Revista semanal pela Internet Índio Gris
Nº 95. ANO 2001 QUINTA-FEIRA 21 DE
MARÇO

 

UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2002

NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
CASTELHANO, FRANCÊS, INGLÊS, ALEMÃO
ÁRABE, PORTUGUÊS, ITALIANO E CATALÃO

La danza Interminable

ÍNDIO GRIS É PRODUTO
DE UMA FUSÃO
O BRILHO DO GRIS
E
O ÍNDIO DO JARAMA
A FUSÃO COM MAIS FUTURO DO SÉCULO
XXI

Índio Gris


ÍNDIO GRIS Nº 95

ANO II

EDITORIAL

ENTREVISTA AO POETA MIGUEL OSCAR MENASSA
Domingo, 17 de março de 2002

Carmen Salamanca: Esta seção já começa a ter colaboradores. Há uma doutora que me passou umas perguntinhas porque lhe interessaria saber como respondes. Fizeste medicina, não? Aí, quando estava servindo como marinheirinho estava fazendo medicina, não?

Miguel Oscar Menassa: Hoje vieste disposta a me insultar.

CS: Pelo de marinheirinho?

MOM: Não. Me disse: "fizeste medicina" quando devo de ser um dos médicos mais importantes do século XX. E depois disse outra barbaridade mais.

CS: Perdão. O que opina das investigações que estamos realizando que relacionam a depressão com o câncer?

MOM: É muito difícil o que me preguntas porque olhando a televisão esta semana me dei conta de que estávamos governados por débeis mentais, tratando de não insultar aos débeis mentais. Entende o que lhe digo?

CS: Sim.

MOM: Que é muito comprometedora minha posição de hoje. Depois, se os do Governo são débeis mentais, na oposição também devem ser débeis mentais, porque deixar fazer as coisas que lhes fazem...

Estou falando da depressão, não vá crer que estou falando do Governo.

CS: Sim, está falando de Zapatero, que tem uma depressão...

MOM: E de Aznar, estou falando dos que nos governam. Mas não queria falar disso. O doutor Rojas Marcos é capaz, numa conferência da imprensa, de afirmar que o alcoolismo não é tal ou a drogodependência não é tal drogodependência se não se tem em conta que há uma depressão prévia. Me assustou porque a depressão sabes que pode vir pela morte de um ser querido, pela perda de um objeto querido, ou diretamente, pode vir pela perda de ideais. Entendo por que o câncer aumenta; por que aumentam os acidentes automobilísticos apesar de que gastam tanto dinheiro; por que as pessoas passam rapidamente de uma erva caseira a uma droga que o mata. Todas essas perguntas ficam respondidas porque o povo espanhol, cada dois dias, perde um ideal. Eu cheguei ao cúmulo da depressão quando me dei conta de que estou sendo governado por débeis mentais e, como eu me ocupo da saúde mental, eu sei o que pode fazer um débil mental com a família, assim que imagine o que pode fazer um débil mental com o Estado. Essa é minha preocupação de hoje. O que me perguntavas?

CS: Sobre as relações da depressão com o câncer.

MOM: Bom, acabo de lhe dizer que é evidente, que como bem disseste, eu era médico no século passado. Não me animo a dizer que a psicoanálise cura o câncer porque depois vão dizer que sou um esotérico, mas está claro que os pacientes que tiveram a casualidade, que tiveram a sorte, no mesmo momento em que padeciam de um câncer, de começar um tratamento psicoanalítico ou de estar em tratamento psicoanalítico, tiveram uma evolução mais favorável de sua enfermidade. Eu não vou dizer que a psicoanálise evita as enfermidades, eu quero dizer que a psicoanálise olha diferente o mundo, portanto as enfermidades. Se entende isso?

CS: Sim.

Público: Que para a psicoanálise as enfermidades são distintas do que para a medicina, por exemplo.

MOM: Distintas e mais que isso. Há enfermidades para a medicina que, desde o ponto de vista da psicoanálise, são pequenos transtornos funcionais que se superam em 4 entrevistas psicoanalíticas. Não somente crê que as enfermidades são mais leves, porque a psicoanálise não é boba, sabe que há enfermidades que são graves, e que o homem morre de uma enfermidade. Qual é a enfermidade do homem? Poderias perguntar.

CS: Qual é a enfermidade do homem?

