A POESIA NÃO SE ENAMORA NUNCA
A meus filhos,
discípulos e afins II
Viver acompanhado não é um
conselho,
é a única maneira de viver
e aproveito o dizer
para deixar em vossa inteligência
o ensinamento mais belo:
A poesia não se enamora nunca,
mas no entanto tem como amantes
a todo aquele que aumente sua beleza
sua valentia, sua força, seu poder.
Homem ou madeira, não lhe
importa,
o homem deve ser exemplo ou novidade
e a madeira, além de ser bela e delicada,
deve servir para o berço ou melhor ao ataúde.
Mulher ou ciência, não lhe
importa,
a mulher deve ser exemplo de liberdade
e a ciência além de complexa e exata,
deve poder amar o mundo, transforma-lo.
Criança ou mestre, nada
perguntará,
a criança deve ser exemplo de crescimento
e o mestre, além de ensinar a ler e escrever,
um dia deverá deter seu próprio crescimento
para que no mundo um menino se faça homem.
Flor ou diadema, tudo saberá,
a flor há de ser bela e sempre morrerá
e o diadema, além de brilhar sempre,
aprenderá a apagar-se quando a flor morra.
Elefante taciturno ou cavalos
desesperados.
A poesia tem seus cemitérios e,
também, seus prados infinitos
mas o elefante terá que aprender
a não deixar-se dobrar pela morte
e ao morrer terá que estar acompanhado.
E os cavalos poderão voar e amar se quiserem
mas hão de ser sempre cavalos
que sabem apreciar as diferenças
entre galope e desenfreio,
trote e submetimento
e ao deter-se o cavalo em um poema
todo mundo quererá vê-lo voar
e, se o poema foi escrito por um homem,
cavalo voará e ao deter-se
algo no mundo se deterá
e haverá um verso que ninguém escreverá,
um duplo espaço cheio de cavalos a trote,
galopando, detidos, voando arrebatados.
E, para que os ensinamentos não
fiquem no ar,
novas reencarnações furiosas da língua,
lhes digo como final que é um começo:
alcançar meus versos é tarefa possível para vocês,
mas alcançar vossos versos será impossível para mim.
Há um verso de algum de vocês
que será meu epitáfio e esse verso,
quero fazer-lhes saber, é para mim,
insuperável.
A
meus filhos, discípulos e afins III
POESIA, CARTAS DE AMOR, PSICOANÁLISE,
EROTISMO OU PORNOGRAFIA?
ALGO DE POLÍTICA OU COLETA DE LIXO
E CARTA DO DIRETOR |
AMORES PERDIDOS
OS ÍNDIOS
V
Hoje quero falar da soberba do índio americano.
Lágrima que para pedir piedade não foi derramada.
Hoje quisera ser eu que, ao escrever, chore esse pedido,
quando as selvagens recordações de minha vida me detém.
Qualquer dos chefes diria,
sabiamente,
que se há uma lágrima todavia escondida,
uma lágrima guardada durante cinco séculos,
pequena lágrima que, todavia, é nossa.
Se essa lágrima existe, deve
ficar onde está,
ali, guardada, escondida, esperando o momento,
esperando os tronos, a expansão da selva.
Essa pérola da alma, essa lágrima
nossa,
deve esperar da aurora, antes de se derramar,
os gritos enlouquecidos de Deus arrependido.
Amores
perdidos. Os Índios V