Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2005 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº 249 ANO V EDITORIAL
ANTES DE MORRER
Esta manhã me levantei
vendo a minha mulher
fazendo um favor
a nosso vizinho, só por amor.
E depois descobri
a minha amante mais fiel
indo-se por dinheiro
com uma mulher.
E antes de morrer,
baila este compasso
que te levará bailando
a teu próprio funeral.
Jogo-lhe ao número 3
mas sempre sai o 4.
Aposto que ganha o líder
e vai tudo ao caralho.
Me decido, me decido
a romper o malefício
e me entrego ao continente
que por negro ninguém vê.
E antes de morrer,
baila este compasso
que te levará bailando
a teu próprio funeral.
Vamos ao cemitério
que ali vais encontrar
em cada tumba amável
um amigo sem par.
Não perguntará teu nome
nem importam tuas medidas
mas viverá contigo
por toda a eternidade.
E antes de morrer,
baila este compasso
que te levará bailando
a teu próprio funeral.
NUNCA TE DEIXES LEVAR POR TORPES SENTIMENTOS IV
Nunca te deixes levar por torpes sentimentos.
Não ames, demasiado, o puro amor da aurora
nem bebas, demasiado, do néctar dos lábios
nem mires, demasiada, televisão pelas noites
nem vás à guerra nem mates pelas costas.
Não te deixes foder pela miséria dos ricos
nem pelas ambições malígnas dos pobres.
Tu tranqüilo, homem, com quem não acontece nada.
Não te deixes enganar pelo amor de uma mulher
e muito menos pelo amor de um homem.
O melhor de tudo é não servir a ninguém e
trabalhar duro, pelas dúvidas que ninguém te sirva.
E depois se todo o bom não te chega
escreve versos de costado, sem cair no abismo,
sem derramar-te em lágrimas, sem morrer no final,
sem te abrir, sem chamar atenção, um verso só,
forte, que desgarre as fibras das letras,
mas que te passe por cima, além de tua carne.
Depois, descansa, toca a lira e canta em estrangeiro,
assim, quando já ninguém, ninguém, possa te compreender,
serás, inteiramente, livre, aberto à velhice.
SALTA, CORRE BRINCANDO PARA O AMOR
E DEIXA-TE CAIR
V
Salta, corre brincando para o amor e deixa-te cair,
sem respirar sequer, sem pensar no tempo; sem fé.
Caído, te agita com doçura extrema, uiva.
Deixa que o tempo se benza envergonhado,
enfrentado tua dança vital, distância insondável,
movimento de ave ou potro enlouquecido.
Deixa que a miséria te empape com seu odor a desgraça,
que a vida e as cores da vida te deixem cego.
E assim, sabendo-o, hás de morrer tranqüilo,
sem dever à vida, nem a nenhum Deus estranho,
nem a espíritos modernos, nem à carne, nada.
Sem dívidas, alvoroçado pelo movimento dos astros,
abraçado a quanto amor se presuma mover ou voar,
assim: sem nervosismos ou cálculos perfeitos,
assim, se morre e se volta a nascer, se é necessário,
cada vez, todos os dias, algumas noites, sempre.
NÃO ESTAMOS, EXATAMENTE,
EM NENHUM LUGAR
VI
Não estamos, exatamente, em nenhum lugar,
somos esses arcanjos negros,
que só aparecem para enfrentar-se com a morte.
Viver, viver no desejo, sem fome, sem sono,
invencíveis em nossa obstinação de viver.
E assim começamos cada dia, cegos amantes do sol,
mas, também, enlouquecidos amantes da chuva
e nos deixamos levar pelo vento dos furacões
e nunca necessitamos voltar a nenhum lugar
porque de nenhum lugar somos ou partimos.
A vida nos entra pelos olhos, quase sempre
e nos burlamos de tudo que nos circunda,
sem outra razão que estas cruéis lágrimas,
que não pensamos derramar,
que não pensamos oferecer a nenhum Deus,
porque nós somos deuses em nossa burla
e nem sequer ambicionamos morrer
porque de alguma maneira já morremos.
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