MOM: Bom, ser mortal, se deve à língua e não crer que a língua deve a ele e isto tem seu duplo sentido erótico, como te dás conta.

CS: Claro.

MOM: Uma coisa é depender da língua e outra coisa é fazer a língua depender de mim. A língua é capaz de se meter pelos cantos mais abjetos da intimidade do outro. No entanto, nossa moral, nossos preconceitos, a televisão, os conselhos que dá o jornal El País, fazem com que nós tenhamos a língua reprimida, no sentido de que nós fazemos os movimentos da língua dependerem de nossa personalidade, em lugar de fazer nossa personalidade depender dos movimentos da língua.

CS: Quer dizer que alguém é o que diz e o que cala.

MOM: Bom, alguém é o que diz se tem a sorte de que alguém o escute. Depois é o que diz o governador, o chefe de polícia, o chefe do governo, o que diz o presidente do presidente do governo que, como sabes, são as grandes companhias internacionais. Não há nenhum presidente que governe nenhum país, o sabes, não?

CS: Sim.

MOM: Há presidentes que caem bem aos grandes capitais. Como acontece comigo, eu sou diretor desta instituição. Por quê? Porque caio bem aos grandes capitais, no dia em que caia mal aos grandes capitais que sustentam esta instituição, seguramente tomarão outro diretor.

CS: Isso é política, não?

MOM: Isso é quase política, porque a política, em geral, é a arte do possível. A psicoanálise também é a arte do impossível, se me permites. Como se diz tantas bobagens por aí, podemos dizer que a psicoanálise tem sua própria política. Seria correto dizer que a psicoanálise já produziu, de alguma maneira, uma filosofía psicoanalítica, ainda que todavia não esteja escrita em nenhum texto. Para você que gosta de ler, Psicoanálise do líder, um livro que eu publiquei mais ou menos quando subiu Felipe González ao poder, esse poderia ser um manual de filosofia psicoanalítica, para os graus inferiores, não?

CS: Para os graus inferiores?

MOM: Sim, o primeiro ano de Liceu... Na realidade primeiro pensei desde os seis anos, mas como me fizeste a pergunta não quis ficar mal contigo e disse, “bom desde os 13, 14, 15 anos”. Porque na realidade, Sartre se equivocou em um montão de coisas, mas uma pessoa que se equivocou em um montão de coisas e trabalhou 50-60 anos escrevendo e pensando, terá acertado algo.

CS: Sim.

MOM: Sim, o quê? pomba mensageira.

CS: Que terá acertado algo para que o sigamos nomeando hoje.

MOM: Mas sabe a quê me referia?

CS: Sim, a que as crianças têm essa capacidade de aprender.

MOM: Há uma idade da razão ou não há uma idade da razão? Estamos todos de acordo, Sartre também, que há uma idade da razão.

CS: Aos 7 anos.

MOM: E que essa idade é mais ou menos aos 7-8-6 anos, depois de tudo o que estamos vendo com a psicoanálise seria aos 2 anos quando a criança processa a fase do espelho. Já está o símbolo, por isso que aparecem esses filmes onde uma criança de 4 anos diz à mãe como tem que tratá-la. Estão cheios os consultórios psicoanalíticos de casos onde um criança de 4-5 anos  diz à mãe como tem que se comportar com ela para que ela possa chegar à escola em vez de ir ao hospital.

CS: Em O ofício de morrer tem contos mais ou menos com essa temática.

MOM: Sim. O ofício de morrer é uma novela, é um poemário, é um diário, por outro lado, me parece que Psicoanálise do líder é um texto de filosofia psicoanalítica. Na realidade é o texto com o qual Menassa se separa, no sentido de compreender, no sentido de que algo entende do que havia sido o Grupo Cero Buenos Aires. Toma distância de algumas coisas que não havia gostado, evidentemente e reinicia uma etapa: é o livro que abre a etapa atual do Grupo Cero. Sim, porque Menassa mesmo se dá uns quantos conselhos, diz: “Nunca mais ninguém tem que sobressair porque ao que sobressai lhe cortam a cabeça”. Depois distingue entre um homem famoso e um homem trabalhador e elege um homem trabalhador porque diz que o homem famoso está todo o dia na rua montado em um cavalinho de papelão correndo de um lado para outro. E que um escritor é uma pessoa que, ao contrário, está quieta olhando como o mundo gira para mostrar à posteridade como girou o mundo em que viveu. Já sei que o mundo sempre gira, mas às vezes gira para cá e às vezes gira para lá.

