Olho fascinante da serpente,
robusta sem razão das carícias,
beijos deixados, livres ao azar,
no ventre perfumado da aurora.
Escrevo porque escrevo,
já disse há anos.
Não escrevo por amores
e tampouco amo a beleza.
Escrevo porque escrevo,
como a chuva quando chove
ou o vento quando geme,
com naturalidade,
como se o que em mim acontecesse,
ocorresse desde séculos.
POESIA, CARTAS DE AMOR, PSICOANÁLISE,
EROTISMO OU PORNOGRAFIA?
ALGO DE POLÍTICA OU COLETA DE LIXO
E CARTA DO DIRETOR
QUERIDA
Depois daquele encontro onde lhe confessei que era
cego, Ela, chegava, sempre, dez minutos tarde e um dia me disse: Viu
que, sempre, chego dez minutos tarde? É porque não quero
psicoanalizar-me mais com Você. Olhe, dei muitas voltas ao assunto e não
posso suportar. Há algo em sua cegueira que eu não posso tolerar. Se
você é cego..., quer dizer, que quando lhe digo, por exemplo: Hoje estou
linda, você não tem como constata-lo e, isso, é terrível. Quando lhe
digo que estou feia, você não pode dizer-me: não, querida, você é linda.
E sabe por que não pode? Porque você nunca me viu. Que terrível! Que
terrível!
Para mim, o problema, assim como Ela colocava, nunca me havia ocorrido
coloca-lo. Assim, que se a intenção dEla era surpreender-me, desta vez
havia conseguido em profundidade.
Preferi ficar calado, esperando suas próximas palavras. Ela não me disse
nada, mas pensou: melhor que fique calada e espero para ver o que opina
o doutor.
Assim, ficamos em silêncio durante dez anos.
Quando Ela voltou a falar foi para me dizer entre irritada e feliz: como
me enganou, doutor! Você nunca foi cego.