POESIA, CARTAS DE AMOR, PSICOANÁLISE,
EROTISMO OU PORNOGRAFIA?
ALGO DE POLÍTICA OU COLETA DE LIXO
E CARTA DO DIRETOR
O QUE QUER DIZER: "EU SOU UM
HOMEM"
QUANDO SOU EU QUEM FALA?
I
Acaso um vagalume cansado de voar, de iluminar o nada,
haverá de posar sobre meus ombros quietos e me fará feliz?
Ou talvez sou o homem que se inunda de beijos
e não consegue nunca deixar a solidão?
Mulher independente ou tigre liberado da selva?
Homem ou calmante vitaminado para os nervos?
Sou acaso quem pensa que nunca chegaremos
ou o ilusionado que se levanta todas as manhãs
para viver um novo porvir?
Ou melhor, serei feliz mulher que triunfou na vida
por não ter vivido quase nada e escrever tudo?
Beleza a de um homem deixando-se levar
por uma palavra fraturada,
partindo-se, também ele, em seu som.
Criança e ancião perguntando-se, em uníssono,
os acordes possíveis do mundo em que vivemos:
Parece que a vida não começará nunca.
Parece que a vida já terminou.
Não sei qual destes homens
será meu dono um dia
mas começo dizendo uma verdade:
a luta é cruel, as ambições imperfeitas.
Ela me quer para si, mas sempre diz não.
Depois, quando dorme cansada de lutar,
sonha que o mundo se detém a seu lado
e ela abre suas pernas, abre suas pernas
e já quereria ser totalmente do mundo
e já quereria que o mundo se faça carne
e o mundo, entristecido, sonho ou prisão,
desaparece e esse poço sem luz, esse vazio
é, justamente, o que a mulher ama.
Um homem que não sabe rir quando ri
que não sabe chorar ainda que um tango diga.
Um homem sem círculos nem retas.
Uma ave, mas Maria, que não sabe voar.
Depois, um dia, um santo me bendiz
e já sou outro mais, também, bendito.
Abandono mulheres e espaços desportivos,
me ajoelho sobre dura pedra invernal
e rezo contínuos avatares de minha vida:
Quanta dor, Senhor, leva minha alma
quando me toca por sorte
um amo que não quer ser amo
e só me usa e me deprecia.
Há mulheres em mim que amam a vida
e mulheres que ainda não começaram a amar
e outras que se foram e outras que vieram
e outras que voaram até chegar
à alma que não tenho
e plantaram o que não tinham
onde nada havia e construíram
um amor verdadeiro, mas invisível.
Ninguém via nada, ninguém tocava nada
mas todos ouvimos o estrondo de horror
do verdadeiro amor desaparecendo.
E houve homens em mim que desde a manhã
já estavam satisfeitos e cansados
e ficaram deitados, quietos, como mortos
esperando que alguém os amasse.
E alguém os amou, droga ou mulher sem rumo,
e o pobre homem que já não sabia falar
ficou aí onde havia estado sempre
toda sua vida quieto, como morto.
Mulheres, homens, perfis de panteras,
crocodilos famintos e vulcões em flor,
a selva cidadã, a cidade selvática,
o vento da música, a densidade da palavra,
se abrem em mim, põem minha alma a florescer,
ao som dos tambores libertários
do sexo e da loucura.
Sexo da deriva que nada ama.
Loucura da flor que ninguém conheceu.
Sexo das correntes cataclísmicas
Loucura é, a quietude em tua mirada.
Nada nos será dado da liberdade
sem arrancá-la de nossos corações.
Sexo que não conseguiu senão o poema.
Loucura que brilhou, só um instante.
Foram palavras
todos meus ódios, todos meus amores
o sexo e a loucura foram palavras
até a liberdade, só palavras.
- Estréia do curta metragem: "A maldade das coisas" *Não permitido para
público menor de 13 anos*.
Um curta metragem de plena atualidade: depois da explosão de gás
ocorrida em Getafe em 13 de janeiro, que cobrou várias vidas e causou
numerosos danos materiais, a diretora desta curta metragem, Rosa García,
nos mostra sua visão sobre o tema. Protagonizado por Antonia San Juan e
Luis Miguel Seguí que, em sua esquisita interpretação, alternam o
dramatismo com finas doses de humor. Realidade e jornalismo na tela.
A estréia terá lugar na quinta-feira 10 de fevereiro de 2005 às 20h. No Círculo
de Bellas Artes de Madrid, C/ Marqués de Casa Riera, 2 .