Revista semanal pela Internet Índio Gris
Nº 91. ANO 2001 QUINTA-FEIRA 21 DE
FEVEREIRO

 

UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2002

NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
CASTELHANO, FRANCÊS, INGLÊS, ALEMÃO
ÁRABE, PORTUGUÊS, ITALIANO E CATALÃO

La danza Interminable

ÍNDIO GRIS É PRODUTO
DE UMA FUSÃO
O BRILHO DO GRIS
E
O ÍNDIO DO JARAMA
A FUSÃO COM MAIS FUTURO DO SÉCULO
XXI

Índio Gris


ÍNDIO GRIS Nº 91

ANO II

EDITORIAL

ENTREVISTA AO POETA MIGUEL OSCAR MENASSA

Domingo, 17 de fevereiro de 2002

Carmen Salamanca: No primeiro livro “Pequena História” em quase todos os poemas aparece a palavra rua e a palavra rapariga. Já tinhas falado da influência do bairro nessa época, mas, o que mais nos podes contar?

Miguel Oscar Menassa: Pelo modo de me perguntares essas coisas, é como se quisesses saber anedotas sexuais de minha adolescência.

CS: Bom, também.

MOM: Como também? Estás me perguntando essas coisas, agora vais me acusar de que estou querendo falar de sexo justo para ti, quem necessito aí trabalhando.

CS: É aos leitores de Índio Gris a quem tens que contar isso.

MOM: O que havias me perguntado?

CS: Alguma anedota sexual dessa época de sua juventude, 1961 “Pequena História”.

MOM: Em 1961... sexual de 1961... Não havia sexualidade nessa época, ou sim? De que século é isso? Quando publiquei “Pequena História” tinha 21 anos, cursava (como se dizia em meu bairro) o serviço militar e como eu naquela época tinha um pouquinho de má sorte, tive que fazer a marinha que eram dois anos. Ia com o traje de marinheiro, para aproveitar tempo, à faculdade, ao bar dos estudantes, estava na rua Córdoba. Com o traje de marinheiro tinha um sucesso rotundo com as mulheres,. Viram como as moças são fantasiosas? Se imaginavam viajando comigo em um cruzeiro e eu algo lhes mentia, eu cada vez que as via lhes dizia: “amanhã parto”, para que pusessem algum entusiasmo. Um sucesso total, não tinha que fazer nada, olhe agora o que me fazes fazer para...

CS: Naquela época, com o traje, era suficiente.

MOM: Sim, com a maneira de parar e o traje de marinheiro.

CS: Me pareces pouco fluido hoje.

MOM: É que senti que me perguntavas como um periodista comum. Senti que acreditavas que os leitores do Índio Gris são leitores que necessitam de uma certa cota de sensacionalismo. Que igual tens razão, eu não conheço muito as pessoas. Como passo escrevendo todo o dia...

As moças aquelas eram bárbaras porque me amavam mesmo não sabendo que eu era escritor. Agora, por exemplo, quando uma mulher me olha nos olhos, eu sinto que está lendo algumas páginas de algum de meus livros, jamais que está me olhando aos olhos, com o qual se torna muito mais complicado o amor. Ela duvida que eu só quero que me console e eu duvido que ela entenda a quem está consolando, então assim perdemos muito tempo.

O que recordo dessa época é que tinha amigas mulheres, isso sim me lembro, isto é, que era capaz de sustentar uma relação com uma mulher, sem necessidade de me deitar com ela, mas é certo que isso se compensava deitando-me com outras mulheres, não sei se se diz assim. Mas eu podia, eu podia ter uma mulher como amiga sem que houvesse mediação de outra coisa entre nós. Bom, sendo essa a relação sexual, tampouco vamos ser tão brutos. E eu desde pequeno sempre as mantinha. Como eu tinha culpa com as meninas porque não tinha querido estar em sua escola, havia fugido da escola de mulheres, então fiquei meio tocado.

Eu estarei parco de palavras, mas estás sonolenta hoje, não reages, nas entrevistas anteriores reagias.

CS: Sim, mas já sabes que não há dois sem três e a terceira conquista e então tudo é mais difícil. Estava pensando que quando disse: “eu podia ter amizade com as mulheres” é como se dissesse que é algo que aos homens em geral custa.

MOM: Em geral é muito difícil a amizade entre um homem e uma mulher.

CS: Por quê?

