Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2005 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº274 ANO VI EDITORIAL
O HOMEM E EU
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E, às vezes,
sou a mulher semeadora
de todas minhas desgraças,
de todos meus fracassos.
Quero que alguém me ame
mas não quero amar,
quero viver como uma rainha
mas não tenho rei
e quando empobreço
por ter acreditado
ter o que não existe
e não tinha ninguém,
quero que o mundo todo,
sustente minha loucura
que é, precisamente,
viver só no mundo
e quando meu amado
venha a perguntar-me
o que fiz
com nosso amor grandioso
eu lhe direi: não me dei conta,
não me dei conta
que o nosso era amor,
não me dei conta
que as plantas se rega,
não me dei conta
que um bebê necessita
o calor de uma pele
e ser amamentado.
Não me dei conta
que o amor não existe
a menos que o façamos.
Não me dei conta,
e isto é o mais terrível,
que nossa poesia
era poesia.
E tive inveja
de tudo que crescia
e houve dias terríveis,
desconcertantes,
onde cheguei a invejar
o crescimento
de teus brancos cabelos,
de tuas unhas.
E, depois, tua roupa,
tua elegância ao falar
a maneira
com que outras mulheres te cumprimentavam,
o modo libertário de utilizar o dinheiro
que ganhavas em tuas horas de trabalho.
Tudo parecia indigno para mim.
Quando me davas algo de dinheiro
que, por outra parte, nunca foi tanto,
botava fora
e nesse dia ficava sem comer
mas minhas mãos seguiam limpas.
E quando gozava
sexualmente em tua presença,
me mutilava,
entorpecia meu cérebro,
em lugar de gozar
me punha ciumenta e delirava.
Te perseguia,
me saiam granitos no cu
para envergonhar-te
do que havias feito.
Qualquer detalhe sem importância
na cozinha
ou no banheiro
ou sobre a mesinha de cabeceira
ou uma fotografia antiga
onde sorrias,
tudo utilizava
para fustigar-te com meus delírios
e, para dizer a verdade, gostava,
me fazia gozar
ver-te enfurecido com minhas coisas
e apesar
de que sempre tive medo
que um dia me matasses
eu gozava com isso:
fazer-te enfurecer.
Uma alegria funda, nunca vista,
invadia meu ser quando minhas palavras
rompiam o pedestal que te sustentava
e tu, caías, humanamente falando,
em minha boca e isso,
era para mim, todo o amor.
O CEGO E A NAMORADA
Eu tenho uma namorada
de muitas cores
que chegou até a me odiar
porque lhe diziam
que eu era muito cego
e nada via.
Um dia me disse:
Quando me acaricias
amo tua cegueira
porque se tu nada vês
eu já não tenho vergonha.
Além da pele do corpo
e das mãos também
quando começa a carícia
liberam um novo ser.
Quando começa o amor
sempre vem acompanhado
da possibilidade de ver
que estamos embalsamados.
Aí, onde o tempo
costuma fazer seus exercícios,
não me importa tua cegueira
porque é tua pele quem vê.
Mas quando eu te mostro
minhas tetas, algum quadro,
um poema bordado
ao estilo oriental,
ou a curva elegante
de meu vestido claro
ou as graciosas tiras
de minha blusinha azul.
Aí, olho teus olhos
e dou um grito
a beleza em teus olhos
está morrendo.
Por isso te aconselho
que nossos corpos
possam tremer, amor.
Abandona em teus olhos
a cegueira,
põe a carícia em vôo
e a beleza,
toda a beleza,
estará em minha pele.
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