ASSIM FALOU ZARATUSTRITA EM 1978

 

22 de janeiro de 1978, Madrid

Querido:

Possível monarca, possível científico: Conto, para a conquista do universo, com o imaginário universal, sou poeta.

Me dizes em tuas cartas que, se reina a ciência, se impõe um diálogo acerca de um saber, sobre uma ação referida a uma viagem. O que quer dizer, que a ciência descobriu o amor, e seu discurso racha, agora, entre promessas.

Se o que reina é o indizível, o humano por excelência, se o que reina é a poesia feita carne, o que se impõe é um respeitoso silêncio, uma sublime espera. Quero dizer, apologia do outro em contra de teu narcisismo.

O homem em geral, acreditando que a loucura não é um fato social, a atribui a outro. Acreditando que a glória é um suave encontro com a mãe, não pode compartilhá-la.

As paixões humanas são um fato irremediável para o homem.

Se persiste tua cegueira, se redobra a minha, sem dúvidas, iremos parar na merda. E, no entanto, a espera é produtiva, o espaço aberto leva o selo inconfundível da poesia e tudo está bem assim, estamos contentes.

Até quinta-feira. 

Índio Gris
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