Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2002 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº 125 ANO III EDITORIAL ENTREVISTA AO POETA MIGUEL OSCAR MENASSACS: Me impressionou muito uma frase sua que diz: “Espero não ter lhes convencido de nada que não estivessem convencidos já antes da penetração”. Quer dizer que o que está convencido porá o trabalho necessário? MOM: Quando a gente pergunta: de quem é a bondade? Às vezes responde “da psicoanálise, que me tirou do problema”. Um bom psicoanalista teria que responder que quem tirou o paciente do problema foi o próprio paciente: pagou, veio e, depois que o psicoanalista, se é um bom psicoanalista, lhe disse que talvez ele tinha algo a ver com seus males, o paciente seguiu vindo, seguiu pagando. Então, quando soluciona o problema, na realidade quem deveria ser felicitado seria o paciente. Por quê? Porque o psicoanalista já cobrou por seu trabalho, o psicoanalista trabalha de psicoanalista e tem que se conformar com o que cobra... Se ainda por cima o tens que felicitar...! Tu felicitas a quem faz ladrilhos? O cara faz vinte ladrilhos, depois eu com os ladrilhos posso fazer uma casa maravilhosa, o obreiro não tem nada que ver, por que o psicoanalista tem que ver? O psicoanalista já cobrou seu trabalho, tem que se contentar com seus honorários, que são bastante altos, por outra parte. Não é que os meus sejam baixos, os meus são os mais altos de todos, mas eu me ocupo trabalhando quando trabalho, não estou pensando bobagens. E além disto não somente trabalho senão que me dou conta que sem um grande desejo do sujeito é impossível curar alguém. Porque não há um só médico que diga “eu curei fulano”, se o paciente não viesse com o desejo de que você o curasse, não o cura. Tanto isto é assim, que vai um paciente a um médico que lhe receita um medicamento e com esse médico não se cura, vai a outro e, com o mesmo medicamento, se cura. Então não é o médico, é o paciente, porque o outro médico não lhe dá outro tratamento, lhe dá o mesmo tratamento e no entanto se cura. Isso quer dizer que o paciente elege. Salvei-lhe a vida, sim, mas também eu lhe agradeço, senhor paciente. Já sei que não se pode andar dizendo isso, “lhe agradeço, senhor paciente, que você tenha decidido que eu lhe salvasse a vida”. Com as relações sexuais o mesmo, alguém diz: “fodi este”, quando não, é o outro quem decidiu entregar-se aí, e se não, o que és? Um violador. Somos todos violadores. É o que ensinam os estados: "não te agrado? Te destruo", então no final as pessoas terminam vivendo assim. Não gostaste da trepada da noite? Te destruo. Logo, te enganaste e me trouxeste bombons de chocolate amargo em lugar de bombons de chocolate doce, me suicido. É um pouco o que ensinam os governos. O assunto dos judeus na Palestina, que mostram uma fotografia de uma menina brincando com um fuzil e dizem, “lhes lavam a cabeça desde pequenos”, e os judeus: sabem o que fazem? Todo o serviço social está montado para ter um militar de primeira aos 17 anos. E logo dizem que os outros fazem a guerra quando eles têm todo o serviço social (que deve ser o melhor do mundo) para que o soldado chegue aos 17 anos puro, forte, grande, lindo, para fazer a guerra, e logo acusam os outros que ensinam aos meninos a atirar. E o que queres que lhes ensinemos, filho da puta, a brincar com as bonecas? CS: Na Europa mandam os meninos fazerem a comunhão vestidos de marinheirinhos, de capitão general... MOM: Logo também as pessoas se masturbam muito. Terminam um poema e o lêem uma vez, duas vezes, dois anos, três anos, na realidade me parece isto mais lindo que aquilo porque isto está por ser feito, não tenho que ocupar-me do que está feito. Dos filhos há que se ocupar quando são pequenos, não vais te ocupar quando têm 40 anos dizendo: “nenê não faças isto, nenê não faças aquilo”, porque os pais são assim, não se ocupam quando são pequenos e depois se ocupam quando são grandes. Público: Mas se ocupam quando são grandes, igual para não se ocupar deles mesmos. MOM: Também, muito bem, você se interpretou sozinho, não faz falta que alguém o interprete. Muito bem. CS: E viceversa, “papai, onde vais a esta hora?” MOM: Também. Sim porque como agora as mulheres já não podem fazer cenas de ciúmes porque fica mal, agora fazem cenas de ciúmes os filhos. CS: Outro dia, na TV1, há uma série nova onde a mãe diz: “vou operar as tetas” e lhe chega o filho de 30 anos e diz "as mães tem peitos ou tetas?”