ÍNDIO GRIS
Revista semanal pela Internet
Nº 57. ANO 2001 QUINTA-FEIRA 28 DE JUNHO

 

UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2001

NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
CASTELHANO, FRANCÊS, INGLÊS, ALEMÃO
ÁRABE, PORTUGUÊS, ITALIANO E CATALÃO

ÍNDIO GRIS É PRODUTO
DE UMA FUSÃO
O BRILHO DO GRIS
E
O ÍNDIO DO JARAMA
A FUSÃO COM MAIS FUTURO DO SÉCULO
XXI

Índio Gris


ÍNDIO GRIS Nº 57

ANO II

EDITORIAL

Há coisas que não têm esperanças, são coisas como gelo diante do sol.

Sábado pela manhã de um caloroso final de Junho e estou embarcando em uma nova mudança. A escola de Psicoanálise e Poesia Grupo Cero se muda da rua Princesa 17, do terceiro andar, para dois locais na rua Duque de Osuna 4, ou seja, na rua Princesa, mas para a rua e com jardim. Percebem?

Eu poderei transformar os três escritórios que usava na Princesa 17 (consultório, sala de grupos e escritório) por três andares: Térreo com um pátio de 56 metros (lembro: rua Princesa a 30 metros de Plaza Espanha) para oficina de pintura. No primeiro andar funcionará meu consultório privado ( entre 30.000 e 40.000 pesetas o encontro), uma grande sala para o atendimento de grupos (umas 60.000 pesetas por mês e por integrante) e um escritório pequeno de nogueira e tapete verde para as entrevistas de assessoramento de empresas, indústrias e estudos semelhantes (umas 300.000 pesetas a intervenção) e a partir do mês de Agosto disporei de 32 paredes para pendurar meus quadros e se não sou de todo feliz é porque no mundo há coisas que não têm esperanças.

O Índio Gris conseguiu para todos os leitores, que visitem sua página e deixem algo escrito que ateste tê-lo feito, a possibilidade de cursar de maneira gratuita os três anos do Seminário Sigmund Freud onde participam psicoanalistas da Escola de Psicoanálise Grupo Cero. Para o próximo número espero encontrar e colocar a vossa disposição toda a informação. 

POESIA, POESIA, POESIA, POESIA

Mára Bellini recita

20 de novembro de 1981

Sabias que voltava? me esperavas?

Sangrante e taciturno, depois de mil fracassos
-quase sem esperanças de encontrar-te-
submergi por ir voando atrás de ti,
por pesados céus, infinita selva da loucura.

Não estás, mas te anunciam verdes desesperados.
Não estás, mas na selva tudo me fala de ti.

Uivos dos crânios não suportando o vento,
o furacão de versos, a tempestade de amor.
Pequenos corações arrastados por fortes correntezas,
pequenos corações lançados longe do coração.
Não estás, mas te nomeia o ruído dos pássaros.
Não estás, mas na selva tudo me fala de ti.

CARTAS DE AMOR

24 de março, 1977, Madrid

Atentemos contra o mais puro.

                                            Ponhamos em jogo a amizade.

24 de março de 1977, Madrid

Hoje amei teus amores.

Azulejos do terror, malvas da quietude,
tuas épocas de dor no baixo ventre,
vermes da noite,
milhões de vermes estalando para acalmar tua sede.

E te peço perdão por todos os excessos. São inevitáveis.

Quero cantar,
e me saem ruídos surdos,
notas selvagens,
fumaças encantadas.

Blasfêmias,
quero as mais puras blasfêmias para o amor.

Alta espiga de maio,
                              te segarei.
                                            Morrerei em teu pão.

29 de março de 1977, Madrid

Ter te dito que nossa conversa
terminava com meu último escrito,
me fez mal.

Não haverá final para o que recém começava.

Desta vez,
eu beijarei teus lábios.
Desta vez,
eu marcarei o ritmo da loucura.
E não esperes uma loucura tradicional.
Nada de escândalos.
Nada de atos na via pública.

Silêncio e noite perpétua para os amantes.

Silêncio e perfumes do silêncio para o ato final.
Que tudo seja corpo,
                                 cheiro e sangue.
Amadas beijando-se os cabelos.
Afogando os gritos de horror contra minha pele.
Amo, acima de tudo, os estremecimentos.
O estalo das cadeiras.

                                        O silêncio final.

Os dias se deitam sobre mim, me aplastam. Aquele radiante porvir, aquele radiante porvir está em minhas mãos, está em minhas mãos e, no entanto...

Ela hoje o disse de uma maneira comovente.

- Vim, assim como me vês, para morrer em teus braços. Venho malferida, trago a arte de amamentar destruído por paixões ambíguas. Confundi tudo doutor, desejo meus filhos, amo minha mãe e me psicoanalisei cinco anos, antes de vir a vê-lo, com uma mulher como eu mesma.

- E por que não se suicidou? -lhe disse secamente.

