Revista semanal pela Internet Índio Gris
Nº 94. ANO 2001 QUINTA-FEIRA 14 DE
MARÇO

 

UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2002

NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
CASTELHANO, FRANCÊS, INGLÊS, ALEMÃO
ÁRABE, PORTUGUÊS, ITALIANO E CATALÃO

La danza Interminable

ÍNDIO GRIS É PRODUTO
DE UMA FUSÃO
O BRILHO DO GRIS
E
O ÍNDIO DO JARAMA
A FUSÃO COM MAIS FUTURO DO SÉCULO
XXI

Índio Gris


ÍNDIO GRIS Nº 94

ANO II

EDITORIAL

ENTREVISTA AO POETA MIGUEL OSCAR MENASSA
Domingo, 10 de março de 2002

Carmen Salamanca: No outro dia estavas perguntando sobre o tema da mulher trabalhadora, o que pensas, qual é sua opinião a respeito da relação mulher-trabalho?

Miguel Oscar Menassa: Não entendi bem a pergunta.

CS: Por que crê que a Associação dá este prêmio?

MOM: Por que creio que a Associação dá o Prêmio à Mulher Trabalhadora? Mas isto é outra pergunta distinta da anterior, não?

CS: Sim.

MOM: É que eu estava pensando na anterior.

CS: Não a pude repetir igual. O que pensa da relação da mulher com o trabalho?

MOM: Ah! É uma coisa muito complexa e muito difícil de explicar porque a gente em seguida diz: “Eh! Estás exagerando”. Eu recordo um texto de Mao onde dizia que a contradição principal, por exemplo, proletariado-burguesia, era substituída depois por contradições secundárias que se tornavam primárias. Que, inicialmente, era necessário terminar com a dialética proletariado-burguesia, que era a contradição primária, segundo ele. Depois havia que solucionar outras contradições secundárias. Uma contradição secundária à da burguesia-proletariado é proletariado rural-proletariado urbano; que, já o dissemos em alguma das entrevistas. Vá saber se isto não foi uma causa não estudada em Cuba, que produziu algum dos males. Mao dizia que tínhamos que apontar para a tarefa de ver como regularíamos a confusão e a exploração que o proletariado urbano exerce sobre o proletariado rural. Posteriormente, Mao dizia que ocorria uma contradição que durava mil anos para se resolver, que era a contradição homem-mulher. Ou seja, que todavia não sabemos qual é a relação que a mulher tem com o trabalho. No meu entender (e desculpando-me porque estas são coisas muito difíceis) por enquanto sabemos qual a relação que o homem permite que a mulher tenha com o trabalho. Que, por exemplo, para saber que relação tem com o trabalho, é necessário que a chefe seja mulher, as empregadas importantes sejam mulheres. Por quê? Para que elas possam ir mostrando que relação têm com o trabalho. Ou seja, que qualquer lugar onde a mulher exceda em número aos homens, se transforma em outra coisa. Isso é importante saber.

CS: Em outra coisa...

MOM: Em outra coisa do que é, não em outra coisa pior. Se entende o que digo?

CS: Não.

MOM: Por exemplo, à medida em que as mulheres vão invadindo o campo, as escolas de psicoanálise vão pensando coisas que antes não podiam pensar. Não vês que na política o socialismo e o PP aí estão todos de acordo, Esquerda Unida também, em dar à mulher só os 25%, quando há mais mulheres militantes do que homens em um montão de organizações. O que acontece é que se dão o partido às mulheres... Me segue agora?

CS: Sim, mas então, quer dizer que há um pensamento feminino e um pensamento masculino sobre as coisas, sobre a realidade?

MOM: Não, quero dizer que o proletariado não é um ser humano distinto do burguês. Não é que o proletariado e o burguês pensem diferente, senão que um tem uns meios de produção e outro tem uma força de trabalho e o que tem os meios de produção explora o que tem a força de trabalho. Com a mulher aconteceria o mesmo, não estão dizendo que lhe pagam menos? Não é que a mulher pense distinto, é que é um ser explorado, um ser submetido, escravizado.

CS: Mas há algo que não entendo muito bem.

MOM: O que não entendes?

CS: Antes diceste “se a maioria é de mulheres, se transforma em outra coisa”.

