No
encontro com as lágrimas ela, poderíamos
dizer, era feliz. Buscava, chorando,
um destino
e se encontrava em
seu interior, sempre chorando, a
si mesma.
O
homem sofre sempre pelo mesmo, no cúspide da
poesia, ainda, sinto que meu homem
pode morrer por falta de comida.
E de amor? perguntou ela
suspicaz e, sem esperar algum gesto meu ou
alguma resposta, se balançou sobre
minhas pobres dúvidas
e rompeu tudo o que
se rompia.
E
falava de mim e dela como se fôssemos a
mesma pessoa: Depois, também, estão
essas mulheres que te amam porque
estão aborrecidas ou melhor, aquelas
que estão loucas
e estão a teu lado
como uma técnica de defensa pessoal
contra a loucura. Isso, para mim, também
acontece,
quando tudo está
por estourar
quando já não
tolero os pássaros voando, me descomponho em
teus braços, um instante
e o mundo volta a
ser o que era.
Hoje
estou intoxicado de várias maneiras, querida, lhe disse,
à beira do desmaio.
O álcool da festa,
teus beijos de ébria
me fazendo gozar até
o amanhecer
e, depois, esse
presente de ouro do Himalaya, levaram a intoxicação
ao centro do delírio. Me via chegando aos
lugares em silêncio, vários de meus
amores morreram de espanto por minha maneira
sigilosa de chegar à pele.
Me
acontece muito pior, disse ela,
às vezes, sou uma
escrava de mim mesma, me encadeio e me
golpeio sem consideração
e me pergunto o que
foi que aconteceu:
Éramos
duendes e selvagens, tudo ao mesmo tempo. Duendes quando fazíamos
amor selvagens quando falávamos.
Tudo
há de se cumprir inexoravelmente, dizia ela,
entusiasmada, e eu dou outra tragada
e a fumaça, nem
quente, nem fria, nem sequer fumaça, me envolve em um
torbelínio de loucura que não posso senão
reconhecer como própria.
Logo
começam a tremer as guitarras
e a tarde contempla
a si mesma
e se sente feliz
porque a festa há de começar
antes de sua morte.
E
num dia de festa se mescla tudo, uma senhora gorda e
até um bebê chorando, uma mãe desmamada e
ansiosa
e a central leiteira
de folga geral.
A
pobre criança sofre os primeiros dias mas decide viver e
se amamenta sozinha, depois, quando é um
homem, necessita sentir que alguém o quer
porque sim, por nada,
e, mesmo que seja um
triunfador em tudo o que faça, é capaz de morrer
todos os dias por amor.
Uma
noite fatal, de taças e de
amores, uma mulher lhe disse: Necessitas o amor de
tua mãe
e elelhe assestou, sem dizer palavra, trinta punhaladas.
O
Índio Gris
MORAL
DA HISTÓRIA PARA OS PSICOANALISTAS: A
interpretação fora de sessão é uma agressão.