Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2004 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº 226 ANO V 13 de Agosto de 2004 Buenos Aires
RECITAL POÉTICO MUSICAL
"MIGUEL OSCAR MENASSA."
acompanhado pelos ÍNDIOS GRISES
em A nave dos sonhos.
• ELA, ÀS VEZES, PEDIA CADA COISA
Ela, às vezes, pedia cada coisa
que em seguida disparava minha imaginação.
Um dia me perguntou pelo exílio e lhe disse:
Hoje pintei da muerte algum brilho
e a luxúria inquestionável da fome.
Não é que tenha morrido ou comido algo
foi um verde que rasgou a realidade
que atravessou os vermelhos e os serenos malvas
que se adonou do centro da vida
que foi a sua vez, verde e canção,
verde e fogo e sombra e coração
e semeou todo o mundo
de corpos verdes florescendo ao amor.
Não foi a lua pousando em minha mão
foi o prata de minha infância onde um rio
era água e metal, reflexo e movimento.
Quando o prata de meu rio canta
até o sol estremece tal qual um homem,
luxurioso, diante dos brilhos da amada.
O rio turvo e varão e a mulher de prata,
fazem frente a uma cidade desconsolada,
de uma maneira permanente, amor.
Depois, desenho uma clara princesa
em um novo caderno
e chego dessa maneira a Praça de Espanha
e não recordo se não com alegria
os primeiros anos do exílio.
De comer não tinha, segui dizendo,
e o frio diferente me congelava
mas caminhar pela rua
como se fosse um órfão,
sem teto e sem amor, me fazia bem,
não exatamente forte, mas mais precavido:
Nenhuma viagem mais alterará minha vida.
Fico aquí, ao sul da Europa,
em Madrid, para sempre, escrevendo.
Sem olhar atrás, disse-lhe olhando-a nos olhos,
mas tampouco olhando para diante,
sem mirar, sentado e escrevendo, isso é tudo.
E passou, meu amor, mais de um quarto de século
e aqui me tens, sentado e escrevendo.
Tudo passou por mim e tudo se distanciou.
Nunca retive nada e nunca
deixei que nada escapasse.
Todo o meu estava aí, comigo
e fui um poema roto ou sempre por fazer
uma pele enamorada de si mesma ou morta
e as calhandras, isso sim, as calhandras
fazendo círculos ilusórios
sobre a pele do tempo,
voavam a nosso lado até morrer.
Posso assegurar-te, meu amor, que,
exatamente, no meio da dor,
o espectáculo das rosas crescendo,
ao passar dos anos, era maravilhoso.
Está bem, disse ela,
me dou por enterada.
• NO POEMA DE ONTEM TE PASSASTE
No poema de ontem te passaste
viste como gozava a putinha com tua voz?
Em lugar de escutar-te, passou distraída,
durante todo o poema, acariciando-te,
quando tão bem lhe faria escutar tuas palavras.
Bom, lhe disse, tratando de acalmá-la,
Quem sabe me escutava e, ao mesmo tempo,
se acariciava,
tratando de unir o corpo à melodia.
Claro, como se isso fosse uma coisa fácil
ou lhe atribues poderes que não tem
porque ela é uma de tuas criações?
É certo que eu atribuo a todo mundo
um degrau mais alto ou maior ou superior,
mas quero que me entenda,
seguirei escrevendo este poema imenso
mas alguém tem que saber
que antes de escrever estes versos
eu, a ela, não conhecia.
O homem, algo de razão tem,
dise ela rindo, talvez, de si mesma,
quem pode conhecer
a quem se mostra para não ser vista,
a quem compra pão quando o que tem é sede?
Vamos ver, quem pode conhecer
a quem, sendo a inventora do amor,
o século XX condenou por não saber amar?
E, molestando-se ao falar com os movimentos
de seu corpo desnudando-se repetiu, em voz baixa:
O homem algo de razão tem...
Tampouco é para tanto, lhe disse
enquanto lentamente afrouxava o nó
de minha gravata monocor quase de seda,
não disse, exatamente, que não te conhecia,
disse, amor meu, que não conhecia a mulher
e, tampouco, é para tanto,
tu te mostras, não tanto, para não ser vista
senão para que não me vejam.
E não és, exageradamente, boa
quando compras pão e só tens sede,
porque sabes que eu me ocupo da água
e não vejo como te condenou o século XX,
mas bem, o século XX te fez a bola
te falou de independência, de amor em liberdade
te disse que haveria um dinheiro com teu nome
e que, se te capacitavas segundo seu critério,
te deixaria governar junto aos homens.
Tens que sabê-lo, se és uma mulher
o século XX, querida, te mentiu.
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