MOM: Porque tanto o homem como a mulher são ciumentos, mesmo dos amigos. O homem amigo da mulher deixa que tenha namorados e amantes além dele, mas se lhe agradam. Entende o que te digo? E as moças o mesmo, se tens uma amiga e não agrada a ela a moça que escolheste, cagaste, não te deixa ter a relação, ela te estropia de alguma maneira. Ou seja, que somos muito primitivos, alguém nos dá um beijo e em lugar de agradecer-lhe sentimos que nos pertence. A nena nos dá um beijinho e, meia hora depois, beija outro e lhe quebro a cara. Somos muito primitivos. Quando na realidade eu teria que agradecer à senhorita e a senhorita teria que me agradecer que, aproveitando esse estar aí sós ou com pessoas, mas aí sós...

Temos critérios estranhos. Há mulheres casadas que fazem cenas de ciúmes permanentes todos os dias, uma ou duas, para seus amantes como se isso que estivesse permitido para ela só estivesse permitido para ela, uma questão com a lei, como se pudesse haver uma lei para ela só. O que muitas mulheres pretendem, não digo que todas, e alguns homens também, que haja uma lei, mas só para eles, claro está que é muito complexo.

CS: Isso com as mulheres. E com os homens aí no serviço militar, com os superiores? Não nos contaste nenhuma anedota de quando estavas servindo. Te deste conta de com que sutil maneira cortei a reflexão?

MOM: Sim, sobre a mulher. Não quis, não quis seguir. Eu fui un independentista, poderíamos dizer, como se a mulher fosse um território, eu sempre quis liberar esse território. Não tenho uma anedota senão um fato histórico, mas não sei se conto porque me dá um pouco de vergonha.

Por exemplo, se diz que eu me exilei pela ditadura militar argentina, se diz isso, ou não? Ou, o que se diz de mim? Sim, se diz isso. Bom, na realidade eu me exilei pela psicoanálise. Era a psicoanálise a que necessitava que houvesse psicoanalistas na Espanha, não eu ou os espanhóis. Os espanhóis, pela maneira de resistir, não era de seu interesse que houvesse psicoanálise e eu queria minha mamãe. Mas para a psicoanálise todas essas coisas lhe importam um caralho, em seu desenvolvimento necessitava analistas. Esteve Mimí Langer na Nicarágua, no México não havia psicoanálise, e na Espanha era fundamental que houvesse psicoanálise porque era uma língua que ganhava a psicoanálise, 350 milhões de falantes. Então me exilei por isso, mas também me exilei porque quando eu quis que entrassem mulheres no Grupo Cero, os outros integrantes do Grupo Cero se negaram a isso, se negaram de uma maneira muito rotunda, o movimento já era muito grande, na realidade já havia mais mulheres do que homens. Digo isto porque na primeira reunião do Grupo que se fez em Madrid, estava eu e o resto eram todas mulheres. E creio que essa proporção segue existindo hoje em dia.

CS: E, por que crês que é?

MOM: Bom, não só no Grupo, nesta disciplina e na poesia também. Eu vejo aí o verdadeiro submetimento da mulher, porque quando havia mais homens poetas, por dizê-lo de alguma maneira, era correta sua posição na cultura, mas atualmente não é assim. Na psicoanálise claramente e na poesia também, se entende o que digo? Que além disso a mulher está claramente com outra intenção na poesia, porque ela quer fazer sua revolução, o homem supõe que a fez, o homem fez duas revoluções e fracassou nas duas. Fracassou a revolução cristã, fracassou a idéia capitalista do conforto, que levavam adiante os países escandinavos: Suécia, Holanda. Fracassou o marxismo, como bem demonstrou Rússia e Cuba também. E fracassou a idéia de conforto capitalista, já não há mais conforto nem para aqueles aos quais lhes sobra o dinheiro. Bom, e depois do bombardeio “inocente” às Torres Gêmeas nos Estados Unidos, evidentemente ninguém vive confortavelmente no mundo que fizeram, ninguém vive confortavelmente. Que vamos fazer!

Por isso que a idéia de grupo cobra tanta força no século passado, mas no fim do século cobra força porque é possível pensar, é mais fácil revolucionar um grupo. Não é que seja mais fácil, a única maneira de revolucionar algo é revolucionar um grupo, não existe outra maneira, ou seja, um grupo, uns sujeitos. A única maneira de solucionar os problemas de distribuição é de forma grupal.

CS: De distribuição? É o problema do capitalismo.

