Revista semanal pela Internet Índio Gris
Nº 279 ANO 2005 QUINTA-FEIRA
29 DE DEZEMBRO 

 

UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2005

NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
CASTELHANO, FRANCÊS, INGLÊS, ALEMÃO
ÁRABE, PORTUGUÊS, ITALIANO E CATALÃO

ÍNDIO GRIS É PRODUTO
DE UMA FUSÃO
O BRILHO DO GRIS
E
O ÍNDIO DO JARAMA
A FUSÃO COM MAIS FUTURO DO SÉCULO
XXI

Índio Gris


ÍNDIO GRIS Nº279

ANO VI

EDITORIAL
 

CRESCENDO FUI ME DANDO CONTA

Crescendo fui me dando conta
que viver não era suficiente.

No princípio comecei por mudar
algumas horas de minha vida
por algumas palavras.
Essas questões do sexo e do ouro
da pequena e simpática liberdade
da política sombria.

As palavras se uniam umas a outras
como pesadas redes
e nessa solidão foi necessário amar
conhecer o amor
amar o amor
ser para o amor
como se o amor fosse alguém próprio.

Matar-se por amor.

Envolver-se na tristeza
de um crime por amor.

Sonhar e ser sonhado
sempre pela mesma pessoa
e ter a valentia por amor
de se despentiar
pelo desfiladero das sombras
cada vez que o amado deixe de sonhar.

E o amor com tanta loucura
trás o movimento dos astros.
Sóis quietos
enamorados de bailarinas luas
luas cegas
bailando pela obrigação do amor.

Depois ainda
entregando outras horas de minha vida
ingressei no cosmos.

Os sóis quietos giravam por sua vez
ao redor de outras cadeias.
A luz
era só o reflexo de sua busca.

 Crescendo fui me dando conta

 

POESIA, CARTAS DE AMOR, PSICOANÁLISE,
EROTISMO OU PORNOGRAFIA?
ALGO DE POLÍTICA OU COLETA DE LIXO E CARTA DO DIRETOR

 
              

BIOGRAFIA
DE UM HOMEM CONTEMPORÂNEO

Entre duas guerras deflagrou mimha vida.
Entre dois apogeos do estrago.

Duas guerras grandes qual o mundo mesmo.
Antes da primeira eu fui branco.

Depois da segunda já tinha
a cor da pólvora tatuada.

        Antes da primeira ia desnudo,
        animal inocente pelas pranícies

        frumentais. Depois da segunda,
        cota de malha e coração blindado.

Cheirava o musgo a sêmen de leões.
Os arroios a urina de cavalo.

Antes da primeira não tinha
temor do fogo, do escrúpulo humano.

Durante a segunda, intensamente
os tutanos saídos me queimaram.

Pude sobreviver arrebatando
um morto de seu canto. E assim, empurrando-o

        como a um saco de carcomidos ossos,
        tirei do fosso e me escondi em sua nau.

Depois clamavam milhares de vozes
que eu era um ressucitado. E me apedrejaram.

Antes da primeira, humildemente
como se brinda um pão dava a mão.

Depois da segunda a escondia.
Antes da primeira, nobre o passo.

O de um homem simples que confiara.
Depois da segunda, brinco longo

de tigre faminto. Vida bifurcada.
Nem sequer me dói recordá-lo.

Careço de dor. Não tive triunfos
nem dignidade e sou um de tantos

delinqüentes que nomeiam as notícias
cotidianas. Um ninguém. Um ser castrado.

O demais que pudesse referir
é ainda mais torpe, sórdido e estranho.

Intimidade desavergonhada e podre.
Meu rosto não é autêntico. É o falso

que já todos temos; e comigo
porto um papel. Em um de seus ângulos

minha única direção. Não é verdadeira.
Telefone fictício e um retrato

cheio de rugas; máscara de um homem
deliberadamente equivocado.

Alma e figura, nome e domicílio,
tudo simulação, tudo bastardo.

O que sei e o que ignoro e o que nunca
poderei saber. O sonho e o não sonhado.

A imunda cabeleira até as costas.
Um infeliz andrógino barbudo.

Mas puderam valer-me estes sinais
se algum dia vulgar, um dia amargo

sem data, como há muitos na vida;
sem prodigalidade, um dia avaro,

eu morro na rua como morre
sob a obscuridade um cão ancião.

Biografia de um homem contemporâneo

 
Índio Gris
 

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