Criança e ancião
perguntando-se, em uníssono,
os acordes possíveis
do mundo em que vivemos:
Parece que a vida não começará nunca.
Parece que a vida já terminou.
Não sei qual destes homens
será meu dono um dia
mas começo dizendo uma verdade:
a luta é cruel,
as ambições, imperfeitas.
POESIA, CARTAS DE AMOR, PSICOANÁLISE, EROTISMO OU PORNOGRAFIA? ALGO DE POLÍTICA OU COLETA DE LIXO
E CARTA DO DIRETOR
O HOMEM E EU
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E o ditador
soberbo e impiedoso
que me obriga
todo tempo a matar,
alienar,
despedaçar ou perverter,
todo aquele que não pensa
como ele pensa.
E depois no mundo
só vivem seus sonhos.
Nesses dias,
quando o tirano me dobra,
não existe a beleza
nem o rubi nem a flor nem o amor
nem o ódio
nem sequer o poema.
Todo o gozo,
todo o prazer que existe,
ninguém pode gozá-lo
só o tirano.
E para mim,
só resta sonhar,
sonhar, intensamente,
que algum dia,
quando o tirano morra,
poderei viver em liberdade,
conhecer o amor
mas já será tarde:
se espero,
para sentir-me livre,
que o tirano morra,
ao morrer o tirano
darei-me conta
que o tirano
sou eu.
Tenho, também, comigo,
a mendiga jovem
que não quer,
por nada no mundo, trabalhar,
e o médico compreensivo
que vive, intensamente,
todas as enfermidades,
mesmo as que não existem,
e uma bugia louca
que acende e apaga,
sem levar em conta as estações
nem meus estados de ânimo
nem as guerras.
Às vezes,
quando tento amar
nas penumbras,
a bugia acende
iluminando tudo com loucura.
O que queria ser secreto,
faz-se público e, tampouco,
ninguém encontra explicação.