ÍNDIO GRIS Nº
409
ANO IX
O
CARNAVAL DOS
VELHOS GOZADORES
Governados por gorilas
que não foram à escola
cantamos para mostrar
que o mundo vai, vai.
Nos chamam Terceira idade
porque se passaram os anos
mas nós seguimos
cantando no carnaval.
E este ano viemos
para poder anunciar
que os velhos de setenta
já têm seu carnaval.
Vamos mover a bunda
vamos mover as tetas
como putas e travestis
que a tele nos apresenta.
Fazemos amor
e dançamos e cantamos
mas não nos esqueçamos
que o mundo nos trata mal.
Esta velha de setenta
que me abraça a cada tanto
é a namorada de um amigo
mas hoje dança comigo.
E meu amigo se entretém
com o cura Don Camilo
que dança como os deuses
e não tem compromissos.
E este pobre velhinho
quase morto em sua família
agora dança, canta e ri
e até transa com Marina
que tem sessenta anos
e mora na Andaluzia.
Depois se encontra com Pepe
que tem quase cem anos
e dom Pepe lhe aconselha:
Para chegar aos cem
há que mover-se e mover-se
e não perder o vaivém.
Fazendo amor, cantando
ou talvez tomando aquele trem
onde cantando e dançando
te ensinam a morrer bem.
E se tens
a morte assegurada
não terás culpa
nem dor, nem raiva
serás um cidadão
de classe alta,
porque tens em tuas mãos
a morte assegurada.
Com a morte
no bolso
falarás como um senhor
e terás sorte
nos dados
e, também, no amor.
E se alguém
te conta
falando baixinho
que da morte
mesma
estás apaixonado
tu lhe dirás que sim,
a todo mundo acontece.
Me enamoro da morte,
dizia o cigano,
assim poderei tê-la
durante todo dia
esfregando os pratos.
Mas a morte
há de vir
há de vir
ainda que a algaravia
ainda que o silêncio reine
há de vir, há de vir.
A morte há de vir,
em silêncio, singela.
A morte quieta,
a morte noturna,
tal qual uma mulher
se apaixonou por mim.
E dá-lhe que dá-lhe
me busca todo dia
e quando me encontra
me quer beijar
e eu lhe digo: Morte,
não sejas asquerosa,
que a morte não se encontra
com aquele que vai morrer.
Até a próxima.
Índio Gris