- Porque, quando estava pensando nisso, caiu em minhas mãos (imagino que do céu) um livro seu e ao lê-lo me nasceram novas esperanças e me disse: eu vou vê-lo e se não me salva a vida, pelo menos morrerei feliz. Viver 200 anos! como você disse em seus livros... que maravilha!

E doutor, vai me curar?

Eu estava um pouco assustado e lhe respondi com outra pergunta:

- De quê?

Ela empalideceu, deixou cair seus braços entre as pernas e se encurvou até quase tocar o chão com sua cabeça e desde esse poço, desde o mais baixo onde se podia chegar, com um fio de voz, me disse:

-Câncer... câncer... câncer... câncer...

Quando deixou de dizer, inspirei profundamente e, também, eu lhe disse:

- Se vens a ver-me por isso, só por isso, pode deitar-se no divã.

Já deitada no divã, enquanto acendia um cigarro, dizia que deveria deixar de fumar, e entre esplendorosas baforadas que saíam de sua boca, como de um vulcão em erupção, me perguntou lasciva:

- O que tenho que fazer agora?

- Ir-se e voltar amanhã para sua segunda sessão. Boa tarde.

Quando ela se foi, fiz quinze flexões das difíceis com os braços, abri todas as janelas e me sentei de novo na poltrona. E o primero que me ocorreu foi o seguinte: Se do cu provenho, irei parar numa cloaca. Quando fechava as janelas, pelo frio, pensei que não entendia bem o que estava ocorrendo.

Rapidamente me caí numa leitura de acontecimentos futuros e não me fazia muito bem ver-me trabalhando de Deus nos próximos anos.

CONSULTA GRUPO CERO

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Amelia Díez Cuesta
Psicoanalista

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Psicoanalista

Pedir hora:  91 402 61 93
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EROTISMO OU PORNOGRAFIA?

26 de outubro de 1976

A maioria das vezes eu a deixava fazer.

Ela sempre tinha idéias claras,
impossíveis de realidade.

Às vezes eu a empurrava em suas idéias
e ela corria pelo céu,
como se ao céu pudesse chegar em quatro passos.
Artista do impossível, depois de cada fracasso,
voltava muda e louca,
                              com os olhos abertos,
como se o céu estivesse agora conosco.

Pensar é um trabalho honroso, me dizia,
enquanto metia os dedos em seu nariz,
ou acariciava com suaves movimentos seu sexo,
evidenciando um notável cansaço.

Nesses casos eu lhe acariciava o rosto,
e deixava que meus lábios,
rozassem imperceptivelmente seus lábios
e tudo era agonia
                            e ela, chorava, ria
e apertava seu corpo contra meu corpo
e queria me comer.

                               Eu tomava distância
e lhe aplicava três ou quatro golpes de punho na cabeça.
Ela se tranqüilizava e me prometia docemente,
chupar em lugar de morder, e assim,
passávamos um momento agradável.

                                                Depois,
ela cuspia os restos de sêmen,
como se fossem restos de comida e adormecíamos.
Na manhã seguinte, ela se levantava com a convicção de
que seria necessário, para podermos ser mais felizes,
ganhar mais dinheiro.

Então passeia pela casa
e me explica como, para tudo,
faz falta dinheiro.

Pelas manhãs eu a escuto sem piscar.

Ela varre e deixa de varrer,
abre um livro e o fecha,
nervosa corre de um filho para outro,
sem saber o que fazer.
Me olha desafiante e diz algumas palavras de recriminação
e eu a mato.

Depois ela me prepara um suco de laranjas,
vamos caminhando juntos pelo pátio
e vamos fumando os dois um cigarro só,
para não gastar.
Ela se pendura em meu braço e de passada
sorrimos para as crianças
e enquanto eles, agora, jogam no pátio,
nos encerramos no banheiro e fazemos amor.

E quando fazemos amor ela me pergunta se a amo.
Ocupado em delicadas manobras
para poder penetrá-la pelo cu,
lhe peço que relaxe.
Ela, apertando os dentes,
volta a perguntar-me se a amo.
A instantes de ser parte de suas entranhas
me confesso seu
e ela se abre como uma castanha entre a neve
e deixa, nesse gesto incomparável,
que um oceano de sêmen enamorado
se mescle com sua merda.
E essa bondade só é possível em Deus
e, então, ela fica como que adormecida.
Aproveitando sua quietude momentânea,
saio para a rua desesperado para buscar
um pouco mais de dinheiro.
E volto à noite com nada ou com muito pouco,
e ela me espera, mas está cansada,
                                                        ou talvez,
um pouco triste porque agosto foi um mês quente
e suas amigas estavam na praia.
Me estremece sua cara de pomba perdida,
quero vê-la feliz e lhe pergunto:
Queres ir para a praia?

Claro, me diz,
como se a praia estivesse aqui na esquina
como meu céu, vês,
como minhas idéias impossíveis.
                                            Ah os homens, os homens,
e se recosta sobre a cama
e abre suas pernas como outrora se abria o mar.
Me deixo deslizar por essa pausa entre as ondas,
como fazem os grandes nadadores e agora,
seu silêncio é o mar.