. AD: Peitos para os filhos ou tetas para os homens. MOM: Por exemplo, eu gosto do Grupo Cero porque eu sou um psicoanalista que trabalha. Trabalhar 40-50 horas semanais, estudar, fazer livros de psicoanálise, mas se, além disto, não escreves um livro de poesia as pessoas começam a te olhar mal. Sabes por que te começam a olhar mal? Porque se não tens um livro de poesia quer dizer que não lês poesia; se lesses poesia, publicarias poesia. Então te castigam porque não lês poesia, escrever é o resultado de ler poesia. E depois, o integrante faz o que quer, mas se tu vens perguntar: “Menassa, o que faço? Compro um iate ou sigo investindo em minha formação?”Eu te digo que sigas investindo em tua formação. CS: E se compra iate e se arruína lhe dizes: “já o tinha dito”. MOM: Não, sempre estou esperando que o outro, quando me contradiz, ganhe mais dinheiro do que eu ganho. Sempre espero isso.
SOLDADO DA NOITE Soldado da
noite. Vigio Guardião no
céu de minha vida, Ato meus
olhos à lembrança: Me detenho,
obstinadamente, no passado Pedaços de
pele,
QUERIDA: Trabalhando a eterna solidão da alma, sustenido vento, tempo dos furões destinados a advertir da eterna solidão das estrelas, arcas advindas mares sangrentos. Ventre parindo universos, não queremos ser mais, simples profissionais da alma. É feliz a realidade, serpente encasquetada, dor enorme do saber escondido do nada. Como me agrada perder o tempo da felicidade, isto é, ninguém há de querer voltar a amar os rastros arteiros do nada. É verossímil que o homem fale das dissolventes e doentias familiaridades perenes destes dias felizes do passado, aquela situação obstinada da dor alheia, por todas partes alegremente levada a tristezas marinhas encontradas. Estou em mim, vagalume enamorado do tempo dos marechais envolvidos assassinados, no qual a vista da dor falava de dias em que comíamos amor.
Ela me diz que tudo o suja. Pergunto-lhe: - Com fluxo? - Não, doutor! -exclamou ela- com sangue, com maldade. - Talvez -lhe disse- os supérfluos encantos do dinheiro tenham, por fim, produzido uma chama em nós. - Uma chama? -diz. - Bom, uma sujeira, como você diz, que dá no mesmo. Continuamos na próxima.
Nos encontramos com um montão de companheiros, e eu disse em voz alta diante de todos a olhando: - Algum dia faremos amor e será maravilhoso, e ela ruborizou... Caminhando de volta ao meu trabalho, a recordei com as bochechas avermelhadas e a amei e me dei conta que a tinha amado sempre. E quando cheguei a minha casa senti que era um demônio e que, também, era angelical, e essa diferença entre demônio e ânjo para nomeá-la me punha desejoso e enquanto endurecia a pica, chamava a todas as mulheres que, ela, me havia nomeado enquanto fazíamos amor, uma por uma e as fodia, todas, por telefone. Até o dia de hoje, votaram: Pornografia: 264.000 Erotismo: 455.000
1 Ficar imóvel, cego, olhando como tudo se destrói, não há de ser bom para ninguém, nem sequer para quem nada vê. 2 Tenho que me ocupar da realidade, se não, não me deixarão nem uma só laje de porvir.
Não
se deve forçar a máquina nunca mais. Espanha é assim, débil, romântica.
Reformulação
política. Um homem que no peito não tem sentimentos senão um farol não pode romper seu peito de dor, porque o que dói são os sentimentos e não, como se crê, a luz. Vestido como para me casar uma vez mais, arrasto atrás de mim um baile efervescente, louco de alegria por ser mais. Baixar as ambições, também, é estendê-las, dissiminá-las. Toda lei é resultado da leitura de complicadas teorias, mas a lei aparece plana, sem rancores, pelo trabalho que custou formulá-la. Índio Gris ISTO É PUBLICIDADE
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