verdade, é uma aparência.

CS: Mas...

MOM: Mas se me colocas outra aparência eu faria outra interpretação, não é que eu fique nas aparências, digo que há aparências que não podem ser interpretadas de nenhuma outra maneira a não ser como esta interpretação que estou fazendo, onde estou dizendo que é muito difícil uma espécie de salvação coletiva. Não vêem que quando Menassa critica o governo atual, não deixa de dizer que na realidade o pior deste governo foi feito por Felipe González? Todas as reestruturações laborais, está bem agora, pode que tenhamos um êxito na segurança social, mas é com um governo francamente de direita. Por isso é que eu digo, não entendo esta gente que segue pensando ainda as coisas de esquerda e de direita. No meu entender, o governo de Felipe González foi um governo de direita, necessário, porque era necessário, porque vínhamos de um monte de problemas; a Espanha estava muito atrasada em um monte de coisas, havia que adorná-la, havia que fazê-la européia.

CS: Sim.

MOM: E podes me dizer: “mas fazê-la européia era ir contra o povo?”

CS: Aqui diz: “Ambicionar, ambiciono uma profunda mudança da ética moderna, a ética, que como sabemos, propicia a impotência e a morte precoce”. Em 1978 ambicionavas  isso, bom pelo menos o escritor.

MOM: Isso eu sigo ambicionando, tens razão porque a normalidade só faz levar o sujeito a uma morte prematura. Por quê? Porque necessitamos seu lugar, porque não temos tantos lugares na sociedade capitalista. Então, sou normal, vou a uma morte prematura porque já alguém está esperando aí para ocupar meu lugar.

CS: Para ter meu número de DNI, por exemplo.

MOM: Bom, eu tenho o DNI de um morto. Muitas vezes, penso que se este homem não tivesse morrido, quem sabe eu teria conseguido o DNI.

CS: “O DNI de um morto para cobrir as aparências...”

MOM: Para que não pensem que me haviam dado o DNI. Eles dessa maneira me davam o DNI, isto é, davam o DNI a um latino-americano, mas não o davam, eu estava morto e além disto, no DNI, se encarregavam de dizer que eu havia nascido em Buenos Aires, para os efeitos legais, digamos.

CS: Por isso se chama DNI, Onde Nasceu o Indivíduo.

MOM: Bom, é muito parecido ao que dizes: qual é a definição?

CS: Documento Nacional de Identidade. Revolto, o mundo no qual nos tocou viver.

MOM: Quer que lhe diga a verdade? Eu sou feliz por viver no mundo que vivo. O fato de que eu não possa modificá-lo não quer dizer que o mundo não possa ser modificado, quer dizer que eu, com os instrumentos atuais e a compreensão atual, não posso modificar o mundo, não que o mundo não vá se modificar. Como não vai se modificar o mundo, se o mundo sempre se modificou? O que acontece é que há que aceitar que neste momento estamos nas mãos de um povo louco, de um povo onipotente, de um povo que crê que vai solucionar seus problemas de perversidade, sua homossexualidade infantil, seus crimes perfeitos... Cada tanto uma criança pequena toma uma metralhadora e faz justiça com suas próprias mãos. E a quem mata? Ao companheirinho que o burlou porque fez mal as contas, à pobre professora que ganha um salário de merda, mesmo nos Estados Unidos, e que o está todo o dia educando, então a ele parece mal isso.

Eles crêem que vão ajeitar o assunto. Estão impondo uma moral. Não vêem que para seus turistas dizem que a Espanha é perigosa? Hoje li no jornal que o estado norte-americano alerta seus cidadãos turistas para que tenham cuidado com Madrid porque há muita violência nas ruas. A globalização quer dizer isso: ou te portas como papai quer ou te vais de casa. O que acontece é que quando alguém é jovem e se vai de casa,  o que quer dizer? Que vai para outra casa. Aqui tens que ir do mundo porque a casa desta gente é o mundo.

CS: Para ir terminando: “Se não podemos ser homens, pelo menos, sejamos deuses”.

MOM: O que me perguntas? O que quero dizer com isso?

CS: Sim.