Que lindo que é o quadro! Em três minutos o fiz. Somos uns gênios. É belíssimo o quadro. Que lindo que é! Se ferrou! Não o vêem? Está rindo porque não o vê.

CS: Está muito presa às cores.

MOM: Pergunte-me, por favor, como era?

CS: Estávamos falando de uma filosofia da psicoanálise e do livro Psicoanálise do líder.

MOM: Eu creio que foi o livro que inicia a etapa atual do Grupo Cero. Me ocorre com a palavra instituição o que para Freud aconteceu com a palavra tempo, porque eu nesse livro tive que chegar a dizer, como não tinha outro conceito de instituição, tive que dizer “basta de instituições”. É muito interessante esse livro. E depois, poucos anos depois, terminei gerando ou participando na criação de uma instituição que, como sabem, é bastante poderosa, que é a Escola de Psicoanálise Grupo Cero, que engloba um montão de atividades: Escola de Psicoanálise, Escola de Poesia, Editorial Grupo Cero, Oficinas de Arte, Exposições, Intervenções Cinematográficas, Oficinas de Escritura, Publicação de duas Revistas de 125.000 exemplares cada uma...

Então poderíamos dizer que Psicoanálise do líder é o livro que permite ao Grupo Cero chegar aonde está agora. E por coisas que estão acontecendo em minha vida privada, creio que eu estou processando um livro que escrevemos em 1999, que se chama Poeta condenado, Manifesto de 99 ou do psicoanalista condenado, que abriria uma nova etapa, porque recém eu estou assumindo o que diz esse livro que já asumi. Assim que, imagino que se vocês se dão o trabalho de lê-lo esta noite, talvez se darão conta também que aquele que escreve lhes faz assumir algo que vocês todavia não assumiram.

CS: Tanta diversidade de atividades, tanta criação me recorda esse asunto que Menassa diz, que a genitalidade não pode se sublimar, que é uma energia diferente.

MOM: Eu entendi a brincadeira, o chiste que estás fazendo para os leitores é que se a energia genital, ou seja, foder, pudesse ser sublimada... Antes disso disse que eu pinto, que eu escrevo, que eu isto, que eu aquilo. Eu entendi o chiste, me perguntas quando é que eu... Olhe como lhe deu tosse.

CS: O vejo vir... Quando fodes, estou perguntando?

MOM: Claro, então me faz um chiste.

CS: Não espero que me responda, é simplesmente um chiste. Mas no nível teórico me explique essa questão da sublimação, a criação e o foder.

MOM: Aqui o único que posso sublimar é, para dizê-lo e que o entendam, para que os psicoanalistas entendam.

Amelia Díez: Lhe escuto.

MOM: Só se pode sublimar se realmente se ama uma pessoa. Vou dizê-lo para que se entenda, só se pode sublimar a energia do sujeito com um outro pequeno.

AD: A energia do amar-se a si mesmo.

MOM: Interpretando o assunto, sim, claro, porque se o outro é só minha imagem no espelho ou eu só posso amar a meu pai, a minha mãe, ao que sou, ao que fui ou ao que serei...

AD: Com a energia de minha paixão por mim.

MOM: Claro, mas posta em outro, instantaneamente posta em outro. Por que senão, chegamos a pensar em um narcisismo primário e o que se sublima é uma energia narcisista, como disse Amelia, todo esse amor que tenho por mim, mas já esteve posto em outro, já foi libido objetal.

AD: Eu posso ser outro de mim.

MOM: Podes ser outro de ti. Terás que escrever um pouquinho mais. Transformar-se Amelia Díez e Amelia Kostaflichi.

AD: Não.

MOM: Não quer, já me disse que não. Por favor quero te escutar.

AD: É que sempre meu “mim mesmo” é outro para mim. Mas o que querias dizer, com o amor que sinto por outro, no sentido de que o outro sempre me lembra que sou mortal.

MOM: Por exemplo. O dizes de um modo que ao dizê-lo eu digo: não, é que já houve castração porque senão, como há sublimação?