MOM: Eu vou lhe fazer uma leitura. Quando o Grupo Cero era todo de homens, todo mundo sabia que iam ser sete e o resto era o movimento ou a clientela ou não sei o quê. E a medida em que as mulheres foram se introduzindo no Grupo Cero, a tal ponto que no Grupo Cero Madrid quando se funda, não há homens, depois vêm os homens, aí muda a estrutura do Grupo Cero de maneira que hoje em dia se pode dizer que no Grupo Cero são mil, duas mil pessoas. Além disto, quando eram cem por cento homens, se discutia se dois mil exemplares ou mil exemplares ou dez exemplares da publicação, essa era a discussão que Menassa tinha com um dos integrantes, que dizia que tínhamos que publicar dez revistas, quinze para os conhecidos, para os que a soubessem ler e Menassa dizia mil, dois mil, três mil, oito mil. Tanto dizia, que depois, com os anos, chega a publicar 125.000 exemplares de uma revista mensal de psicoanálise e 125.001 exemplares de uma revista mensal de poesia. O que acontece é que a minha discussão era de a um ser feminino, que era eu, poeta, com os poderosos. E depois, a ruptura do Grupo Cero se produz quando pedem a inclusão de mulheres. Está bem, era a ditadura, mas é certo que foi rechaçada a entrada de duas mulheres. Porque modifica, se tem que agüentar a mulher. Por exemplo, eu quero trabalhar contigo, pois a tenho que agüentar, tens uma modalidade, cada vez que eu lhe digo como tem que ser, sentes que é incorreto.

CS: E isso é uma característica feminina? No masculino, ocorre menos ou não ocorre?

MOM: Estou dizendo que é uma característica da escravidão, que é uma característica da dominação, não da mulher. O feminismo, ao crer que é condição feminina, chega a pedir a igualdade, ao contrário são coisas de submissão, são coisas de povo acorrentado, o problema da mulher. Não pode pedir a igualdade, vão voltar a acorrentar, que eu dou a igualdade para ti e resulta que eu, há 4.000 anos estou nesse lugar e te igualo comigo e a submeto de novo. Ou pedes uma diferença radical e fazes as coisas como crês que as tens que fazer ou não há progresso. Eu não posso comparar, como diz Freud em A interpretação dos sonhos, isto é novo e não pode ser comparado com nada velho, por quê? Porque se o comparo com algo velho, tratando de esclarecê-lo, o perco. Quer dizer, que se eu agora agarro as coisas que a mulher faz e as comparo com as coisas que fez o homem, a perco, a perco como mulher, a transformo em instrumento de dominação. Porque o interessante disto é que se pode chegar a pensar, seriamente, que a homossexualidade masculina é algo inventado pelo poder dos homens sobre as mulheres, pelo menos nas culturas que nós conhecemos. Na cultura grega, os homossexuais eram os que tinham o poder, os escravos eram os que tinham relações heterossexuais e a mulher tocava flauta. Mas os homossexuais escreviam, falavam, podiam participar nas conversas. A homossexualidade feminina é uma coisa criada pelos homens, não pelo poder. Se está em oposição à mulher! Porque uma coisa é que a mulher tenha relações homossexuais e outra coisa é que trace a homossexualidade como uma bandeira, é uma coisa que temos que estudar. Uma coisa são as relações que alguém mantém com o mundo, que além disto são íntimas e que além disto são todas homossexuais, ou todas heterossexuais, não há homem ou mulher psiquicamente, há homem ou mulher para a reprodução da espécie, depois psiquicamente é trinta e cinco por cento, vinte e dois por cento, uma noite sim, outra noite não, na manhã seguinte não, se me serves o café desta maneira és minha mãe, se o serves para mim desta maneira és meu pai, ou o camareiro, ou o tio... O psiquismo é muito lábil, não pode afirmar sua identidade sexual rapidamente. Se além disto estamos na intimidade, se os pares fazem escarcéu de se fazer outra coisa, se fazem outra coisa. Porque sou um homem, sou homossexual, sou heterossexual, e isso só se pode dizer em público, na intimidade isso não existe. Se uma garota chupa o cu de um homem, o homem é homossexual aí? Ou o homem no dia em que não usa o pênis, são duas mulheres porque não usa o pênis?

CS: E tu, que modalidade sexual teria?

MOM: Eu seria trissexual: homossexual, heterossexual e escravo.

CS: E que siso é “escravo”?

MOM: Gozar, porque o que trabalha todo o dia pensando no tempo do escravo, é o amo.

CS: Sim, as aparências não nos levam a nenhum lugar, a nenhuma verdade.

MOM: Antes de Aznar governar, as aparências já enganavam, não é que Aznar seja o inventor de que as aparências enganam.

