Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2005 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº 252 ANO VI EDITORIAL
A POESIA
Emergir das sombras,
das sombras do mar.
Canguru aquático.
Horas de uma vida
desesperada e viva.
Pequenas palavras
irão fazendo o mundo.
Teimosos galopes
irão cubrindo as distâncias.
Entre belezas marinhas
rasgo tua pele,
enceno minha vida
nos contornos de teu ritmo,
te detecto imprecisa,
entre as leves folhas de papel.
Ao vento.
Ao tempo.
À poesia.
Tenaz entre teus mortos,
louca e viva,
iridiscente olho molecular,
chama de amor,
a poesia,
tenaz,
álgebra purificadora,
ardente anti-séptico
contra os pequenos animaizinhos do bosque.
Nervo noturno e luz,
músculos e massacre,
carnes,
vindimas da carne,
a poesia,
tenaz,
no futuro,
contra o que possa cheirar a podre.
Ao vento.
Ao tempo.
À poesia.
A MULHER E EU
30
Quando ela me disse quase chorando
que nosso pequeno amor é,
talvez, uma coisa má,
em realidade quer dizer:
Meu amor não é tão pequeno,
é suficientemente grande
para ser descoberto por um menino
e dar-se conta que é mal,
ao menos, para mim.
Tenho que aceitar, digo-lhe,
que sou um criador,
exerço o poder da incerteza.
Às vezes, no entanto, me detenho,
há frases que não posso escrever,
é como se quisesse estar morto.
Logo penso o que dirão
de minha sexualidade depois de morto
e some a vontade de morrer.
E Ela quer chupar e partir
e eu quero que ela chupe
e se olhe chupando.
Fazer-me gozar, já que está aí
tudo o que eu queira ou necessite,
mas ao mínimo gozo de seu corpo,
ao mínimo gozo de sua alma,
conclui o movimento, rompe a cítara
e volta com toda tranqüilidade a sua tumba.
No outro dia ressucita para pedir perdão.
Não era necessário que eu guiasse suas mãos,
ela sozinha, guiada pelo desejo
de se afogar com meu sêmen,
fazia quase tudo.
Eu gozava
mas a perfeição nos movimentos
e a velocidade exagerada em produzi-los
me faziam duvidar do resultado.
Amo e esqueço, disse-lhe com orgulho,
quando volta o amor sempre és outra,
com tanta novidade nunca me aborreço.
Como chamar mal, pergunto-lhe carinhoso,
algo que nos dá vida e, em meu caso, rejuvenece?
Talvez porque ao gozar algo morre,
algo se descobre de uma morte distante
que vem do futuro e que já ocorreu
e é por esse contrasenso, amada,
que algo goza quando nos encontramos
e algo goza ao partir.
Bom, está bem, disse ela,
muito não entendi mas parece
que tens vontade de me beijar,
podes fazê-lo, disse singela,
mas depois não digas que sou uma histérica
porque primeiro te beijo e logo me vou.
Não tenho vontade de te beijar e além disto
não tolero, como creio um homem deveria,
que as mulheres façam tudo por mim,
sem sentir muito, sem desejar nada, sem viver.
Não tolero e, tampouco, o creio.
Às vezes me encontro pensando
que é tão forte o desejo de uma mulher
e tal a submissão do homem a esse desejo
que ela não tem que fazer nada, nem se nota,
mas ela deseja e ele põe aí, sobre a mesa,
seu desejo, simplesmente, como um escravo:
eu gozo mas ela tem todo o poder.
E quando ela goza e eu sou o poderoso,
ordeno-lhe gozar e, aí, é quando me ama.
A MULHER E EU
38
Ontem, enquanto dormia, escrevi
o poema número trinta e sete.
Que? Te levantaste e eu não escutei nada?
Não, não, lhe disse, escrevi, sem escrever.
E onde está esse poema mágico?
Ao não poder escrever, me dei conta
que no sonho o poema já estava escrito.
A noite se apropriou dos versos
e a morte, no sonho,
fez desaparecer a noite.
Tanta viagem daqui para ali, o verso
deve ter se perdido para sempre
ou ficará gravado em algum astro
ou se queimará chocando contra o sol.
Assim, qualquer um sonha e diz
que escreveu um poema,
total, perdido ou incendiado,
ninguém poderá nunca saber a verdade.
Na manhã seguinte
perguntei-lhe, sarcástico,
que tal, escreveste sonhando
um poema explêndido?
Que seja, isso serão os sonhos
de um poeta famoso, como tu.
Eu sonhei que me arrastavas
pelo pavimento e os vizinhos, creio,
me chamavam puta.
Depois, talvez, envergonhada,
sonhava-me sentada tratando de escrever
e sobre a folha em branco
apareciam as contas da compra,
bom, mesmo que não, exatamente:
Para chouriço, o de seu marido
para ovos, os de seu vizinho,
à gordinha, referindo-se a mim,
não cobres as cenouras
porque não as usa para comer.
Corações a baixo preço:
com amor, sem amor, cruéis,
corações sem nenhum pulsar.
Suco de coração quente ou frio
e envolturas de nácar
para cada cabelo que tu
tenhas beijado, ao menos, uma vez.
E depois, bem lavados, todos em fila,
pênis de todos os tamanhos.
Eu, no sonho, era muito respeitosa
não olhava demasiado e não tocava nada
mas houve um pênis que me agradou
e em seguida, estava entre minhas pernas.
Depois, o sonho se fez muito confuso,
aparecias tu e punhas caras,
cara de que o terias feito melhor,
cara de estar dentro de meu poema ou sonho,
cara de ser o único capaz de amar.
Tu em verdade, não dizias nada e, além disto,
não tinhas nem sequer rosto
mas estavas aí, com tua cara de Deus,
com teus braços indicando duas direções,
impondo por um lado manter o silêncio,
deixar as coisas como estão, seguir escrava.
E com o outro braço impunhas, não sei,
como uma obscuridade, tudo borrado,
tudo por fazer, tudo por inventar
e foi aí onde voltei a despertar
e, uma vez mais, voltei a crer
que era para sempre.
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