AD: Se sublima com a pulsão, com a linguagem, tenho que ter outro semelhante, tenho que ter outro simbólico, tenho que ter todo o aparato, tenho que ser um ser social.

MOM: Senão faço outra coisa, sublimação é isso: suspendo a vida que já aprendi a viver e que além disso vivo bem. Porque, às vezes, nós nos deixamos levar pelas aparências, esse poeta que sofria em Paris, por exemplo, Vallejo, mas Vallejo pensava intimamente que estava transformando a língua castelhana. Na realidade viveu uma vida paradisíaca, não comeu nunca, o pegaram em Paris, o pegaram em Portugal, romperam seu cu na Espanha, mas ele era essa energia, essa força.

Às vezes me vês pintando e eu não pinto muito bem, eu pinto, mas posso pintar porque penso fechar todos os museus da Espanha, senão, não poderia pintar. E por quê os iria fechar? Porque não são pintores, porque para mim são desenhistas, são senhoritas, são empregados do comércio e há alguns pintores, mas não necessitamos de tantos museus, o resto se pode ensinar às crianças em fotografia e já está.

Então se fecham todos os museus, aí se põem prostíbulos, se junta dinheiro, em lugar de ter putas por todos os bairros inchando os narizes. Fecho esses locais, abro um prostíbulo controlado pelo Estado, o Estado forma uma comissão e com isso paga educação secundária por que as crianças necessitam de mais professores, mais aulas, soluciono o problema a vários coletivos.

AD: Nunca é da ordem da necessidade, da necessidade natural ou primária senão da necessidade do desejo.

MOM: Sim, porque quando não se dá de comer às crianças que morrem de fome em qualquer país do mundo, não é que lhe falte a comida, é que se lhes dou comida depois tenho que dar educação.

AD: Tenho que permitir que sublimem.

MOM: Tenho que permitir sublimar, por aí sai um artista.

CS: Voltemos ao assunto da semana passada, lhes dou drogas e isso me sai mais barato.

MOM: É mais barato, educar uma criança é muito caro.

CS: Com um pouco de sorte se morre, se inutilizam.

MOM: E se resolve o problema da Previdência Social.

CS: Agora compreendo as primeras frases da entrevista. Rebobinemos, havia dito que só se pode sublimar...

MOM: O amor, para dizê-lo simplesmente.

CS: O amor com respeito ao outro pequeno ou diante de outro, mas o que é que não se pode sublimar então?

MOM: Quem não fode porque acredita que canta melhor quando não fode tem que ir ao psicoanalista.

AD: Foder é sublimar.

CS: Foder é sublimar para um humano?

MOM: Claro, é uma das formas. Nem todos o conseguem, é muito teórica Amelia, no sentido de que alguém pode estar enfermo precisamente disso, que tenho roto o aparelho de sublimar porque todavia não há castração, então nem sequer fodendo como um cavalo louco consigo sublimar algo.

Público: Mas em um sujeito assim, o narcisismo estaria influindo muito, não?

MOM: É que eu creio que um sujeito assim não é um sujeito nem assim nem assado. Vocês acreditam que o narcisismo é uma enfermidade e o narcisismo é uma passagem vital do sujeito. Estou dizendo, além disso, que não há narcisismo primário, (mesmo que pareça que haja no Grupo Cero alguns investigadores, investigando a existência do narcisismo primário). Só há narcisismo secundário, ainda que pareça que é anterior à castração porque é uma coisa que vem de quando somos pequenos e amamos, se instala depois da operação de castração.

AD: Se houvesse narcisismo primário o ser humano não necessitaria nada mais, com isso se conformaria, se satisfaria, é como se houvesse instinto gregário.

MOM: Exatamente.

Público: Se houvesse narcisismo primário não haveria conflito, não haveria desejo.

MOM: Esse é o problema. Eu posso, como sujeito, o que faz um sujeito (não sei se o digo meio tarzanesco, mas é proposital). Posso ter diferentes condutas com respeito à palavra morte, não posso evitar a morte. Posso foder de uma maneira, foder de outra maneira, mas não posso atribuir esse foder a mim exatamente porque foder, que o homem foda, é um problema da espécie e a espécie é maior do que eu, então por mais inteligente que eu me creia... Mas me disseste que há gente que tem filhos e segue fodendo. Bom, já me ocorreram duas ou três barbaridades que não vou dizer.

