Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2005 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº265 ANO VI EDITORIAL
MORREREI UM DIA
Morrerei um dia
e um dia viverei
e quando minhas mãos
percam a alegria
morrerá um poeta.
E é uma casa limpa
o que ambiciono
para o distante e próximo
dia de minha morte.
Uma casa vazia,
sem portas,
sem janelas,
sem ninguém
que queira tomar o sol, o ar.
Meus seres queridos
preparando a festa
e a meu lado,
deixando-me morrer,
o rugido imortal
dos cem mil poetas
que fizeram, de minha vida,
este cantar.
O HOMEM E EU
11
Nada nos será dado da liberdade
sem arrancá-la de nossos corações.
Sexo que não conseguiu
senão o poema.
Loucura que brilhou,
só um instante.
Foram palavras
todos meus ódios,
todos meus amores,
o sexo e a loucura
foram palavras
até a liberdade,
só palavras.
O HOMEM E EU
12
Eram caminhos
onde o homem em mim
vivia e não vivia,
se retorcia de dor
e ao mesmo tempo
a alegria
calava-lhe os ossos.
Era livre e simples,
morria e não morria,
ao mesmo tempo
passavam-lhe os anos
e os anos
eram todos de um verso.
O HOMEM E EU
13
E sempre tive em mim,
desde a juventude,
um homem delicado e amável
que versos escrevia
e beijos dava por todo lado.
Um homem que pensava
que o pão
era possível para todos.
E esse homem lutou
em todas as batalhas
querendo mudar
a ordem das coisas.
Levantava e
desde cedo, ao amanhecer,
já queria
que o mundo fosse outro.
E batia
uma mão contra a outra
e chutava
com força a vereda
e fazia chocar seu delicado corpo
contra os trens em movimento.
O HOMEM E EU
14
Quando encontrava uma mulher,
se ajoelhava
e não era que queria rezar
ou o soubesse fazer,
era para pedir perdão
que inclinava seu ser
diante da virgem.
Nunca pode amá-la, só a temia.
O HOMEM E EU
15
Ela em mim
se encontrava e desaparecia
mas quando assentava seu poder
sobre mim,
estava todo tempo
mas invisível
e não era que pudéssemos com o sexo
ou não se pudesse
ou que a liberdade fosse permitida
ou não fosse permitida.
Sexo, loucura e liberdade,
tem em comum
quando se deixam cair
sobre os homens,
quando conseguem
invadir suas células,
quando penetram
por sua respiração,
quando contaminam
todos seus dizeres,
fazem com tal força,
com tal soberba ganhadora,
que o homem,
o homem poderoso,
o das armas até o coração,
qual leve mariposa,
é capaz de morrer,
livre, enamorado,
e totalmente louco.
E a mulher que tudo aprende,
ainda que não diga nada,
e que não quer morrer
ainda que morra,
decide viver livre,
enamorada e louca
ainda que ninguém
o permita ou queira.
O HOMEM E EU
17
Ela quer
e não quer todo o tempo.
Ele quer sempre
ou não quer nunca.
É impossível uma foto com os dois e,
no entanto, se casam, vivem juntos,
tem alguns filhos,
se enfermam e morrem,
os dois no mesmo dia,
quase na mesma hora,
mas ninguém pode dizer
que se conheceram.
Índio Gris
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