Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2005 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº 232 ANO V 13 de Janeiro de 2005 Madrid
5 MULHERES NO MUNDO
Cena no "Café Viena"
Menassa recita a Menassa
A VERDADEIRA VIAGEM
Cuidado! Cuidado!
Estamos a ponto de naufragar.
Haveis acreditado,
que no transatlântico poderoso navegávamos
e no entanto lhes digo:
minha vida é uma pequena balsa enamorada.
Vejo surgir, é certo, entre as sombras,
uma luz que ninguém apagará.
Formada de versos e perfumes como ventos insondáveis,
como uma catarata de carne abandonada,
que por fim encontra seu reinado.
Reinado de nuvens,
de antigas fragrâncias e de fragrâncias inconcebíveis.
Pequenas balsas enamoradas sempre a ponto de naufragar.
Por agora, toda paixão será remar,
até alcançar o poema nesse movimento.
Depois, algum dia, tereis,
em vossa pequena balsa enamorada vossos grandes amores.
Rema, até ficar sem forças e aí,
compreendereis o motivo de minha paixão.
Iremos pelos mais belos rios e com o tempo,
nos animaremos aos grandes oceanos,
à beleza das borrascas plenas no mar
e sempre, iremos temerosos de desaparecer,
pequenos, nessa imensidade que nos rodeia.
Saber nadar ou ser grandiosos, não servirá de nada,
para chegar, teremos que manter a balsa a flutuar
e manter-nos em cima da balsa.
Isso, e todo o mistério.
Um dia a balsa se partirá em mil fragmentos
e cada um,
terá que aprender a sustentar-se em pequenas madeiras.
Se é possível o poema é possível a vida.
Rema, agoniza remando,
até sentir que só é impossível.
Fica sem forças,
olha como outros remam e eu mesmo remo,
com as mãos ensangüentadas pelo esforço,
sem descansar, até encontrar nesse movimento o poema.
E cada um terá sua pequena balsa enamorada.
Dono de sua vida e de sua morte,
pode estender-se na balsa para sempre,
não remar mais e deixar que as águas o levem para qualquer lugar.
E algum outro, remando desesperadamente, ao vê-lo,
escreverá um poema.
Remar em qualquer direção tampouco serve.
A terra que promete a poesia sempre é a mesma.
Se chega ou não se chega.
Ela necessita reis, centauros,
só se deixa semear por revolucionários e fanáticos,
por homens que em sua terra,
construam sua casa e sua família, suas grandes ilusões.
Quem repita o feito jamais a encontrará.
Rema para chegar a essa terra como ninguém remou
e serão oferecidos a vossa chegada,
manjares que não foram oferecidos a ninguém.
E nas noites de desilusão,
quando nada é possível nessa obscuridade,
pede aos maiores que contem,
dos grandes navegantes, suas antigas façanhas,
em pequenos barquinhos de papel.
Cada trecho recorrido terá seus perigos.
Nada será fácil para o poeta.
Virá o amor e terá que se enamorar,
até sentir na carne a última dor.
E ao chegar a esse lugar,
terá que se enamorar ainda mais,
até sentir que a carne tremendo é um poema.
E assim chegará a inesquecível noite, o dia,
onde por um instante essa paixão será a poesia.
Diante da dúvida não deixar de remar.
Tomar em nossos braços,
fortalecidos como garras pela crueldade do exercício,
à pessoa amada e seguir remando,
se for necessário com os dentes.
Com o tempo ela, também, fará exercício conosco.
Depois, a dois, a três, com todos,
rota a imensidade do único,
virá a morte.
E não valerá nenhuma valentia,
porque ela se gaba de ter matado,
todos os valentes no primeiro encontro.
E tampouco valerá nenhuma covardia,
porque ela mata tudo o que foge.
Para encontrar-se com a morte, se necessita,
ter aprendido algo do amor:
Nem fugir. Nem arremeter contra nada.
Aprender a conversar tranqüilamente,
isso ensina o amor.
Quando ela se aproxime e venha por nós,
com sua mirada imensa como ela mesma é imensa,
deixa-la aproximar até que escute,
nossa respiração entrecortada pelo encontro.
E ela, enternecida como é seu costume,
nos estenderá a mão,
para que acompanhemos a vossa majestade,
ao imutável reino do silêncio.
Aí, quando se entregar é o mais fácil, mirá-la,
-nos olhos a imensidade que lhe pertence-
e dizer-lhe entre dentes:
Amada morte, minha namorada,
escreverei teu nome em todas as paredes,
beijarei sem temor teus lábios,
como nunca nenhum homem o fez
e te amarei, verás, entre o sangue,
nas grandes catástrofes e também, te amarei,
quando um branco botão reine em teu coração.