CS: Bem, as aparências não nos levam a nenhum lugar. A diferença se vê nos atos?

MOM: Quando eu disse o de Aznar, disse que eles querem que as aparências sejam a verdade, o Governo atual quer que as aparências sejam a verdade, ou seja, tem um problema muito importante com o dinheiro negro, o dinheiro, esse problema importante que não sabem como resolver: grandes quantidades de heroína, cocaína, de comprimidos cerebrais de não sei o quê, e eles o resolvem fazendo a campanha contra os jovens que bebem cerveja na rua, até chegar à proibição, à lei seca. E, a quem convém a lei seca? Aos contrabandistas de ópio, de heroína, etc.

CS: Os sintéticos vão subir, vais ver no mês que vem.

MOM: Além disto aumentam as mortes porque está todo o mundo irritado, o contrabandista antes te trazia o êxtase, comprimidos a 40%, então os jovens tomavam 2 ou 3 e agora se irritaram e o trazem a 100%. No outro dia morreram 2 jovens em Sevilha ou em Málaga. Por quê? Pela pureza da droga, a droga antes vinha a 40-50%, a puseram a 70-80%, mataram a 3. Mas isso é porque o Estado está olhando para outro lado: “como não se vê isso, não é verdadeiro”, como não se vê que nos tribunais te pedem dinheiro para passar teus papéis para cima de todos, porque há muitos julgamentos, então, é mentira. É mentira até quando chamam pessoas para testemunhar, que tiveram que pagar. Ao programa de Mª Teresa Campos chamaram duas pessoas e a terceira não deixaram falar, porque “como não se sabe que é verdade isto...”. Vêem que se guiam pela aparência? A verdade é que os jovens tomam galões, mas os jovens tomando galões não parece ser muito grave, enquanto o fazem na rua. Se entende? Por outro lado, não sabemos nada do que fazem em câmaras fechadas com aço, porque onde vão guardar 1.000 quilos de heroína, onde vão guardar 2.000 quilos de cocaína, oitocentas toneladas de haxixe? Está bem porque isso é o que descobre a polícia, mas às vezes não descobre, onde se guarda isso? Tem que haver grandes casas, grandes locais, ou seja, grandes lugares que seriam muito detectáveis pela polícia se a polícia realmente estivesse lutando contra isso.

É como a patinação, a patinação artística está rodeada de uma corrupção da qual não te dás conta: “e não me agrada este jovem e então passo ao outro que me agrada” e ninguém está contente. Como vão resolver o assunto da corrupção interna que têm? Muito fácil: não deixam que as garotas mostrem o cu, os homens não podem usar calças justas para não mostrar o volume, etc. Não vão solucionar a corruptela com isso, são manobras de distração do Estado e o Estado nem se dá conta, porque transformaram a problemática que temos com Marrocos, que está por declarar-nos guerra, em que Felipe González vai ao Marrocos ou não vai ao Marrocos. Vêem que é um Governo que quer fazer o povo crer que as aparências são a verdade? Perdoe-me por esta incursão na política espanhola, por que és tu quem mais sabe disto.

Já terminei o quadro, se chama “A prisão da mulher trabalhadora”. O que quer dizer? Que se ela não se prende a ser uma mulher trabalhadora, não poderá fazer sua revolução. Como dizia Freud, se creio que o que as pessoas me dão é por meus lindos olhos e resulta que não tenho lindos olhos, não vão me dar nada.

Seguramente tu terás revisado um montão de frases esta semana, tratando de fazer sua conferência desta noite, mas é verdade que há casos onde a mulher prefere qualquer coisa a trabalhar, portanto ao revés também teria que ser o mesmo, antes de começar a trabalhar teria que se perguntar: quero trabalhar?, quero me independizar? Mas, claro, tenho uma tristeza como mulher ao trabalhar, devo ser feia, devo ser pouco atrativa, não devo despertar muitos desejos porque, se não há nenhum homem disposto a me manter...

A mulher, ao trabalho, vai acompanhada de uma tristeza, de uma decepção.

CS: Sim, mas, uma vez que uma se dá conta de que isso é assim, pode virar o omelete e utilizá-lo em seu benefício. Uma dessas frases diz: “os homens, quando um homem vai falar, primeiro escutam e logo olham; quando uma mulher vai falar primeiro olham e, se lhes agrada o que vêem, escutam”.