MOM: É o problema do capitalismo atual, se resolvesse isso teríamos capitalismo para oitenta mil anos. Entre o que  apodrece e o que não têm os que não têm, haveria um equilíbrio perfeito que o capitalismo não pode tolerar, no entanto não o faz. Porque a grandes níveis, ainda que vocês creiam que é uma questão no nível do dinheiro, nunca é uma questão de dinheiro, nem sequer a crise argentina é uma questão de dinheiro. Viu que falta dinheiro? Mas é uma crise política. É muito difícil nestes tempos que um país industrializado tenha uma crise econômica. Não é que falte a mercadoria senão que fracassa na distribuição e o fracasso na distribuição é político, sempre, em todos os casos. Porque não é que uns tenham mais e outros tenham menos, é que para que uns tenham mais, a metade do planeta fica sem nada. Já sei, se eu trabalho com ela e tenho mais força que ela, levanto mais ladrilhos que ela, o que vamos fazer com ela, vão me pagar mais do que a ti. Ainda que já lhes tenha explicado no outro dia a idéia de Che Guevara quando, sendo ministro da indústria foi obrigado a aceitar as normas do trabalho estimulado porque Rússia havia entrado no trabalho estimulado. A Rússia já era capitalista naquela época, e isso era o que dizia Che Guevara, que era uma medida muito capitalista, que não se podia propor em Cuba. Então, como Fidel Castro estava inflamado com a Rússia porque lhe mandavam comida e lhe mandavam dinheiro, não disse que não, não pôde dizer que não. Che Guevara, então pensou, pensou, pensou, e disse: “está bem, trabalho estimulado, mas lhes pagaremos com coisas inúteis”. Ao que vive na montanha um carro que não possa usar, deixa no jardim, presentes inúteis, presentes que não poderiam ser contados como dinheiro, era uma mostra, terias trabalhado mais e então teria uma mostra no jardim de sua casa.

CS: Como se mudasse o valor de uso.

MOM: Falsamente é mais revolucionário. Por um lado era revolucionário porque queria dizer para Fidel Castro que sem a industralização de Cuba não havia revolução e Castro pensava que o trabalho da industralização iria impedir os processos revolucionários, que era mais fácil se nutrir com a Rússia, que naquele momento era mais poderosa e nutria, realmente nutria. Nessa discussão é quando Che Guevara vai à Angola, sai do Ministério de Indústria com um fracasso total, porque não lhe deixaram fazer o que queria, que era industrializar todo o país, que deixassem de ser camponeses e que se transformassem em proletariado. E aí, vá saber se não tinha razão Mao Tse Tung quando dizia que depois da contradição burguesia-proletariado, gerava-se uma nova contradição que era proletariado rural-proletariado urbano, vá saber se isso não pesou no fracasso cubano.

Público: Mas, pode haver capitalismo sem desequilíbrio? Pode haver distribuição total? Não se necessita que haja esse desequilíbrio?

MOM: És capitalista como eu, por isso que começas a frase dizendo: pode haver capitalismo sem desigualdade? Eu não disse isso, eu disse que podia haver capitalismo sem que morra de fome a metade do mundo, eu não disse sem desigualdade, foste tu quem sentiste sem desigualdade. Se és dono da fábrica, dono da empresa, dono do mundo, sentes que eu quero te igualar ao mendigo ao qual dás moedas pela manhã, eu não quis fazer isso. Eu disse que pode haver um capitalismo que não mate de fome a metade da humanidade, de fome e de enfermidades, isso disse.

Ao me perguntares, já me fazes contestar, fazes com que me retrate de tudo o que disse quando na realidade eu não havia dito isso.

Público: Igual é a ilusão do capitalismo que ao querer igualar se esquece de que seu problema é a distribuição, não que distribuir igual para todos, que chegue a todos, não igual enquanto é singular a maneira de tomá-lo.

MOM: Te explico um caso candente? As empresas norte-americanas exploram o proletariado argentino e os benefícios são menores do que os das empresas espanholas . As tarifas telefônicas são mais caras em Buenos Aires do que na Espanha. Repsol tirava o petróleo sem pagar o imposto de exportação, bom, isso numa empresa norte-americana não acontece. Apesar do que tu crês, o capitalismo norte-americano é menos selvagem do que o capitalismo espanhol.

