ÍNDIO GRIS
REVISTA UNIPESSOAL DE COLETA DE
LIXO
N° 2. Ano 2000.
Quinta-feira 8 de junho
UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2000
NÃO SABEMOS FALAR MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS
IDIOMAS
CASTELHANO, FRANCÊS, INGLÊS, ALEMÃO
ÁRABE, PORTUGUÊS, ITALIANO E CATALÃO
ÍNDIO GRIS,
É PRODUTO
DE UMA FUSÃO
O BRILHO DO CINZA
E
O ÍNDIO DO JARAMA
A FUSÃO COM MAIS FUTURO DO SÉCULO
XXI
Rafa, Rafita, como sua mãe o chama, estava desolado e, hoje, para me falar se deitou no divã. -Estou preocupado, balbuceou, hoje a fiz chupar mais de meia hora por Jacinta Unzué e, enquanto ela se acabou seis vezes só de me chupar, eu nada. Bom, nada não, porém não pude ejacular. Em duas ou três oportunidades, enquanto me chupava, sentia algo parecido com um orgasmo mas, como não ejaculei, fiquei como que triste, abandonado. Ela, quando se foi, sorria feliz e me disse que ia contente porque havia se sentido amada por mim. Rafa ficou em silêncio um longo instante e logo comentou meio irônico: cada vez estou mais tempo com as mulheres e estou conseguindo desconhecê-las por completo... como exemplo, posso lhe contar o que me aconteceu semana passada... Interrompi para dizer-lhe que por hoje era suficiente e nos despedimos até a próxima. Quando Rafa se foi, eu fiquei pensando em minha própria sexualidade que quase não tinha ou, pelo menos, não podia me dar conta, exatamente, de qual era minha sexualidade. Passava todo o dia trabalhando-a e, quando não trabalhava, escrevia e, quando não trabalhava nem escrevia, pintava. Me sentia amado por muitas pessoas, mulheres, homens e crianças. Às vezes chegava a pensar que eram muitas as pessoas que me amavam. Pouco a pouco iria tonteando. Já havia acontecido com Federico, morrendo e não havia se dado conta de nada, de quase nada.
Hoje mandei flores para Gloria Fuertes. Me senti bem ao fazê-lo, mesmo que nunca terminasse de entender porque fazia estes atos: enviar telegramas ao Rei, flores aos poetas, livros a pessoas que não lia. Quando tocou o telefone, me assustei e demorei para atendê-lo. Ao me levantar já haviam desligado. Abandonei o consultório e saí para dar um passeio, caminhando sobre minhas próprias pernas. Enquanto passeava, me pediram esmola e eu, como quando era jovem, disse ao mendigo: Eu não dou esmola, sou marxista. Depois fui rindo de mim mesmo até chegar ao bar.
Tenho que aprender a lidar as distâncias. Buenos Aires, o mundo, mas sem me mover de Madrid.
Lidar bem com o assunto quer dizer fazer durar os negócios como duram os conceitos de longa duração, a alma, por exemplo, Deus.
Hoje só me interessa saber algo do jogo, algo da mulher. E, por outro lado, me dou conta que não posso exigir que se entenda o que eu não entendo.
Tenho que colocar um limite em minha loucura. Algo tem que ficar em pé para que a soma seja possível.
As pessoas têm que ser educadas. Todas as pessoas têm que ser educadas. Esta vez, a educação tem que chegar até minha própria família, eu incluído.
Que isto que acontece comigo seja a vida, me impressiona. Me cabe não me associar a nada. Ser o nome das coisas, e isto me parece brutal, simplesmente brutal.
Percebo que há certas coisas que já não devo fazer. Alguns grupos, algumas relações. Quando volte, não quero voltar.
Invento o coração da serpente e não é nenhuma invenção.
Me demonstraram confiantes que, minhas idéias, em especial, não interessam a ninguém. É por isto que decido seguir adiante como sou: Um profissional independente.
Algo poderei neste século e já estou falando do século XXI.