MOM: Sim, está certo. Por isso, quando eu era jovem, falava tanto de minha pica, nunca se vais saber se a tenho grande ou não, mas de jovem sabia que se dizia que tinha uma pica grande, as pessoas iam me escutar com mais respeito. Eu nunca mostrei a pica para ninguém, mas sempre escrevi que a tinha grande.

CS: Gerou corrente de opinião.

MOM: Gerei uma corrente de opinião tal, que as pessoas me respeitam. “Cuidado com esse, que tem a pica grande –dizem as pessoas- não te agaches muito”.

CS: Há uma frase em As 2001 Noites que diz: “Se deteve o fluxo de dinheiro e ela deteve a vida, o gozo”. Como ela pode pretender ter dinheiro se não trabalha?

MOM: Bom, mas pelo que diz a frase, lhe haviam prometido que se ela dava amor, gozo e não sei o quê, lhe davam dinheiro. Sei eu como é. O motivo íntimo pelo qual a mulher termina fazendo tudo o que faz, sei eu?

CS: Por que ela faz as coisas? O que move uma mulher a trabalhar, a ter uma vida?

MOM: Dizem que a mulher faz tudo por amor, sei eu! A verdade, não sei.

CS: Terá que falar ela, terá que investigar.

MOM: O que sei é que há muitos investigadores que quiseram fazer a mulher falar de qual é sua problemática, de como é que ela leva a vida. E ela não quer porque diz que não lhe convém.

Público: Há gente que prefere estar enferma, lhe convém estar enferma.

MOM: Por exemplo, quando os escravos começaram as coisas da liberação, havia escravos que defendiam o ser escravo, havia escravos aos quais tinham que ser convencidos da liberdade, antes de correr o risco, eles preferiam seguir sendo escravos. As pessoas são assim.

CS: Disseste várias vezes que fracassaram as revoluções masculinas e que tem que vir uma revolução feminina, ou da mulher, não sei como é exatamente, das mulheres.

MOM: A podemos chamar feminina para poder dar aos que se chamam homens alguma oportunidade de que participem dessa revolução, nesse sentido. Mas, o que me perguntava?

CS: A revolução deste século, se é uma revolução feminina, o quê suporia?

MOM: Se eu supusesse o que suporia a revolução feminina, não haveria revolução, porque eu poderia não fazê-la vir. Por exemplo, os homens confiam muito em que se a mulher toma o poder vai haver mais liberdade sexual; eu creio que se a mulher toma o poder acaba a liberdade sexual, porque: para quê a mulher quer liberdade sexual? Por aí tu que és inteligente, encontra alguma explicação. É muito difícil.

Público: Essa já a tem.

MOM: Me parece que sim, que ela já tem liberdade sexual, por isso que: para quê vai querer liberdade sexual? Querem lhe dar uma coisa que a mulher tem, que além disto, utiliza, não te dás conta como, o cinema está cheio dessa utilização de sua liberdade sexual.

CS: É o mais antigo.

MOM: No livro esse de Armand Salacrou, Uma mulher livre que eu às vezes lhes recomendo, onde ela contava dia a dia os dias que seu amante estava com ela e anotava na parede, fazia uma marca na parede de cada dia que o homem estava com ela e ela era feliz de que tivesse passado um dia mais, e estavam vivendo juntos. Quando ele a pede em casamento, ela desaparece.

CS: Porque aí acabou a emoção.

MOM: Não sei se a emoção ou a liberdade, querida. O matrimônio é uma instituição, já está programado o que se tem que fazer, o que se tem que respeitar, porque se não estivesse programado o que se tem que fazer e o que se tem que respeitar, não teria estado vigente durante vários anos, e creio que todavia segue, que é um atenuante que o homem mate a mulher por ciúmes, não sei se segue sendo um atenuante, mas o era até muito pouco tempo. Isso é como está constituída a instituição família, a instituição matrimônio, porque senão, seria impossível pensar, se a instituição não diz uma coisa assim, que depois a lei diga uma coisa assim.

CS: Claro, que as mulheres trabalhem e tenham independência econômica atenta um pouco contra a instituição do matrimônio.

MOM: Eu creio que se a mulher trabalha e ganha muito dinheiro e está bem colocada em seu trabalho, o matrimônio não pode lhe interessar sob nenhum aspecto, para quê?

CS: Há um chiste que diz: “Eu, para quê vou me casar se tenho três animais domésticos que fazem as mesmas funções que um marido: um cachorro que late para mim pelas manhãs, um louro que diz palavrinhas todo o dia e um gato que chega muito tarde à noite”. A instituição do matrimônio é um contrato. Me comentavam antes que no livro Vigência de Sigmund Freud. A transferência, Menassa diz (bom tu, o que vem a ser Menassa) que desde a primeira interpretação que lhe fizeram “coisa de homens?” até que pôde incluir uma mulher em seu olhar, se passaram 12 anos.