MOM: Bom, o cara tem toda uma concepção grega do assunto, porque sempre coloca o mesmo. Quando diz que não pode ser homem, fala de gente que não pode fazer amor, que não pode estudar, que não pode trabalhar, então, ele disse: pelo menos faça como deus, leia, estude. Atribui a deus coisas que não sei se há que atribuir a deus. Eu, por exemplo, creio que deus tem que ser um grande leitor, porque senão, como se daria conta de quem deve ser castigado? Não faça como o estado norte-americano, que castiga todos os que não lhe agradam, imagino que o assunto de deus tem que ser um pouco mais sério, que mesmo que não lhe agrade, se está bem feito, não o vai castigar. O que opinas? Ou também opina mal de deus?

CS: Não.

MOM: Para mim, ultimamente, deus está me agradando bastante, vou dizer-lhe, porque a gente critica, critica, mas na verdade...

CS: É que está um pouco desprestigiado.

MOM: Bom, houve muitos intelectuais que andavam dizendo por aí que iam fazer as coisas melhor que deus quando tomaram o poder e quando tomaram o poder fizeram uma cagada atrás da outra. Ou ao contrário, o governo atual que amparado em deus quer te obrigar a fazer coisas que deus jamais te faria fazer. Como ocorreria a deus que penses que é bom alguém que não é, como lhe iria ocorrer que penses que é culto alguém que não é.

Nesse sentido digo, além disto, por exemplo, me acontece o mesmo que com a família, eu era uma pessoa que lutava contra a família, no sentido de que eu sentia que não te deixavam liberdade, mas pensando bem e na atualidade, acontece que do adolescente é a família.

POESIA, POESIA, POESIA, POESIA

O mundo desmorona, amada,
se funde irremediavelmente no horror.
Dinheiro e mais valia amam o coração da serpente.
Reencontros taciturnos nos braços do nada, isso foi todo o século:
Enquanto pensávamos em cuidar o pão, nos tiravam a alma.
Houve gritos e mortes e despedaçamentos, e tudo foi inútil.
Enquanto pensávamos em cuidar a alma, nos tiravam o pão.

Poesia, Poeta, me ordenavam e, logo,
quando escrevia versos ou produzia amor,
disparavam sem piedade ferozes armas
contra a branca pomba da paz.

Eu sou a pluma que fica dessa história,
um canto mal parido entre os mortos,
o pedaço de verdade que vem da carne,
a polução asfixiante do cimento.

Sou a pomba inerte e despedaçada,
de paz, amor e liberdade
e, por que não dizê-lo,
o pão, a água, fizeram o desastre.

CARTAS DE AMOR

QUERIDA:

Besta apaixonada! Besta apaixonada! Te farei tão alta, te escreverei tão profundo, que já ninguém te poderá tocar até o próximo século.

Às vezes reconheço, te inquietam minhas ambições. Tu sempre tão galante com todo o mundo, tão amável com Deus, te inquietas ao perceber que serás toda minha e não porque tirarei alguns vôos de tua liberdade, senão, besta apaixonada de minha cadência, teu amor quererá que sejas toda minha. Condenada a ser imortal entre meus versos, não poderás fugir.

E quando alguém te pergunte: o que fazes, aí, parada justo no centro de minha vida? Tu responderás: a vida não é de ninguém, ou melhor, todavia, não há vida sem mim. Por isso sou o centro de tudo o que ama. Por isso sou o centro de toda liberdade.

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EROTISMO OU PORNOGRAFIA?

Enquanto pequenas formigas põem em questão a existência de uma roseira antiga, desenho entre as folhas da magnólia, os perfis possíveis de uma vida em pleno sol. O cedro do Líbano, o ligustro japonês e as rosas chinesas me trazem recordações orientais, essa moça judia, nos bosques de Palermo, com aquelas tetas sobressalentes. Recordo haver beijado essas tetas com a devoção de um menino faminto.

Logo vinha o entardecer e eu lhe recitava meus versos e ela sentia, como numa espécie de delírio de amor, que meus versos eram a terra prometida e entreabria seus lábios e entreabria suas pernas e se deixava levar pelo cheiro de terra cultivada e meu pai nos recordava haver plantado a primeira oliveira no sul da Espanha e nos deixava com a boca aberta cheia de azeitonas negras banhadas pelo amor.

               Você, o que opina?

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Até o dia de hoje, votaram:

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Não devemos
acalmar
a fome
nunca.

Um passo à frente
também
é uma ordem do sistema.

Sobressair
também
é uma opinião generalizada.

Índio Gris


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