Há políticas sociais que implementam alguns países, que não alcançam a toda a população, mas, claro, se antes morria 50%, agora morre 20%, há política de sanidade e educativa sem tocar nada do capitalismo. Utilizar a psicoanálise para que os professores não sejam uns filhos da puta e sejam mais professores não é atentar contra o capitalismo, ao contrário, é uma ciência surgida no capitalismo como ciência quase médica, porque o psicoanalista, para separar a psicoanálise da medicina, tem que fazer um esforço.

E no entanto, isso aumentaria a produção, e o operário trabalharia melhor. Que vale a pena lutar, o fato de que haja capitalismo para mil anos não quer dizer que não se possa lutar por uma vida melhor. Muito pelo contrário, mudou o modo de luta, mudou o modo de pensar a luta porque o comunismo, implementado como se implementou como capitalismo de estado, não funcionou. O marxismo, como o coloca Marx, isso não conhecemos, conhecemos o marxismo tomado pelos partidos comunistas que, ao instalá-lo, o instalam como capitalismo de estado.

Todos os médicos vivem como vivem e todos os médicos vivem apurados porque lhes pagam pouco, mas quando alguém vai ao hospital (eu, uma ou duas vezes fui ao hospital), se dá conta que estão todos os médicos na mesma situação, a todos os médicos pagam o mesmo, a todos exploram assim, mas há médicos que podes te dar conta que se dedicam pela medicina, não pelo salário. Há médicos que se dedicam pelo salário, bom, que não te agarre um destes porque te mata, te mata por qualquer coisa. Não é que o médico não conheça a medicação, a medicação pode ser equívoca até burocraticamente, diagnostica bem a enfermidade e quando receita o medicamento tem um atrelamento e receita outra coisa.

É fácil de dar-se conta de que há problema na distribuição, porque há comida que apodrece, há instalações que vêm abaixo, que não se utilizam, porque há alguns países que não tem máquinas e há outros países que não as podem utilizar. E depois, a produção, Espanha produz cem kilos de batatas, segundo o acordo que tem com a União Européia, mas que não são cem, que são como oitenta mil, um milhão de kilos, uma barbaridade. Então, como o pacto que temos com a União Européia é que temos de produzir só a metade, botamos fora milhares e milhares de kilos de batatas. Vêem que temos um problema na distribuição? Quando há gente que com uma batatinha viveria um ou dois dias mais.

CS: Me surprendeu inteirar-me que este ano ocorreu uma colheita de azeite excelente, estão produzindo mais do que permite a CEE e vão pagar a multa porque lhes compensa, não vão colocá-la no lixo desta vez, lhes compensa, lhes sai mais barato.

MOM: Bom, mas isso é uma manobra... Eu digo todas as vezes que o tiveram que colocar fora porque não o repartiram, não quiseram repartir.

CS: Estava pensando como se relaciona este tema da produção com a escritura. As leis de produção capitalista têm algo a ver com a escritura, como produto, como objeto comercial?

MOM: Bom, Marx também se fez esta pergunta, não é uma pergunta estúpida, porque estavas a ponto de dizer que era uma pergunta estúpida.

A escritura, é muito interessante isto que perguntas, está além dos modos de produção. Marx se pergunta e tem que responder, tem que responder em um pé de página de O Capital, onde ele põe, com muita clareza, que a teoria do valor não serve para a arte nem para o amor. Por isso que eu sempre digo que Freud solucionou as coisas do amor muito bem e que o Grupo Cero vai ter que solucionar as coisas da arte e não sei se o está fazendo muito bem. Eram investigadores muito sérios, porque isso é ter seriedade como investigador: descubro uma coisa, me dou conta do que é e além disso limito o campo. Como vai servir o modo de produção para poder pensar uma estátua que fizeram no ano de 1500 antes de Cristo e que, todavia gosto? Vês que não posso? Assim simples Marx respondeu. Que, às vezes, pelas coisas que dizem dos autores, parece que os autores não leram nada, como se eu dissesse isto desde a barriga ou do coração, quando na realidade são livros, está nos livros.

O sexo também está além dos modos de produção, por isso que Menassa, no trabalho sobre vida cotidiana e psicoanálise, se pergunta se a psicoanálise é uma nova ciência do sujeito ou é um corte surpreendente numa teoria do sujeito que, ao nascer, nasceu com o marxismo, no entanto Marx delineia o sujeito social, mas é Freud quem demonstra em Psicologia das massas e análise do eu que não há diferença entre o social e o psíquico, que o sujeito psíquico é sujeito social e senão, não é psíquico.