MOM: O que me pergunta? Se eu demorei muito tempo porque sou tarado?

CS: O que quer dizer incluir uma mulher em seu olhar?

MOM: Incluir uma mulher na mirada quer dizer que, quando eu penso, penso um homem masculino e uma mulher ou um ser feminino. Que nunca me confundo, no sentido de que quando é uma mulher a que faz, não lhe peço o que peço aos homens. E que a cultura mostra como se as coisas femininas fossem menores e isso não é assim, nem menores nem maiores, são coisas radicalmente diferentes. Se entende o que digo?

Umas vezes diz (acontece com os animais também), o pássaro amarelo-celeste voa muito bem e então aparece alguém que diz: sim, mas não canta. E se eu não estou dizendo que canta, estou dizendo que voa, que a gente é assim, um diz “a mulher não pode levantar uma pedra de quatrocentos quilos”, poderia lhe responder “sim, porque não é basca, se fosse basca a levantaria”.

CS: Há cada uma por aí...

MOM: Além disto quando a mulher governe, não quer dizer que o homem vá desaparecer, o homem seguirá fazendo as tarefas pesadas, o que acontece é que em lugar de para ele mesmo, para a mulher.

CS: Há uma frase antiga que diz: “Quando Adão cavava, enquanto Eva fiava, qual dos dois era o grande senhor?”

MOM: Eva.

CS: Por isso.

MOM: Eu lhe digo o que é, não o que eu quero. Porque eu não estou seguro de que a mulher seja capaz de se dar a liberdade.

CS: De se dar a liberdade?

MOM: Sim, de tomá-la. Ela está esperando que alguém lhe dê e a liberdade tem que ser tomada, quem vai te dar a liberdade? Além disto, quando peço liberdade a alguém, quer dizer que o outro está me utilizando? O digo nesse sentido, porque senão, para quê vou pedir liberdade?

Público: Como se tivesse minha liberdade.

MOM: Vamos ver se, além de estar me está utilizando, ainda por cima eu lhe peço minha liberdade, se ele vai dar?! Nem falar.

CS: É que às vezes nem sequer se coloca isso de pedir liberdade. O que se coloca é pedir permissão para pedir liberdade.

MOM: Mas isso é a mãe e acontece às mulheres e aos homens. Ou seja, toda mulher e todo homem que peça permissão a seu amante para essa ou aquela coisa, não vive com um amante, vive com sua mamãe.

Público: E ainda por cima não o quer porque se o pede é para que não lhe dêem, e sobretudo a um amo.

MOM: Além do fato de que a permissão se pede à mamãe, se ainda tens que pedir permissão para viver à pessoa com a qual vives, já cagaste, quer dizer que te equivocaste. Porque o problema dos ciúmes é fundante para o psiquismo. Isso é uma coisa. E outra coisa é quando eu a mato por ciúmes; aí quando eu castigo a mulher, o homem castiga a mulher por ciúmes é como se o homem tivesse se apropiado, como se a mulher fosse verdadeiramente um objeto e ele se apropriou e, então, como é dele...

CS: A matei porque era minha.

Público: Só por isso. Nem sequer por amor tem ciúmes.

MOM: Estão vendendo ou é uma manifestação? É uma manifestação contra os pintores.

CS: Nós pintores, no domingo, queremos sol, queremos sol.

Público: Pedem liberdade.

MOM: Como disse?

CS: Que pedem liberdade, até na rua pedem liberdade. Eu não tenho nada mais para lhe preguntar hoje.

MOM: Não quer que lhe dê um conselho agora que vão nomeá-la Mulher Trabalhadora?

CS: Sim, por favor, algum suporte.

MOM: Bom sutiã podes comprar na loja El Corte Inglés. Eu, o que posso, é lhe dar alguma frase. Dizer-lhe, por exemplo, se não acreditavas, quando trabalhava todo o dia e ninguém te felicitava, porque acreditaria agora que segues trabalhando todo o dia e te felicitam.

CS: Não, se não acredito.

MOM: Me respondeu muito rápido.

CS: Se antes quando trabalhava todo o dia e ninguém me felicitava, não acreditava que não me felicitavam por não trabalhar, então agora que me felicitam tampouco acreditaria que me felicitam por trabalhar.

