AMORES PERDIDOS
IV
Aplacado
pela fome cresci profundo,
cheguei a tocar, no centro da terra,
na borda, exata, da vida plena,
o fogo máximo, os calores extremos.
Fui
expulso do centro mesmo da terra,
por ambições de mineiros e comerciantes.
As águas me levaram até onde o oceano,
se desdobra, sobre si mesmo, para ser o amor.
Nessa
negra profundidade turbulenta,
onde não havia, um cume possível,
da perfeita rocha surgiu meu corpo.
Pescadores
e governantes me expulsaram do mar.
E, ainda, fogo vulcânico, terra, água desesperada,
vôo, agora, perfilando-me vento, letra futura.
Amores
perdidos. Os Índios IV
POESIA, CARTAS DE AMOR, PSICOANÁLISE,
EROTISMO OU PORNOGRAFIA?
ALGO DE POLÍTICA OU COLETA DE LIXO
E CARTA DO DIRETOR |
EU PECADOR
III
Amava as
andorinhas
porque aprendi delas voltar no verão.
No verão amava nas areias
a marca de teus pés.
Odiar
odiava somente o cheiro dos mortos.
Uma tarde
mataram meu primo pelas costas
"Mão de ferro" o chamavam
Miguel, Miguel, meu bem amado e doce camarada.
Montavas a
cabalo como o "Ermitão Solitário"
único e elegante
nas terríveis guerras do verão
me falavas de teu corpo
de teu corpo nu entre os cães
os cães ladram à roupa, me dizias.
Nu alguém
é um cão mais.
Deixar a
casa do avô.
Esquecer-me do pátio e da figueira
não recordar jamais o gosto da menta
foi um golpe baixo da vida.
E vieram depois silenciosas mulheres
a violentar em minha recordação teu nome.
Veio depois tua morte traiçoeira.
Me contaram tua cara extraviada de surpresa
porque esperar
-menos a morte-
havíamos esperado juntos qualquer coisa.
EU PECADOR
IV
A figueira
era o lugar da sombra.
Fazíamos a vida
dizendo-nos que éramos felizes
metade do tempo sentados
à sombra da figueira.
Voltei
quando ganhava o céu tua figura
uma tarde em Pompéia.
A arma que te matou era branca
vós não merecias outra coisa.
Me sentei
debaixo da figueira
e te chamei em voz alta.
Disseram de mim
-quando me arrastei palmo a palmo
na época que floresciam as malvas
e vós
costumavas esconder-te próximo do horizonte-
que a loucura
havia aninhado em meu coração.
EU PECADOR
V
Fiquei com
toda a dor
e toda a alegria.
Sempre fui dois desde tua morte.
Boxe
contra a lua
e tinha na cintura
todos os movimentos.
Me chamavam o polvo de Patrícios.
Crescia,
crescia vertiginosamente
o ódio em minha mirada.
Fui
ficando só
encerrado no tempo de nossos jogos.
Fui jogador.
Atei minha vida com correntes
para não sair voando atrás de ti.
Me
aconselhei recuperar a história de meu pai
árabe taciturno
uma palavra cada seis meses
um gesto de amor todas os Natais.
Depois,
depois fui médico de loucos
porque o que pega primeiro
pega duas vezes.
Eu
pecador III, IV, V