Eu conheci de tudo, conheci revolucionários hipocondríacos, coisa que é absolutamente impossível ser revolucionário se és hipocondríaco, porque o enfermo psicossomático não pode pensar o futuro. Como vou fazer a revolução se não posso pensar a semana seguinte quando tenho que pensar vinte anos ou trinta? Não houve revolução neste século, e assim como não houve revolução neste século, para manter a enfermidade, o catedrático da universidade segue proibindo a psicoanálise, para não perder seu lugar, o periodista para seguir conservando seu lugar tira sua namorada da análise. A pergunta que me teriam que fazer agora seria:

A psicoanálise então move as pessoas de seu lugar? Tenho que lhe responder que sim, por isso é que se necessita do desejo afirmativo do paciente, senão, não se pode fazer psicoanálise. Quando alguém enferma de tuberculose e não quer tomar os medicamentos (em Londres o fizeram), a polícia ia buscar o tuberculoso em casa e lhe aplicava os medicamentos e os pacientes se curavam, apesar de ter tomado o medicamento à força, curavam a enfermidade. Ao contrário, a psicoanálise não posso te dar à força, ou melhor, tu à força me tens que fazer trabalhar como psicoanalista Por que te digo isso? Porque se não me pagas, não posso trabalhar como psicoanalista à força. Pagando-me me silencias, silencias meu sujeito psíquico para que eu possa ser psicoanalista, se não pagas fala meu sujeito psíquico, fala minha história, falam meus preconceitos, falam minhas correntes de opinião. Quando me pagas me submetes, me obrigas a que eu trabalhe como psicoanalista, o que não se pode é obligar ao paciente a ser paciente.

O capitalismo te permite ser o quanto independente queiras se és capaz de te subvencionar. Eu, às vezes, digo que são tão religiosos como os muçulmanos, os muçulmanos te permitem ter muitas mulheres se as podes manter. No capitalismo é o mesmo, te permitem ter todos os vícios que queiras se os podes pagar; aí onde não te possas pagar um só vício, aí começa, te revisam os impostos, te revisam a vida privada, terminas na cadeia. É um sistema tão fechado em si mesmo que não se pode fazer dentro do sistema a vida dos sujeitos, não está preparada a vida dos sujeitos para o capitalismo. O capitalismo não pensa o ócio do homem, pensa o ócio do proletariado.

CS: Do trabalhador, claro.

MOM: Pensam que o ócio que tem ter um limite porque o trabalhador tem que voltar a trabalhar na segunda-feira, não é um ócio onde tu não trabalhes 10 dias e depois trabalhas intensamente 25, não é assim, é um ócio tal que tem que ter uma duração. É um ócio muito reduzido, é para voltar a trabalhar, bêbados de fim-de-semana, drogaditos de fim-de-semana, bailarinas de fim-de-semana, navegantes de fim-de-semana, caçadores de fim-de-semana...

CS: Te permitem se voltas a trabalhar, senão, perguntam o que fazes nos finais de semana. Estava pensando com isso da escritura e o marxismo, que para escrever há que se considerar matéria prima. E se “a matéria prima é a própria vida do sujeito”, se a folha em branco é a própria vida do sujeito, melhor, mas matéria prima no sentido de que tem que ser transformada para se produzir.

MOM: Mas é mais que isso, no sentido de que isso se diz ao poeta para que não lhe ocorra escrever de sua vida. Ou quando escreve de sua vida se crê que está escrevendo de sua vida? Aí está o assunto, porque o assunto é que sua vida é matéria prima. Em que sentido? No sentido de que quando levas sua vida à escritura, o relato de sua vida, já é o relato, não é sua vida, é o relato, não é o sonho. A vida levada ao papel tem que padecer os efeitos que a escritura faz sobre o relato, então aí já não é tua vida, aí é a escritura.

Público: Cada eu tem que estudar a quem corresponde esse eu, não pensar que é do escritor.

CS: Ontem falávamos de conto e novela, aqui Goethe diz: Conto: o que nos apresenta acontecimentos impossíveis como possíveis sob condições possíveis ou impossíveis. Novela: o que nos apresenta acontecimentos possíveis como reais sob condições impossíveis ou quase impossíveis. É como se Goethe levasse, nos aforismos, certas idéias ao limite.

MOM: Há verdade no que dizes, no sentido de que antes das ciências, a poesia era a que nomeava as coisas que depois a ciência ia demonstrar, que não é precisamente o poeta em si mesmo, senão que é o poeta entregue à poesia. A poesia está acostumada a nomear para o homem aquilo que o homem todavia não descobriu, todavia não inventou.

