Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2007
NÃO SABEMOS FALAR MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
ÍNDIO GRIS
É PRODUTO O BRILHO DO GRIS
A FUSÃO COM MAIS FUTURO
ÍNDIO GRIS Nº 359
ASSIM FALOU ZARATUSTRITA EM 1978 HÁ TRÊS DÉCADAS, 30 ANOS
Querido: Giros de vento, ou melhor, rajadas de pequenos corpúsculos acerados para a morte, desviaram nosso destino. Somos, desde há dois anos, estrangeiros a tudo. Iremos perdendo com o passar dos dias a calidez de nosso olhar, aquele calor, ardente em nossos olhos, quando vivíamos numa terra, cujos aromas em plena primavera, cheiravam, o odor de nosso corpo.
Éramos, antes da
catástrofe, antes do estouro em mil fragmentos, pessoas normais.
Médicos, amantes da liberdade. Escritores, amantes da liberdade. Em
fim, em geral, éramos sórdidos amantes da liberdade. Um pouco de loucura, nos dizíamos, a ninguém faz mal. E nos encerrávamos em grandes alcovas solitárias, para dizer-nos que a loucura era contagiosa e ríamos e buscávamos o sol, entre as pernas de nossas mulheres, e éramos felizes. E enquanto éramos felizes nos demos conta de que buscar o sol, era para encontrar obstinadamente com a noite. Amar o sol era também amar a teimosia de sua dialética. Aparecer e desaparecer. Encontros luminosos para, depois, submergir cada vez mais profundamente no vazio da noite. Alguma ausência inesperada, algum corpo apodrecendo repentinamente sob o sol, marcavam a passagem dos anos. De decepção em decepção, nos foram ensinando que nada tínhamos. Para quê falar? Então nos diziam, para quê pedir?
E foram nos encerrando
em nosso próprio corpo, e em nosso próprio corpo foram marcando a
fogo suas tábuas da lei e sujeitados Um forte e gelado assobio noturno, para sempre. Uma inquestionável noite sem fim. Uma detenção brusca e mortal -insustentável para nosso corpo-, nas mãos onde havíamos entregado nossa vida, para não morrer. Ser escravos, ficava claro, não era suficiente. E, então, foi o tremor, um tremor cósmico, além de nossa razão, além de nossa loucura. Além de todas as palavras pronunciadas e, sem saber o que fazer, temerosos entre os escombros, nos tocou zarpar. E zarpar foi estourar em mil fragmentos de ouro líquido pelo mundo. E zarpar foi não poder voltar nunca ao mesmo lugar, não poder voltar nunca ao mesmo tempo. Se algo buscamos, buscamos tudo o que nos falta, não só o inconsciente. Não só os tíbios perfumes de nossa infância. Não só o aleteo fugaz de um desejo proibido. Queremos ter, entre nós, toda nossa vida. Um corpo feito aos avatares dos destinos, uma palavra, mais próxima do sangue que das palavras. Entre nós, queremos ter -como a flor asteca crescendo no deserto, como uma incerta luz, em plena obscuridade- alguns versos inesquecíveis. Sabemos, no entanto, que viver sempre é um projeto delirante. Tudo está bem e tudo está mal. A mulher, o homem, debate seu ser entre as poucas palavras que conhece. Uma espécie de pequena oração em meio do tumulto. Um pequeno deus a ponto de morrer, contra a imensidão das partículas atômicas, crescendo por todo lado. O sangrento búfalo de prata a ponto de extinguir-se, última manada de luz, a beira do fuzilamento. A beira próprio de pronunciar suas próprias palavras: Estamos. Fomos o que morre do homem. A solidão.
Até quinta-feira. Índio Gris ISTO É PUBLICIDADE
SEXTA-FEIRA 15 DE FEVEREIRO DE 2008
Hora:
19.00 horas. * * * *
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