A MULHER E EU
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Às vezes és muito inteligente, disse sarcástica
enquanto mostrava suas nádegas ao espelho
e roçava, movendo delicadamente as mãos,
seus peitos rosados e ardentes atrás da blusa.
Entendo que há algo que me acontece, lhe disse,
quando o poeta me toma de surpresa
e me obriga, sem mais, por sua presença
a escrever da noite e de uma mulher chorando.
Tomo o chorar da mulher e contorno um rio
e com a noite, visto a mulher de negro
e, depois, junto ao rio,
com a mulher de negro,
poderei beijar os seios da noite
até o amanhecer.
Amarelo limão para vestir a deusa
que se levanta e já começa a cantar.
Ao verbo o que é do verbo, cantava
enquanto eu a ensartava contra a parede.
Pendurada de meu corpo, agitava os braços
e gritava: “Ao verbo o que é do verbo”
e se retorcia e eu me dava conta
que ela era a deusa do movimento
e falava em voz alta de seu corpo:
“Que tetas! Que bunda! Que barbaridade!”
E ela rugia e no rugir dizia:
não deves preocupar-te por meu gozo,
gozar, em mim, é algo natural,
me acontece sempre, até quando me gritas.
Me aterrorizam teus gritos e, no entanto,
sigo gozando no horror, na queda.
Era infinito o gozo vendo-a cair
e, então, eu falava de seu corpo:
Que tetas! Que bunda! Que barbaridade!
De golpe se deteve e foi pedra, dor,
emudeceu seu gozo e disse:
Por que com ela tal ou qual coisa
que comigo não?
Eu nunca fui um mendigo, lhe disse,
sempre fui um comerciante.
A uns vendia uma coisa
e a outros vendia outra coisa.
Te comeria o coração, disse ela,
tensando a harmonia até a dor
e, então, eu, ambicionando um beijo,
lhe disse, tratando de fechar a questão:
Se me comesses o coração
o vomitarias,
porque em meu coração,
jazem os restos de minha mãe.
Está bem, disse ela, e me beijou.
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mulher e eu 15
POESIA, CARTAS DE AMOR, PSICOANÁLISE, EROTISMO OU PORNOGRAFIA? ALGO DE POLÍTICA OU COLETA DE LIXO
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A MULHER E EU
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Ela, para remarcar minha insistência, disse:
Buscar uma mulher é perdê-la,
ela só pode amar o que lhe escapa
o que nunca poderá ter de todo.
Quanto a mim, lhe disse,
minhas coisas me submetem,
a ter que cuidá-las, fazê-las belas,
por isso quero dizer-te, amada minha,
que decidi ficar sem minhas coisas.
E se alguém me perguntasse
como farei para viver sem ela
direi, camaradas, que em meus versos
a vida não se vive e ela é a poesia
ou a mulher em geral ou a morte.
Me despeço de tudo que me pertence,
o delírio, teus beijos em meio ao delírio.
Recordo quando, ao despertar,
tinhas um colar de areia em tua cintura
e eu te acreditava a Deusa do deserto
e montado em meu camelo tornassol
te convidava a me permitires
beijar teus pés, no justo momento
da areia de tua cintura partindo-se
em finos cristais de amianto e de pureza.
Aí, eu te acreditava a Deusa dos estalos
e os diamantes como pequenas flores
adornavam a melancolia da paisagem:
teu corpo como morto,
meu corpo como morto
mas esperando, tenso e submisso,
o estalo ardente da jóia
podendo as pequenas palavras de amor.
Há dias inteiros que creio em tudo:
seu perfume, essa inteligência submarina
que pode com um beijo, só com um beijo
chegar, sem mais, ao centro de meu ser.
O Deus que sempre a acompanha
em lugar de irritar-me, hoje me faz graça
diria que me excita que ela, em sua beleza,
para poder gozar me confunda com Deus
e é, então, quando de um salto
alcanço o aeroplano da felicidade
e, quando ela me acaricia, gozo
para que ela creia que Deus
reconheceu sua carícia.
Eu muitas vezes me aquieto,
aí,
tratando de escrever um poema
esperançoso de encontrar,
sem fazer nada,
sobre a folha em branco
escrito um grande poema
onde o amor,
enlouquecido e tenaz,
reine, também, sobre o amor.
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Um dia falamos do verdadeiro amor,
outro dia quisemos dizer tudo
queríamos jogar a verdade,
diluir-nos sem premência no tempo.
Colheita ou extravio? Nos perguntávamos
quando arávamos os caminhos
onde o sonho abre suas portas
para que sejam possíveis os arrebatos.
Ela sempre me falava de um amor incrível
onde o mundo e o cinema se confundiam,
onde a fantasia de amar era o amor
e todos os amores, ainda rotos, eram eternos.
Sentindo que não poderei amá-la tanto lhe digo:
só me está permitido o que se esquecerá
por isso meus amores são leves e ligeiros,
a história de meus versos varrerá minha vida
por isso vivo tudo o que ninguém saberá.
Quando ela me beija loucamente
e sua paixão me inunda, me leva além
com discrição escrevo no caderno:
sua paixão liberada me remonta até o mar
sem ir e sem vir, sua quietude e sua vertigem.
Quando deixo o caderno e a olho
ela volta a beijar-me loucamente
e um vapor de seu sexo de outono
me faz perder o fio e o caderno
e eu também, agora, a beijo loucamente
e ela se distancia de mim como bruma
e suas palavras são o coração da noite:
há um amor que nunca chegará
e é desse amor que se fala no poema,
um dizer sobre um ar que ninguém respirou
uma verdade da água que não acalmou a sede.
Hoje, amado, te direi toda verdade:
somos totalmente mirada e nada vemos,
essa luz de teus versos é luz futura,
nós vivemos em plena obscuridade.
A
mulher e eu
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150 Años del nacimiento de Sigmund Freud |
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CHARLAS INTRODUCTORIAS
AL PSICOANÁLISIS
Universidad Complutense de Madrid
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1. Una nueva manera de pensar lo humano.
(Alejandra Menassa, Médico y Psicoanalista)
Lunes 20 de febrero de 2006
2. Cómo transformamos la realidad
en lo que nos interesa.
(Miguel Martínez, Médico y Psicoanalista)
Lunes 27 de febrero de 2006.
3. ¿Por qué soñamos? ¿Por qué sentimos angustia?
(Pilar Rojas, Médico y Psicoanalista)
Lunes 6 de marzo de 2006.
4. ¿Estamos marcados por el pasado o por el futuro?
(Carlos Fernández del Ganso, Médico y Psicoanalista)
Lunes 13 de marzo de 2006.
5. ¿Son los sentidos los que nos engañan o nos
conviene que los sentidos nos engañen?
(Ruy Henríquez, Filósofo y Psicoanalista)
Martes 21 de marzo de 2006.
6. Pensamiento y escritura. (Jaime Kozak, Psicólogo y
Psicoanalista)
Lunes 27 de marzo de 2006.
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lunes 20 de febrero al 27 de marzo de 2006.
HORA: De 11,30 a 13,00 horas.
LUGAR: Seminario A-217 de la Facultad de Filosofía de
la UCM. Ciudad Universitaria.
28040. Madrid.
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Organizan: Asociación de Estudiantes "La
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