Público: Entra dentro da teoria, Goethe apoia o pensamento que o Grupo Cero tem sobre a produção e a criação.

CS: Bom, havíamos começado no serviço militar, logo acima fomos marxismo, estamos às voltas com a escritura...

MOM: Sabes por que houve uma quebra no conto e eu não podia seguir? Porque aí, nessa idade eu me caso e vou à Itália, abandono tudo e vou fazer uma vida na Itália.

CS: O relato foi interrompido porque aquilo também foi uma interrupção?

MOM: Pode ser visto assim.

CS: Por quê? É um corte o da Itália?

MOM: Porque não fiquei. Se eu não lhe conto exatamente a história, qualquer um diria: “olha, Menassa, o quanto gostava de viajar quando era jovem, a escritura o levava de um lado para outro”. Mas eu me havia exilado nessa época, por isso que não extranhei ter que me exilar depois.

CS: Havias te exilado?

MOM: Sim, porque eu pensava Itália como que para viver na Itália, o que acontece é que não funcionou.

CS: Por quê Itália?

MOM: Porque nesta época gostava mais dos poetas italianos do que de outro tipo de poetas. Estava muito apaixonado de Cesare Pavese, pelo motivo de que havia se suicidado, antes disso ele escreve as coisas que lhe levaram a se suicidar. Mas eu confiava em minha psicoanálise e em ti.

CS: Como?

MOM: Reagiu. O homem é assim, só reage quando a mãe o chama, o resto do tempo...

CS: Goethe disse, “O homem só escuta o que compreende”. E, o que é que compreende o homem?

MOM: O que compreende é o beijo que lhe dá a mãe, mamãe me beijou e então aí alguém compreende algo.

CS: Bom, então pensava em mim e não ficou na Itália por isso.

MOM: Sim, porque teria sido difícil encontrá-la.

CS: Sim, bom, não se sabe. Como era, creio que esteve no partido comunista na Itália?

MOM: Eu ia comer na casa do estudante de Milão, porque era barato, foi uma época gloriosa porque demonstrei que se pode viver sem dinheiro, mas pouco tempo, andar sem dinheiro era mentira porque eu trabalhava. Os italianos, em parte, jogam mais do que os espanhóis, assim que imagine, pelo menos naquela época, que foi o século passado, então eu vivia... Sabe que me dão um pouco de vergonha estas coisas? Todavia não terminei minha psicoanálise, que genial, então posso seguir. Imagino que as escolas de psicoanálise terminam quando o diretor das escolas diz “eu já me analisei”, quando o cara deixa de crer no inconsciente, quer deixar de pagar por ser diretor porque diz “se sou o diretor, por que vou pagar?” E aí se rompe a escola porque ficam sem psicoanálise, sem psicoanalista.

Eu vivia, tenho que dizê-lo assim porque era assim...

CS: Não se gravou isso que disseste, queres repetir ou o esquecemos?

MOM: Não sei se o esquecemos, não vais me fazer contar 40 vezes as coisas e além disso já te disse no outro dia, na entrevista, que és voyerista, mas não de todo. Tu tens que ser voyerista de todo, tens que gostar de investigar tudo, qualquer coisa.

CS: Bem, eu também estou analisando meu voyerismo parcial. Bom, siga com o que queira, vejamos o que queres, que posso vê-lo todo.

MOM: Muito bem. Eram épocas bárbaras, aí é onde conheci Musati, que era o Presidente da Sociedade Psicoanalítica Italiana e foi uma graça, recém estava ele traduzindo Freud, em 61, ao contrário em castelhano se editou a primeira edição em 48. E, grupos, tinha medo de fazer porque as pessoas enlouqueciam, dizia Musati. Depois se tornou famoso, escreveu livros. Tornar-se famoso é fácil.

CS: Musati, vivias de jogar bilhar...

MOM: E depois conheci o grupo 64, que eram Umberto Eco, Ferrara, Sanguineti. Sanguineti é um tipo interessante que fizeram desaparecer. Eco era o mais débil no pensamento, o capitalismo faz essas coisas. Sanguineti era forte e vocês não conhecem a Sanguineti, a Eco sim. É assim, com Neruda fizeram o mesmo, a Neruda todo mundo conhece, mas a Germán Pardo García ninguém conhece e é quatro ou cinco vezes superior, não uma. Por isso que o Grupo Cero criou seus próprios meios de difusão e distribui todos os meses 250.000 revistas. Vocês, o que acontece é que criticam o sistema e não se dão conta que a crítica implica vossa inveja por não poder utilizar esse instrumento.