MOM: Exatamente.

CS: São aparências, não? São aparências, mas também são frases que, segundo como alguém as administre, fará de sua vida uma coisa ou outra.

POESIA, POESIA, POESIA, POESIA

MALDIÇÃO

Te tocará viver longe do sol.

Habitarás o sul
te chamarás Miguel
e terás em tua voz
o murmúrio do mediterrâneo
e o dom da palavra.

Serás bonito Miguel
(todo bom guerreiro tem que ser bonito).
O sol de teus antepassados será tua história.
Para que brilhe tua mirada
                                      terás ódio.
Terás que ser amável e delicado
por que quando estoure a guerra
                                                filho meu
cuidarás das crianças.

CARTAS DE AMOR

QUERIDA:

A medida em que vou entendendo o que nos aconteceu. O que fiz com que acontecesse em minha vida nestes dez anos passados, quero morrer, cada vez mais e, no entanto, sei que não o farei e com o tempo terminarei recordando com carinho e benevolência meus torturadores. Algum poema renderá homenagem, também, ao mal.

Já verás, quando termine de desnudar-me, também sairão correndo, mas desta vez impactados por minha pureza.

Nunca fui tocado senão por mim mesmo.

Quando ela me beijava, na realidade beijava a imagem que eu projetava, amando-me, sobre ela.

Sempre menti, querida, sempre enganei, nunca disse, exatamente, uma verdade, a ninguém. Nem a minha mãe, nem a Deus.

E se agora queres que te diga a verdade te digo: menti sempre.

E não posso já, senão mentir.

O não dizer de todo. O dizer pela metade. Dizê-lo, mas metaforicamente. Dizer, dizendo outra coisa. Enredar, enrolar, desrealizar, forma parte fundamental de meu estilo.

A palavra havia comido meu coração.

Cheguei a ser uma lisura infinita de sem sentidos.

Haviam desaparecido as normas que mantinham unidas umas palavras a outras. A precisão dependia de imponderáveis. A beleza do azar.

Depois, me encontrei com um montão de crocodilos e lhes disse, como se faziam os versos e os crocodilos me disseram que sim e comeram todos os frutos que eu havia conseguido reunir ao meu redor.

Depois, pretenderam escrever e se consumiram, sem mais, em seus remorsos de crocodilos.

Estou vivo! Estou vivo! E isso é o que cantarei.

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Ela me disse que talvez estivesse grávida. Eu lhe disse que se fosse menina, poderíamos chamá-la Josefina. Ela me disse que não suportava a idéia. Eu lhe disse que ela é que me havia dado a idéia, que agora, não suportava. Ela me respondeu que eu era um filho da puta que queria fazê-la viver para criar filhos. Sem saber o que lhe responder, disse: eu não estou grávido. E então ela me disse: Ah!, menos mal.

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1

Não é bom esperar que as coisas venham do céu, não é bom esperar que outro faça por mim o que nem sequer eu sou capaz de fazer.

2

A verdade da carne, a maior verdade da carne foi o maior ocultamento do século XX.

3

Às vezes a loucura é, simplesmente, o exagero de um mecanismo psíquico normal.

4

Deixemos que o horror nos corroa e logo, com o tempo, começaremos as conversações.

5

Toda relação com o monstro se faz impossível. Uma vez saciada sua voracidade, o monstro se torna, ainda, mais voraz. É nesta encruzilhada onde deveremos matar o monstro.

Que laços sutis os laços da morte! Quase tecida no amor, assim, quase tecida na ilusão de ser.

O acontecimento da cultura em alguém deve ser tolerado como os riscos de um batismo de sangue. A batalha começa a ser a própria vida e luta contra a soma de propriedades que, articuladas, te matam.

Envolto nas esferas luminosas da aurora recordo minha infância e penso, simplesmente, que se realizaram todos meus sonhos.

Desta vez não quero ter nenhuma complicação, nem com o sexo, nem com o dinheiro.

Sexo, só onde não há dinheiro. Dinheiro, só onde há trabalho.

Se posso com esta pequena fórmula de terror, poderei, também, algum dia, escrever uma história.

Índio Gris


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Óleos"

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de 8 à 17 de março de 2002

Inauguração: Sexta-feira 8 de março às 19h

Encerra: Domingo, 17 de março às 14h

Sala Manolo Revilla
(Mutual complutense)
(C/ Nova nº 10. Alcalá de Henares)

Horários:
De Segunda à Sábado das 19 às 21h
Domingo, das 12 às 14h 


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