ATIRAI ÀS BESTAS

Atirai às bestas um pouco de carne podre e a comerão.

E assim foi surgindo em mim, a idéia de escrever versos e

fazer a maior quantidade de gente possível escrever versos.

Espero encontrar a alma das coisas.

Tarde ou cedo só será possível ler-nos,

estaremos todos mortos.

Atira às bestas  

NERVO ANGULAR

Nervo angular torcendo-se em ângulos.

Foi tudo amor, essa carícia boba.

Assim fui, meio século, o bobo do amor.

Delirante, temeroso de que qualquer um me roubasse o meu.

Não tive nunca nada,

só a grade que separava o meu do alheio.

Embarcado por meu próprio delírio

numa grande onda fantástica,

fiz uma viagem de luz e de palavras,

uma viagem a populações sem retorno.

Quando via de longe um ser humano,

me punha contente, golpeava as mãos

e o coração me pulsava apressadamente,

mas nunca tentava emocionar-me.

No princípio até me dava asco,

quando os homens se matavam ou

simplesmente morriam.

Logo fui a queixa sem limites.

Queixas da alma quieta, queixume luxurioso,

e ninguém me escutou.

Nervo angular

A VI

A vi, a quis e a matei,

pelas dúvidas seu amor me encadeara.

A vi

SINISTRO FOI O AMOR QUE TIVESTE POR MIM

Sinistro foi o amor que tiveste por mim.

Querida, o recordo,

eras como um tambor enlouquecido

golpeado sem piedade, chamando a morte.

Meu amor foi tudo o que pude com meu canto.

Hoje ensaio para ti, acústica serpente enamorada,

uma voz gutural, ardente, uma voz pouco comum:

                     lhe dei, lhe dei com um martelo

                     lhe dei, com intenção de dar-lhe.

                     Apertei sua cabeça, seu coração,

                     suas ilusões entre palavras.

Sinistro amor que tiveste por mim