CS: Em todas as enfermidades haveria um fator incontrolável para a medicina, quero dizer um fator psíquico. Em quê medida influi o psiquismo na hora de enfermar?

MOM: Queres resolver os problemas da medicina ou queres conversar? Porque se queres conversar, lhe digo que esse problema que a medicina tem com a psicoanálise o têm todas as disciplinas, todas, há disciplinas que não poderão dar um só passo mais se não tomarem a sério o assunto de que há um conceito, que é o conceito de inconsciente, que se produziu há cem anos e que explica precisamente isso que esta gente busca explicar. No caso da medicina com as enfermidades, no caso dos educadores, algumas coisas que ocorrem com os rapazes, no caso do fracasso escolar algumas coisas que ocorrem com os professores, só a psicoanálise permite compreender, até que não tomem a psicoanálise haverá coisas sem solução.

CS: Claro, outra das perguntas que me haviam preparado era com respeito às unidades de dor dos hospitais, o problema da dor, o que a psicoanálise pode aportar. A dor é psíquica por excelência. Quero dizer que está tocada pelo psíquico de uma maneira muito forte, sabemos que existem os placebos, sabemos que tudo é relativo.

MOM: Inicialmente queria fazer uma brincadeira. Quando me disseste o que pode fazer a psicoanálise pela dor, me disse assim? O que a psicoanálise pode fazer é uma coleta de dinheiro e pagar a quatro ou cinco agricultores para que cultivem marijuana de primeira qualidade e repartí-la nos hospitais, nas unidades de dor. E antes de experimentar nos pacientes, experimentar nos médicos para ver como já não tem tanta dor, e como já não tem tanta dolor em si mesmos, já não tem tanta necessidade de ver dor ao seu redor.

Uma pneumonia dói, a pleura dói, eu não sou idiota, abri ventres com meus próprios olhos e não encontrei nada. Digo que a dor dói, mas evidentemente a medicina atual, os governos não querem saber de soluções para mitigar a dor. É uma época na qual está proibido fazer os cidadãos felizes, não sabemos o que fazer com os cidadãos felizes, e mitigar a dor da população é fazer cidadãos felizes. O homem só sofre porque lhe dói ou porque vai doer, por nenhuma outra coisa mais sofre o homem. Porque se a namorada vai embora e não me produz esse despeito que me produz, como não vou esquecê-la, a esqueço imediatamente, mas me produz essa ferida narcisística, “me abandonou, a mim que era o melhor amante”.

CS: E por quê os laboratórios não se apropriam da marijuana quando já se apropriaram da morfina, do ópio, de todos estes calmantes?

MOM: Porque vá tu fazer ópio em tua casa, vá fazer algum sintético, não se pode. Ao contrário a erva tem tradição. Eu leio os jornais, não tenho nenhuma informação estranha. A senhora essa de 83 anos, que primeiro de tudo chegou aos 83 anos, o que é bastante difícil, fuma marijuana para a artrite que tem e lhe dói menos, não tem artrite, não deve ter muita artrite porque planta as plantinhas, rega as plantinhas, tira a semente.

CS: Inventou a artrite para que a deixem fumar.

MOM: Pode ser. Mas o problema é que há gente que inventa a enfermidade para fazer algo e esse algo não lhe serve para curar a enfermidade. Depois aqueles meninos espanhóis, que haviam decidido que a marijuana fazia bem para o cérebro e que prevenia os tumores cerebrais. Há dois ou três tumores cerebrais, um deles, o glioblastoma, que os neurólogos (espero que isto seja visto pelos neurólogos que tenham lido algum livro), o consideram biológico e o operam, mas eles sempre aludem a que no desencadeamento do tumor houve uma catástrofe psíquica. Na verdade, eles estavam levando adiante uma investigação que podia ter dado seus frutos o que me parece uma bobagem, que por um pouco de dinheiro a encerraram, por isso não quiseram dar um pouco de dinheiro para não dizer que subvencionavam isso...

Somos europeus e resulta que em toda Europa o aditivo da marijuana é utilizado, não para te emborrachar, mas para dar cor, para dar cheiro. Está permitido em pelo menos 4 ou 6 países europeus. O fato de que na Espanha não esteja permitido não fala bem de nós, porque fala de que estamos confusos, proibimos o que não temos que proibir e deixamos em liberdade o que teríamos que proibir.

