EDITORIAL

Começar um caderno é como começar a viver outra vida.
Estou no salão de minha nova casa na rua Princesa.
Uma árvore entra por minha pequena sacada
e se senta a minha mesa.
- Verde de primavera, disse por dizer, e ele me respondeu:
- Estou envergonhado pela guerra
e se atirou da sacada à calçada
e se fez flor quase tocando o solo,
estrela do asfalto.
Eu fiquei sentado, sem esperar
nada da guerra.
 

Menassa recitando Editorial (2:17 min)
    (No se desespere mientras baja el video)
 

Uma espécie de dor sem dor.
Algo aberto, encarnado.
Um delírio de amor, mas normal.
Chegamos até o limite de quase tudo
e não encontramos quase nada,
por isso somos normais.

Mesmo que tudo se apague ou se fragmente,
a escritura é sempre luz.
Me sinto muito vigiado como para sair voando,
mas, algum dia, voarei.
 
Menassa recitando Poesia (1:08 min)
 

Basta de amor, quer dizer que os resultados positivos, também, se conseguem por caminhos diversos que não são o amor.

Quando o resultado é negativo ou pouco benéfico, o candidato já disse que não a vários caminhos.

Por isso, não vale a pena experimentar outros caminhos, há que mudar de candidato.
Temos que nos liberar de velhas ideologias.
O poder que dá o dinheiro não é para todos,
mas as batatas tampouco e são muito mais baratas.
Há algo que deverá ser processado no mundo,
mas isso não está em mim.

Menassa recitando Psicoanálise (1:21 min)

CADA QUAL, COM SUA FAMÍLIA
E QUEM NÃO TEM FAMÍLIA SE SALVA.

Foder é foder e, para a mulher, para o homem, isso não serve para nada. Foder é uma coisa da espécie. Deve ser por isso que todo mundo faz e ninguém pode suportar de todo.

Menassa recitando Erotismo (1:31min)

Devemos viver,
devemos viver,
como devemos viver?
 
Ela tece
e não destece
seus pontos impossíveis.
Elabora sem descanso
seu enredo final.
Se a deixamos fazer
é
para vê-la morrer,
amante dos nós,
dos equívocos.
Tece,
disse,
e não destece,
ela na verdade não sabe o que faz.
Existir,
existe.
 
Seu dilema:
viver.
Desesperar,
desesperar,
alterar os últimos sentidos
será
quase impossível.
Nosso corpo dirá que não,
cada tempo de nosso corpo,
voltará a ser
o mesmo tempo,
aquele.
Escrever somente,
morrer somente,
tibias promessas.
Fugir,
deixar que o tempo
-vento feroz,
incalculável-
atravesse meu nada,
meu gosto final.
 
Estou,
agora,
atravessado por uma ilusão,
poder de poderes.
Vital sabedoria podre,
no próprio centro de meu ser.
Opaca maravilha,
miséria e solidão,
um encontro recíproco.
Ela e ele
têm
os mesmos direitos.
Que morram juntos.

Menassa recitando Política ou coleta de lixo (3:17 min)
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