Não vês que no sábado passado tivemos uma discussão forte sobre isso? Nós demos três prêmios, os dois prêmios anteriores a um montão de pessoas que não tinham nada a ver conosco, o terceiro deixamos que a nossa gente se apresentasse, de forma que no ano que vem há duas pessoas que estão capacitadas para se apresentar por ordem ministerial: Carmen Salamanca e Alejandra Menassa. Claro, porque ganhariam o concurso, se são das escritoras que melhor escrevem do mundo, não em Madrid. Elas tinham isso proibido porque como elas lêem, como me ajudam a ler os livros, estavam proibidas, agora não lêem mais os livros e podem se apresentar, e então resulta que no sábado tivemos uma discussão porque nós sempre premiamos as pessoas do grupo, que as pessoas podem pensar que fazemos o concurso para as pessoas do grupo. Por que está mal isso? Se é o que faz o capitalismo para nos governar.

CS: É o que faz Prisa.

MOM: No outro dia quase mando uma carta a Polanco, de parabéns. Se lembram que lhe mandei uma carta o insultando? Mas no outro dia gostei porque disse: “O governo não se dá conta de que o grupo Prisa é muito importante para a cultura e para o povo espanhol”. Tanto, que parecia que se propunha como candidato.

CS: Prisa, o grupo do País, Tele 5, Canal Satélite Digital, e várias rádios.

MOM: É um grupo muito forte.

CS: E grupo editorial. Agora se meteram na Internet com a Universidade e fizeram um contrato.

MOM: Têm escola de periodismo. Têm muito respeito pelo Grupo Cero. Por exemplo, quando se trata da poesia eles tem dúvidas porque tem muitos poetas nos sarcófagos, que tem que revelar. Além disso, são pretenciosos porque não o fazem com todos.

Há que ser dependente, eu o entendo. O assunto está assim, ou dependo de Prisa ou dependo do Grupo Cero, bom para mim me agrada depender do Grupo Cero. Por isso que cago em Prisa, lhes disse que eu era um cantor sem dono quando estavam dispostos a me comprar, não vão acreditar que lhes disse que era um cantor sem dono e não queriam me comprar. Claro, porque vocês são capazes de não ter dono e logo resulta que ninguém lhes quer comprar.

E depois, por exemplo, o discurso do Grupo Cero é um discurso interessante, um discurso que tem alternativas, nenhum discurso tem alternativas, observa na globalização. Os que estão contrários lhe opõe a globalização honesta, ou algo assim, que não há pensamento. O Grupo Cero tem pensamentos, arrisca ideologias de vida, te recomenda uma sexualidade mais amável no sentido de que te faz extensa a sexualidade, a retira do corpo, a põe no mundo e no mundo está teu corpo. Ao contrário, se estás todo o dia em teu corpo, perdes o mundo como na família. Para te ocupar da família tens que te entregar ao mundo e no mundo está tua família, ao contrário se te entregas a tua família, ficas sem mundo, porque na família não está o mundo. O Grupo Cero pensa coisas muito interessantes, mas claro, por enquanto só as pensa e alguns ousados tratam de aplicar alguns de seus conhecimentos à vida.

Por exemplo, trabalhar, trabalha todo mundo, a única diferença do Grupo Cero é que te diz que trabalhando podes adquirir, juntando-te a outros, o poder dos poderosos, não é que se tu vais à escola de engenheiros ou à escola de Porto Alegre não terás que trabalhar, e além disso terás que trabalhar mais porque não te permitem as coisas que te permite o Grupo Cero, porque ama a psicoanálise. Senão, como explicas isso?

Com a teoria de que se escreves coisas estranhas és estranho, iríamos todos presos, não vamos presos porque não temos essa teoria. Presos de nós mesmos, se entende, quem nos prenderá se pagamos os impostos?

CS: E queres agregar algo mais ou terminamos por hoje?

MOM: Se querem perguntar algo em especial...

CS: Já o perguntamos, se queres agregar algo mais.

MOM: Não te faça de idiota, isso não é uma pergunta.

CS: Como que não, me respondeste e tudo!

MOM: Que terá que preparar melhor as entrevistas, e se não pode, fale com seus amigos, que algo lhe vão recomendar, tem que trazer as perguntas escritas.