CS: Te inteiraste da consumidora de êxtase mais jovem da história? Uma menina de 2 anos à qual sua mãe, por confusão acreditando que era água, lhe deu um trago de êxtase líquido que estava dentro de uma garrafa de água mineral. A senhora trabalhava limpando uma discoteca e ao que parece o dono da discoteca tinha em casa na geladeira doses de outro composto que não é êxtase, chamam êxtase líquido porque é um nome comercial, mas é pior que as pastilhas de êxtase.

MOM: É veneno puro. O que quer me dizer?

CS: Que se proíbem coisas que não causam dano e permitem outras mais nocivas. Porque é ilegal, mas se tanta gente o tem, está permitido.

MOM: Claro, não podemos fechar todas as discotecas do mundo, mas podemos aconselhar as mães de que não é conveniente que dêem de beber às crianças, coisas que encontram nas discotecas. Porque não vamos andar fechando todas as discotecas do mundo. As pessoas têm que viver de algo.

CS: Algo tem que beber.

MOM: Claro, porque dizem: “terminemos com a dependência da cerveja” e a pergunta que se deve fazer não é essa, é: onde vai parar toda esta juventude sem um corretivo? Está bem, lhes proibimos a cerveja e agora, o que vão fazer? Teria que se tranqüilizar que por enquanto é só cerveja. E de passagem ir tentando ver como faço para corrigir essa juventude para que não vá cada vez mais longe, cada vez a mais. Lhes ensino mal, lhes digo que não há trabalho em vez de lhes dizer que o trabalho vai salvar suas vidas.

CS: Estou pensando que tivemos uma entrevista muito psicossomática.

MOM: Tu começaste.

CS: A frase é essa: “lhes ensino mal”, me ocorreu “a poesia”. Não estaria mal ensinar aos jovens ler poesia, além de que seja bom para todo o mundo, mas digo aos jovens.

MOM: Isso é o que nós fazemos, mas os resultados são relativos.

CS: Relativos...

MOM: Se comparas nossos micronúmeros com os macronúmeros de intoxicados, evidentemente vamos perdendo, mas se pensamos que lendo poesia se termina escrevendo, que a poesia é lida por um montão de gente que não está precisamente no momento em que estamos aqui, bom sim.

CS: Vamos perdendo ou ganhando, para nós em todo caso não morreu nenhum por overdose de poesia.

MOM: Não se trata de convencer as pessoas de que temos alguma panacéia porque não a temos, senão, eu os convenceria, mas não temos nenhuma panacéia. Se damos vida ao significante, se entregamos a vida à palavra, então podemos fazer uso da palavra. Eu quero dizer somente isso, se não dou minha vida à palavra, posso fazer uso daquilo ao qual dou a vida inconscientemente, minha mãe, a família, o estado, o trabalho e com isto já estou me salvando, se dou a vida, em lugar da palavra, ao trabalho. Já tenho como que uma espécie de salvação porque aí há legislação.

CS: O que está claro é que há que dar a vida a algo porque, senão, não se tem vida.

MOM: E, como faz para ter vida sem entregá-la a algo? A um amor, ainda que seja a um amor, ainda que saiba que são coisas de cavalo, de besta, de vacas, ao amor pelo menos, quem sabe por amor é capaz de dar um salto. Viu como somos? Todo homem e mulher, se seu amante lhe diz quero que me consigas tal coisa, por amor, mesmo que nesse momento seja masculino, vai e conquista algo para entregar a seu amor.

CS: “Lá vou senhora, atrás do feixe de luz de teus desejos”.

MOM: Assim é.

CS: Não estaria mal levantar pela manhã e dizer isso.

MOM: Eu jamais diria “faça-se a luz” em um lugar onde não existisse luz elétrica e que eu não possa ir acendê-la para que se faça a luz. As pessoas às vezes dizem, Menassa é fanfarrão, porque eu digo “faça-se a luz”, mas me levanto da cadeira aperto o botão e se faz a luz, que não sou nenhum fanfarrão. Agora ascendo às alturas e vou em um ascensor. Ou ascender às alturas sempre é ir ao céu como a Virgem Maria? Não. Eu, por exemplo, nos quadros pinto ascensões permanentemente, as pessoas dizem: a Virgem Maria, e lhes digo não, ascende a poesia, pode ascender qualquer coisa, qualquer coisa frágil como a Virgem Maria, porque te dá conta que a virgem era frágil e por isso se pode fazê-la ascender. Jesus que já era mais pesado não o viste nem cair da cruz nem ascender aos céus, ao contrário uma coisa leve como uma Virgem, uma inexistência tal, naquela época...