A grande emoção que recorre seu grande manto negro,
por encontrar-se de golpe em um poema,
faz da morte uma mulher.
Ela também terminará remando tranqüilamente até a orla
e compartilhará meu pão e meus amores
e voará pelas noites para cobiçar em seu seio,
aos que já deixaram de remar e voltará,
para encontrar-se comigo e contar-me suas façanhas.
Como se cada vez fosse a primeira,
voltarei a respirar como respiram os atletas
e por tê-lo aprendido dela,
a olharei enternecido
e lhe direi:
Minha morte enamorada e ela,
será feliz.
Depois há que seguir remando.
Já nos perguntarão e nós diremos:
temos estado com o amor
e temos estado, também, com a morte.
No princípio não acreditarão,
dirão que para o homem é impossível.
Nos pedirão provas,
nós lhes mostraremos como se lhes mostrássemos o céu,
alguns poemas e conseguiremos com esse gesto,
que chegue até nós o tempo da burla.
Grandes embarcações que nada buscam,
-porque crêem ter-
passarão uma e outra vez a nosso lado,
tratando de fundir com seus jogos,
nossa pequena balsa enamorada.
Nos chamarão desde suas luxuosas embarcações,
com os nomes com os quais se nomeiam os desperdícios.
Poetas. Locos. Assassinos.
E na algaravia estúpida de seus jogos,
tudo será possível. Nos atirarão algumas pedras
e se dirão, nada os ofende e enfurecidos,
nos gritarão: Combatei covardes! Os defenda.
E depois de mil vezes e outras mil,
com os olhos desorbitados pelo cansaço
e também pela surpresa de ver,
nossa pequena balsa enamorada seguindo seu caminho
e nós, tranqüilamente, sobre ela, remando.
Depois de ter atravessado ilesos o caminho da batalha,
virá, lhes asseguro, o tempo do ouro.
Eles, aborrecidos de suas próprias risadas,
quererão jogar o nosso jogo.
Quanto custa essa madeira a ponto de apodrecer
que usais de embarcação? e quanto vossa vida?
Quanto essas velhas cartas de navegação?
E quanto esses poemas?
Custam, senhor, o que custa a um homem,
deixar de pertencer e entregar-se ao poema.
Quanto dinheiro custa isso?
Todo e nenhum.
Talvez sua própria vida, acaso.
Quanto dinheiro custa minha vida, então?
Todo e nenhum. Sua vida são palavras como todas as vidas
e isso, tenho entendido, vale nada.
E quanto dinheiro custa pensar assim?
Todo e nenhum. Quem sabe há que submergir,
remar e não esperar nada. Isso custa.
Submergir e não esperar nada, nas trevas,
para outra obscuridade maior, o poema.
Uma vez enamorados o amor e a morte
e rechaçados o ouro e a batalha por impuros,
virá e de nenhuma parte,
-porque ela viveu sempre em nós-
a loucura.
O pior de todos os estreitos,
surge imprevisto,
por ser lei de seu destino, a surpresa.
E não vem por nenhuma briga,
porque traz o desejo de travar amizade com o poeta.
E quando chega nos diz entre sussurros,
que seu mundo e o mundo da poesia,
são o mesmo mundo.
Diante da dúvida há que seguir remando.
Informe, se deixa moldar por nossas palavras,
e no tempo ela, também, tem sua grandeza.
Eu sou do amor, nos disse, esse desenfreio
e a paixão eterna da morte.
Tenho por costume depreciar o ouro,
e no entanto,
as ânsias por matar que geram suas leis,
estão intoxicadas de loucura.
Aí, ela e a poesia se parecem.
A instantes de se juntar em nossa mirada,
como si fossem uma só coisa,
a poesia, velha loba de mar,
rema um trecho conosco para nos mostrar,
que a loucura, desde que chegou,
permanece no mesmo lugar da pequena balsa,
sem remar, recordando todo o tempo seu passado.
Contentes de ter compreendido a diferença,
encerramos à loucura num poema
e seguimos remando até que um dia,
convencidos de sua torpeza para a navegação,
a entregamos ao amor e à morte,
para que a loucura, aprenda a voar.
Índio Gris ISTO É PUBLICIDADE
- Fechamento da mostra de óleos: "COPIANDO EM CASA 2004"
27 de Janeiro às 20h Grupo Cero,
C/ Duque de Osuna 4, 28015 Madrid - Tel. 91 758 19 40
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