CS: Sim, tenho teorias e planos com respeito a isto.

MOM: E o que aconteceu, não queres denunciar seus planos?

CS: No próximo dia.

POESIA, POESIA, POESIA, POESIA

A arte de viver,
deve ser imposta, também,
aos processos revolucionários?

Uma causa, um ideal, são possíveis,
todavia para o homem?

E a solidão com que tem a ver,
com o sexo, com o dinheiro ou com a história?

CARTAS DE AMOR

QUERIDA:

Espero, tranqüilamente, que com os anos a acumulação de tensões reprimidas me mate. Antes disso, todavia, tentarei esparramar essas tensões por qualquer lugar. Aprendi vários modos de repartir energia pelo mundo.

Com o tempo alguém o dirá claramente e até os estúpidos se darão conta do que se trata: Quando te vejo passar indiferente de amor isso, também, me agrada. Nada é estranho ao meu pensamento, pomba. Sou o pensamento da linguagem, tudo cabe em mim, ainda que ninguém o possa comprovar senão na loucura.

Me agrada esta vida que me vem em cima. E te digo para que o saibas, chegarei ao que se chamará minha velhice, jovem e com dinheiro. Isso já está, espero agora escrever algum verso.

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- Doutor, hoje me dei conta sozinha, em lugar de estar contente e agradecida por um regalo que me fizeram, estive queixando-me todo o dia como uma velha estúpida, igual a minha mãe.

- Continuamos na próxima.

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EROTISMO OU PORNOGRAFIA?

Notei em sua forma de chorar que não pedia nada. Pensei que em seu pranto só expressava as ganas de chorar.

- És um sádico -me disse, quando terminou de chorar-. Gostas de me ver chorar.

Hoje ela tentou me chupar até o final. Não a deixei; a virei com uma violência medida e fudemos “a la piculina”. Quando acabamos, ela me disse, amor, amor. Me tremeram as pernas, mas igual alcancei a olhá-la lascivamente e beijei seus lábios.

               Você, o que opina?

Pornografia   ou   Erotismo

Até o dia de hoje, votaram:

Pornografia: 115.000         Erotismo: 200.000

 

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TRATAMENTO DE CASAIS

GRUPO DE LITERATURA ERÓTICA

Miguel Martínez Fondón
Psicoanalista

Coordenador: 
Miguel Oscar Menassa

Pedir hora: 91 682 18 95
GETAFE (MADRID)

91 758 19 40  (MADRID)

 

1

Governar não deveria se basear em nenhuma outra coisa a não ser na construção de um conhecimento.

2

Uma mudança de política não quer dizer, exatamente, uma mudança de ideologia.

Todos estão gritando menos eu. Sou um pouco estranho, não cabe nenhuma dúvida. Com o tempo, se persisto, serei rei de algo. Ninguém esquece, facilmente, a um homem que viveu sua vida para outros.

Chegado a certo nível de conhecimento, a interlocução não serve para nada. O que nos resta por conhecer será nossa única interlocução.

Depois virão, outra vez, os tempos das conversações com aqueles que foram capazes de chegar até aqui.

Uma página em branco e um desejo, às vezes, podem mais que mil pessoas todas juntas.

Internando-me pelo caminho de minha própria morte conseguirei rejuvenescer. Quem não entenda, morrerá como um cachorro ou como um porco, segundo sua própria moral animal.

Índio Gris


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PRANTOS DO EXÍLIO

Autor:
Miguel Oscar Menassa
75 pág.
18,30 EUROS, 3000 PTS. , US $30.
Contém treze lâminas com alguns dos melhores 
quadros da obra de Miguel Oscar Menassa.


Pelo Prêmio Pablo Menassa de Lucia 3ª Convocatória
queremos convidar-lhe ao RECITAL DE POESIA

A cargo de poetas do GRUPO CERO

 Quinta-feira, 21 de fevereiro de 2002 às 19.00 horas

  c/Duque de Osuna, 4 – Local  
28015 Madrid Telf.: 91 758 19 40  


"Exercício na clave do tempo
Óleos"

Stella Cino Núñez
de 8 à 17 de março de 2002

Inauguração: Sexta-feira 8 de março às 19h

Encerra: Domingo, 17 de março às 14h

Sala Manolo Revilla
(Mutual complutense)
(C/ Nova nº 10. Alcalá de Henares)

Horários:
De Segunda à Sábado das 19 às 21h
Domingo, das 12 às 14h 


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 Índio Gris