AZNAR Y SCHRÖDER divergem sobre a
partilha de poder na Europa.
EL PAIS (Quarta-feira 5 de novembre de 2003)
MULHER
AOS 70 ANOS
Eu tive um marido
que não me batia
mas não me dava
nem para viajar.
Quando completei 65 anos
o caradura me disse assim:
Vendi nossa casa
e devemos entregá-la
antes que termine o mês.
E todo nosso dinheiro
que estava no banco
presenteei a um amigo
que nunca te quis.
Assim, minha querida,
estás condenada.
Eu morro amanhã
e vou à tumba
e tu sem dinheiro,
sem amor, sem casa,
rodarás solitária,
pedindo por pão.
E o pobre homem
dizendo estas palavras
saiu para tomar a fresca
e de golpe morreu.
E eu fiquei na rua,
sozinha à intempérie,
sem comida e sem água
e então despertei.
E agora me dedico
aos setenta anos
a ser a prostituta
dos velhos de cem.
Faço-lhes uma carícia
lhes leio algum poema
e se algum chora
de raiva ou de tristeza,
de saudade ou de ódio,
eu lhes faço mais carícias
e lhesbeijo as bochechas.
E como vêem, senhoras e senhores,
meu trabalho é muito simples
e mais que uma grande puta
pareço uma instrutora.
Mas o problema provém
que os velhinhos perversos
enlouquecem de gozo
quando me chamam rameira.
¡Puta vem!
¡Puta, um copo de água!
Puta vem,
recita este poema de Verlaine.
Deusa do sonho
puta da noite,
dá-me o comprimido
que quero dormir.
E eu me sinto
quase uma Santa,
trabalhando todo o dia
com os anciãos de cem.
Mas todo mundo
tem que saber,
letrado, periodistas
e minha mãe também,
que os velhinhos
dormem pensando
que com uma grande puta
fizeram amor.