Às vezes fazemos amor como uma mulher e um homem,
esses dias, depois, ficamos conversando.

               Você, o que opina?

Pornografia   ou   Erotismo

Até o dia de hoje, votaram:

Pornografia: 100         Erotismo: 2700

 

CONSULTA GRUPO CERO
TRATAMENTO DE CASAIS

GRUPO DE LITERATURA ERÓTICA

Miguel Martínez Fondón
Psicoanalista

Coordenador: Miguel Oscar Menassa

Pedir hora: 91 682 18 95
GETAFE (MADRID)

91 542 33 49  (MADRID)

 

EL PAÍS, sábado 18 de junho de 2001

As crianças de Babélia passaram. Há duas semanas tinha que defender os animais, na semana passada tinha que se deixar dominar pelas ditaduras provenientes da democracia norte-americana e esta semana, toca-te os pés, a Bíblia é o livro do Mundo. Eu penso que estes rapazes não duram uma semana mais em seus postos. Em todo caso mantenham seu lugar algumas semanas mais lhes aconselhamos com um exemplo. A Bíblia: Livro universal, com o qual se teria evitado, pelo menos em Madrid, que milhares de pessoas pensassem que o jornal o Mundo era a Bíblia para os periodistas de Babélia, revista de culturinha do jornal El País e seguimos sem querer falar do poema do sábado.

Hoje compreendi definitivamente, ainda que publicássemos os mesmos autores, publicaríamos poemas diferentes.

EL PAÍS, sábado 21 de junho de 2001

Há coisas que não tem esperanças, são coisas como gelo diante do sol

Um ladrão, cidadão moldavo, detido nove vezes mata um advogado e fere sua esposa e suas filhas

A Lei do Estrangeiro só serve para expulsar da Espanha 
os trabalhadores estrangeiros. 
Os assassinos não entram na Lei, podem ficar na Espanha.

MARCA, segunda-feira 25 de junho de 2001

 

"Haverá mudanças muito importantes, a Gil respeito mas minha parcela não se toca, Futre me conhece, terá seu lugar, Kiko merecia uma despedida mais digna". Era Luis.

  mas agora sou treinador do Atlético de Madrid.

 

9.VI. Buenos Aires/01

Para Miguel Oscar Menassa

Querido poeta e amigo:

Na noite de sexta-feira 8 de junho nos aconteceu algo fantástico que não posso te deixar de contar. Enriqueta tinha pouca vontade de ver televisão, eram 18h, e estava muito escuro em Buenos Aires, quando de repente me disse: “Vou ler as cartas a minha mulher” de Miguel Oscar Menassa. E assim foi. Ela leu em voz alta todas as páginas do livro sem deixar uma só palavra sem pronunciar, enquanto que eu fumava um cachimbo e ria a cada instante de tua sinceridade nessa feroz autobiografia, que em parte me lembrou a Anaïs Nin. A leitura durou 2 horas. Enriqueta parecia a Sara Bernhart quando recitava nos teatros de Paris e eu o General de Nerval ou a outro espécimen quando ia atrás de Jeny. Tinhamos esquecido de tudo. Só existiam teu livro e tuas confissões. Anaïs Nin e Juan-Jacobo Rousseau. O mundo havia desaparecido. 

Mas repentinamente surgiu algo assim como o azar objetivo dos surrealistas. Nas últimas páginas de tua obra falavas reiteradamente do nº 35. Das três últimas na roleta e do 35 como número final e ganhador. Foi então quando disse para Enriqueta: “Podemos descer (havia muito tempo) e jogar o 35 na loteria”. Ela foi do mesmo parecer mas nem eu, nem ela nos movemos, fascinados por teu livro. No dia seguinte saiu o 35 na cabeça. Perdemos, portanto, um acerto que anunciava teu livro, que, para mim, tão necessitado de dinheiro, me deixou nostálgico todo o dia. Esta, indiscutivelmente, é uma variante do azar objetivo que não nos foi favorável.

Teu 35 tinhas cantado tantas vezes em “Cartas a minha mulher” que não podia nos falhar. Mas o destino já está codificado e não podemos enganá-lo.

 

Te escrevo esta aventura para que te divirtas. Por outro lado Enriqueta não deixava de pensar em Olga, e enquanto lia interrompia para dizer “Olga e Miguel Oscar são dois tipos de sorte”.

 

Um abraço

Juan-Jacobo Bajarlía


Para Juan-Jacobo Bajarlía.

Estimado Mestre:

Você e sua encantadora esposa foram agraciados com o prêmio de U$200 que o Índio Gris havia instituído ao leitor que pela 1ª vez ao falar do livro Monólogo entre a vaca e o moribundo (que aconselhamos ler) mencionasse o Nº 35.

Este prêmio te será entregue em Buenos Aires por um de nossos belos contatos, Marcela Villavella, em menos de 15 dias.

Um forte abraço para você que quero que faças extensivo a tua mulher com a qual esperamos que compartilhes o prêmio por sua implicação.

Obrigado por existir.



Miguel Oscar Menassa

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