CS: Que não havia contaminação.

MOM: Em absoluto, mas tampouco havia virgens, porque ninguém tinha o conceito de virgem jovem, de criança, isso surgiu há 200 anos.

CS: Algo mais para a entrevista?

MOM: A verdade é que gostaria que, por exemplo, você que tem essa polêmica posição no mundo, por que não cria um partido político? Eu sou seu assessor.

CS: Eu gostava desse que vocês criaram quando estavam em Buenos Aires, o Partido ao meio.

MOM: Eu era o assessor ideológico do Partido ao meio.

CS: Partido ao meio, a cisão fundamental da mão da psicoanálise.

POESIA, POESIA, POESIA, POESIA

SARAMA

Sarama é o lugar da mulher que amo,
é o pleno horizonte onde não chega a aurora.
Quando caio nele, como vindo de longínquas planícies,
mares desconhecidos,
Sarama se abre sem par a minha queda.
Deixo que minhas entranhas se mesclem com seu céu.
Em Sarama tudo é pampa infinita a minha chegada.

Depois já de sonhar cansados,
amores, amores, grita Sarama enlouquecida.
E não é o vento que soa ao conjuro do amor nascente,
é o rasgo do vento, os sons etéreos de seu riso.
Sarama é o lugar da mulher que amo.
Quando eu adormeço, Sarama deixa de pulsar.

CARTAS DE AMOR

QUERIDA:

Nos dias de amor eu costumava, sem voltar atrás, amar com todo o desespero possível, depois algo se aquietou em mim, algo em mim se fez como adocicado, como torpe.

Estou envenenado, estou absolutamente envenenado.

Sangue e sêmen são pus alborotado em tua lembrança. São pus glorioso levando-se adiante o universo.

Estávamos arrebatados e luxuriosos de nossos corpos apodrecendo na névoa. Tudo era delicado, de vez em quando um antibiótico nos chamava à realidade, que nunca era bela, na realidade sempre havia alguma dívida impaga, alguma comida queimada, algum amor desbotado...

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Ela estava contente como nos grandes dias.

- O sexo -me disse- praticam os imbecis e alguns cães andarilhos, o resto da humanidade, incluindo nós dois, tenta, sem poder, falá-lo.

- Sim, a entendo -desta vez lhe respondi-, está apaixonada por mim porque a sustento no ar, sem tocá-la.

Ela preferiu que continuássemos na próxima.

Eu, antes de que se fosse, lhe disse, ainda:

- Faça mais belo o mundo, colabore com a poesia.

Ela fez um gesto com a boca e essa foi a despedida.

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EROTISMO OU PORNOGRAFIA?

- Somos dois imbecis - lhe disse olhando-a nos olhos.

E ela não disse nada.

- Somos dois imbecis apaixonados - lhe disse.

E não me deu tempo de olhá-la nos olhos porque ela esculpiu, com douçura, minha mirada.

               Você, o que opina?

Pornografia   ou   Erotismo

Até o dia de hoje, votaram:

Pornografia: 140.000         Erotismo: 260.000

 

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Triunfar não significa triunfar sobre nada, significa permanecer.

Estou aqui enterrado, o compreendo, mas os mortos falam, quem não sabe? Os mortos falam e bailam e alguns como eu, impuros até na glória, somos capazes de escrever. O massacre das letras, pus no espaçador da máquina o número um e ficarão as letras apertadas, tudo para poupar um pouco de papel, até que não saiba o que estou escrevendo. O mais filho da puta de todos, comigo, está claro, sou eu. Dou minha vida por um verso pleno e me dou conta de que isso significa exatamente uma obra de quarenta volumes. Não sei se isso chegará ou terei que ter além de tantas páginas, tantos companheiros.

Eu de verdade não quero ser feliz nem amar nem nenhuma dessas coisas. O que eu quero é averiguar quanto custa exatamente viver duzentos anos. Depois de conseguir isso, imagino que o amor, a arte, a felicidade, virão sós a seu tempo.

Índio Gris


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