Da
minha cidade natal
hoje recebi uma carta
onde me diziam que
ao completar 62 anos
provocaria grandes inundações
na América e no resto do mundo.
Que não me preocupasse, me diziam,
que não és tu, são teus 62 anos.
É
a encarnação pura do dilúvio,
de uma velha lenda e de teu canto,
há de ocorrer, exatamente, aos 62 anos
quando o poeta se rompa na tormenta.
Na
verdade não fiz caso da carta
mesmo que tenha me dado conta de
que as inundações assolavam o mundo.
Na inteligente e sábia Europa
os cidadãos morriam
tragados pela água
como em um país pobre onde a água
é esperada todo o tempo,
à beira da morte por sua falta
e quando vem a água
borra todos os limites e já,
sem que ninguém possa deter a água
reina a morte por todo lado.
Nem
a Rússia poderosa
nem a China comunista
com seus milhões de voluntários
puderam deter
o fluxo maligno da água
ao completar 62 anos.
Também,
devo dizê-lo,
sentiram o pulsar da água,
os implantadores de um viver
que ninguém haverá de suportar,
sem desordem, sem névoa,
sem esses altos e baixos da dor e do riso,
sem o obscuro sexo das altas paixões
sem esse amor impossível e grandioso,
do poema que haveremos de escrever,
talvez, mais adiante.
Esses estados unidos modernos do terror
esses homens repletos do poder das armas
iriam morrer afogados, propriamente, em seus prantos.
E é aos 62 anos que me disponho,
com um talante generoso, a festejar
viver num mundo onde ninguém sabe,
se deve ou se presenteia, se ama ou se deseja
se obrigado a viver ou interessado
se valente ou inquieto ou covarde sem fé.
E
se não quero falar do homem
como se deveria,
é porque o homem foi tudo
e nada lhe agradou.
Nem
serpente nem árvore,
nem cego nem profeta,
nem furtivo alcaguete
nem homem da lei.
Não quis nunca
ser obreiro ou patrão
e nunca teve fábrica
e nada se plantava nele.
E quando apesar de si
de sua vigilância,
alguma uva crescia no deserto,
sem pronunciar palavra, a bebia.
Era
impossível viver nesse mundo,
todo mundo morria
e quem não morria, esperava morrer.
Era impossível amar nesse mundo
ou ter ilusões e, no entanto,
ao completar os 62 anos
quero confessar-me adito
ao cruel viver.
Me
passa que, tudo o que faço
o que amo, vocifero ou trabalho
é só para seguir vivendo e
qual drogadito aferrado a sua presa
estou disposto a tudo por viver.
E
virão cataclismos e ciclones
inundações e guerras por todo lado
e eu, sentado, escrevendo meus versos,
fazendo do cataclismo minha guarida,
do ciclone meu alento e da pólvora
minha inseparável companheira.
Virão,
desesperados,
os mortos reclamando
o direito a estar mortos.
Virão asas do tempo
a voar em nós
o adeus da vida
mas minha droga,
o desejo de viver contra tudo,
sentará em seus joelhos
aos mortos
e na mesa a comer,
tranqüilamente,
as asas do adeus.
TENS
QUE PODER ENCONTRAR NESTAS PÁGINAS,
CHEIAS DE ERROS, AS SEÇÕES HABITUAIS DO ÍNDIO GRIS
( POESIA, CARTAS DE
AMOR, PSICOANÁLISE, EROTISMO, POLÍTICA E CARTAS DO DIRETOR). ANIME-SE!
DIRIJA CONOSCO
ENTREVISTA
AO POETA MIGUEL OSCAR MENASSA
PARA A REVISTA “O ÍNDIO GRIS”
Domingo,
15 de setembro de 2002
Miguel
Oscar Menassa: Estamos pintando em casa, o
pessoal está nervoso, tinham se esquecido de acender a luz. Ui! Que tela
tão pequena que tenho diante de mim. Sou todo vosso, tanto das
realizadoras como da entrevistadora. A entrevistadora pensou algo para mim?
Carmen
Salamanca: Sim, a capa de El País de ontem.
MOM:
Sensacional. Genial, diretamente genial. Além disto, nunca em El País
apareceram tantos nomes de artistas famosos e de poetas famosos, na
entrevista e como nos insultos que faziam a David. Tiveram que nomear a três
ou quatro poetas, a três ou quatro criadores. Me parece sensacional o que
fez. Numa das declarações disse: “Eu queria levar a cultura à moda e
não se pôde”. Bom, eu sou um pouco maior do que ele, vamos dizer a
verdade: Sim se pôde, olhem o que fez, levou a cultura à moda. Nas duas
ou três páginas que dedicam os jornais à moda, jamais apareceram tantos
nomes de poetas, um agora pode eleger no artigo da moda algum poeta e lê-lo,
para mim parece sensacional o efeito social.
CS:
Fala-me do efeito social, a repercussão, o escândalo.
MOM:
Vamos analisar o periodista de El País, que foi o primeiro que se
levantou e assim organizou que outros periodistas se levantassem, porque
El País é um jornal poderoso em nossa cidade, tinhas te dado conta?
CS:
Sim.
