Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2006 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº305 ANO VII EDITORIALTERMINAMOS A GRAVAÇÃO DE: "Infidelidade?" EDITORIALESCUTO COMO SE TOCASSEM SIRENES Escuto como se tocassem sirenes, mulheres e mares. Uma combinação quase perfeita, se não fosse porque os aromas do mar me recordam a morte. No mar aconteceram muitas coisas e eu nem sequer me dava conta de que aconteciam. Próximo da palavra mar, nasceu meu pai. Minha mãe, nos verões, quando ele vivia, gostava de chamar-se Ângela do mar. E se deixava queimar pelo sol como se cada verão fosse o último encontro e, dessa maneira, lhe ficava o mar gravado no corpo todo ano e ele caía a seu lado pelas noites morto e renascia cada vez no contraste com sua pele marinha, na recordação daquela outra pele, sua mãe, diante do mar. Quando escapei pela primeira vez da casa de meus pais, fui ao mar e zurrava como um burro quando o sol saía pela manhã e me estendia sobre a areia disposto a suportar qualquer incômodo, qualquer moléstia, com tal de que meu corpo tomasse as cores do mar e, ao voltar, ele me confundisse com ela e me amasse. Depois, quando uma mulher se sentou ao meu lado, tive que esperar para levá-la ao mar para dizer-lhe que a amava. Cheguei a pensar nessa espécie de delírio marinho, sensitivo, com tudo marinho, celeste, azul, que o mar tinha capacidades anti-reumáticas. Quando não soube o que fazer com tanta liberdade, a atirei ao mar. Depois, até o mar a um verso e fundi o mar. Nesse dia estive triste como nunca. Sem mar, a vida havia perdido seus sentidos, sem mar, quer dizer, sem pai e sem mãe, tudo seria mais difícil. Eu, por fim, havia nascido e nada de mar, eu era um homem da cidade; o mar, uma palavra.
Com uma colher de pau Fogo de sempre dormia nos pedernais Aquele velho coberto de setas As rosas fugiam pelos fios É preciso cruzar as pontes É preciso matar al loiro vendedor de
aguardente, Ai Harlem! Ai Harlem! Ai Harlem! Tinha a noite uma fenda e quietas
salamandras de Eles são. Aquela noite o rei de Harlem, Os negros choravam confusos Negros! Negros! Negros! Negros! Sangue que busca por mil caminhos mortes
enfarinhadas Sangue que olha lenta com o rabo do
olho, É o sangue que vem, que virá Ah que fugir! É pelo silêncio sapientíssimo Um vento sul de madeira oblíquo no negro
lodo O esquecimento estava expresso por três
gotas de tinta sobre À esquerda, à direita, pelo Sul e pelo
Norte, O sol que desliza pelos bosques Negros! Negros! Negros! Negros! Então, negros, então, então, Ai, Harlem disfarçada! Índio Gris
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