Cada dia que passa, descubro algo terrível: não se pode trabalhar com gente que não quer trabalhar.
Gostaria de viver mais 31 anos. No total, 90 anos. Que barbaridade. 31 anos. Rompo com ela, acabo com ela, sem mais, acabo com ela.
Ela vive para trepar, por isto não faz nada de útil. Porém, quase não trepar porque vai pela vida dizendo que não gosta de trepar.
Hoje decidi jogar um pouco menos e vi como o mundo desmoronava. Com esta sensação, não pude deixar de jogar. Viva eu, pois eu é o soberano.
DROGAS, SEXO E ALGUMA TRAIÇÃO, este poderia ser o título da minha próxima novela. Exemplo: Comecei a fumar maconha ao completar trinta anos, idade na qual deixei de me masturbar sozinho. Lembro que escrevi na parede do banheiro JÁ BASTA DE MASTURBAÇÃO SOZINHO.
Aprendi a jogar pocker e a emudecer diante de uma mulher bonita quando falava, para que não acreditasse que estava com ela por sua beleza. E falava todo o tempo diante de uma mulher inteligente para lhe mostrar que com minha inteligência era suficiente. Eu a amava, dizia-o de mil maneiras, por sua beleza.
Aos 52 anos, aprendi a morrer. Aos 53 anos, aprendi a chorar. Aos 54 anos, aprendi a dizer adeus e me tornei todo do Grupo Cero. Aos 55 anos, quis voltar a Buenos Aires e um vento me levou longe de mim. Aos 56 anos, me despi diante de um espelho maior do que eu e fui feliz. Aos 57 anos, deixei que o Índio do Jarama remexesse em sua memória. Aos 58 anos, publiquei os versos de meu filho Pablo. Aos 59 anos, rompi algumas cadeias e escrevi o Manifesto de 99. Aos 60 anos, e isto vai para a noite dos amigos, também aprenderei a dançar tango.
Ao completar um ano de vida, já padecia de uma fortaleza exagerada. Me prendia às tetas sagradas de minha mãe e me movia e sugava, sem nenhum compasso, até esgotá-la.
Aos dois anos, caminhava junto com meu pai de um lado para outro até cair rendido. Ele me tomava nos braços com ternura e me entregava, novamente, a minha mãe.
Estou como louco, com ganas de escrever e sou acossado pelos fantasmas da realidade.
Estou próximo de algo, começo a me cuidar melhor.
IMPORTÂNCIA DE UMA ESCOLA DE PSICOANÁLISE
FRASES
- A Escola tem uma lei, a da Psicoanálise.
- A tolerância das diferenças é uma tolerância psicoanalítica.
- Não posso humanizar sem estar previamente humanizado.
-Não posso psicoanalisar sem estar previamente psicoanalisado e, previamente, para um psicoanalista, é sempre.
- A psicoanálise é civilizadora.
- Uma Escola é o que impede que os psicoanalistas se esqueçam do inconsciente.
- A impossibilidade de aliança dá conta da abolição do objeto a, que é o único que determina ao sujeito como mortal.
- A psicoanálise põe em marcha outra economia.
- As palavras não trazem nada atrás delas.
- Transformar-se em trabalhadores é o primeiro passo para se pensar dentro do campo psicoanalítico.
- Se um psicoanalista duvida de seu serviço ao paciente, podemos assegurar que o psicoanalista está sem psicoanálise.
- Ser culto é uma exigência para um psicoanalista e ser culto é vibrar como vibra a época.
- A inveja é o que me distancia do acontecimento.
- Os ciúmes, também, são portas do desejo.
- Todo o normal é enfermidade no sujeito.
- A loucura, se não é comprovada por ninguém, é recompensada.
- A realidade não existe, se constrói.
- Se algo cresce muito (aulas de psicoanálise para multidões que não se psicoanalisam ou psicoanalistas de 10 pacientes ou mais por hora) alguém tem que pensar se o que cresce não serão, simplesmente, batatas.