MOM:
Então, o cara se levantou, nem por assomo por todas as estupidezes que
disse: Que porque era imoral, porque era contra a mulher, porque era a
favor dos Talibãs. Nenhuma dessas coisas. Ele se levantou (e vocês vão
sorrir, porque os psicoanalistas sempre falamos do mesmo) por inveja,
porque se deu conta de que o que estava vendo era o capa de todos os diários
do dia seguinte e vá saber se hoje, há 48 horas, não é capa de alguma
das revistas da Europa, de algum dos diários da Europa. Ele é um bom
periodista, mas invejoso. Ele se deu conta. E ainda, podemos dizer, que é
um pouco perverso o periodista de El País, porque lhe pareceu imoral, mas
o filmou, o fotografou, saiu correndo do estádio, não tanto porque sua
moral estava morta, senão que saiu correndo da passarela Cibeles para ser
ele quem poria no portal a notícia.
CS:
Ajudou a torná-lo capa.
MOM:
Exatamente, ele foi. Bom, dentro de tudo volto a insistir que é um bom
periodista porque, em lugar de sacar uma metralhadora, como talvez tivesse
querido, e varrer todas as modelos, sobre tudo a pequena das tetas (que
lhe deve dar uma inveja porque a mulher dele não deve ter essas tetas).
Dentro de tudo, supera a inveja: foi e escreveu contra, disse que lhe
tinha dado asco. Depois também uma idéia sutil de outro periodista, um
artigo, me parece que, por desgraça, do mesmo diário, como era a notícia?Que tomavam frivolamente o tema do maltrato à mulher.
Exatamente,
e da violência familiar e não sei o quê. Mas olhando-o bem, na
realidade, eu não digo que nosso jovem e genial desenhista o sabia, mas
fez um sarcasmo, no sentido de que mostrou ao governo, ao Partido
Socialista, ao PP e ao resto do povo espanhol, como o povo espanhol em sua
totalidade, incluído o PP, o PSOE e a polícia, riem do ponto do maltrato
familiar, porque quando esta mocinha, que é muito socialista, diz que
todavia é uma cultura machista e que o partido socialista também é um
pouco machista e que o PP é muito machista, ela crê que está falando em
chiste, mas não, é um país machista que vê com bons olhos que sejam
dados uns quantos paus à mulher cada vez que a mulher engana ou usufrui
do dinheiro de seu marido ou ama mais a suas amigas que ao marido, coisa
que é habitual e que há que saber, que o dizem todos os livros de ficção
científica “amarás: mais a tuas amigas que a teu marido”.
CS:
Um dos primeiros a sair foi Fermín Lucas, diretor de IFEMA, que diz: “É
um desprezo à mulher nuns tempos em que lutamos pela igualdade e o
respeito, é uma irreverência...”
MOM:
Corte aí. Quando ele disse: “lutamos pela igualdade e o respeito” crês
que quer dizer que estão lutando para que a mulher seja igual ao homem? Não,
estão lutando para serem todos mulheres, corrija. Num momento onde todos
lutamos por ser mulher...
CS:
... é um desprezo à mulher.
MOM:
Ou seja, ao homem que está lutando por ser mulher.
CS:
“Em uns tempos em que todos lutamos por ser mulher, é uma irreverência
e é muito grave submeter às modelos a um terceiro grau com perigo de sua
integridade física.”
MOM:
Por que não perguntou quanto lhes pagavam? Porque na película de Tarzán,
Tarzán tem que se tirar da árvore e quase se rompe a alma um dia, mas vá
perguntar quanto pagavam, ou não é um ofício ser modelo? Os argumentos
do senhor são facilmente destruídos por qualquer pessoa inteligente.
Aprofundemos, não terão querido fazer publicidade para Delfín e em sua
maneira perversa de pensar, pensaram que era mais fácil fazer um escândalo
periodístico do que elogiar sua roupa, suas jóias e sua inteligência e
sua cultura e seu surrealismo e sua psicoanálise, que era mais fácil
fazer um escândalo? Porque a imprensa, sabes que atua assim. Apesar de
meus amigos da imprensa.
CS:
“Isto nunca voltará a suceder”, disse o mesmo senhor.
MOM:
Não, porque o menino já o fez. Isto nunca voltará a suceder, porque é
um fato artístico. O cara crê que nunca vai acontecer porque ele vai
proibir que ocorra, mas não vêem que estamos sendo governados por
tarados mentais? Não, nunca mais vai ocorrer porque é um fato artístico
e se ocorre de novo todo mundo diz: “copião, imitador”. É uma
ensambladura, onde se vê claramente a mão da psicoanálise, ainda que
para você pareça mentira. Mas não como crêem alguns porque talvez
algum deles se psicoanalise, senão que no modo de juntar está a psicoanálise
do Grupo Cero. Perdoe-me que ao final eu queria brindar uma homenagem a
Delfín, no sentido de que eu sinto que ele conseguiu algo que eu não
posso conseguir, o capa de cinco diários, e resulta que agora termino
falando de mim. Mas o que acontece é que o Grupo Cero tentou e conseguiu
levar a poesia até os cenários do pensamento e da ciência. Por quê a
cultura não vai chegar à moda? Por quê? Ou têm medo de que o menino se
faça milhonário fazendo vestidinhos? Que não faz vestidinhos, o menino
é um artista. Falo, e isso que não o conheço, mas se me regala uma calça,
sabem o que digo dele? Maravilhas, não vêem que tenho a calça toda suja
pela pintura. Isso me acontece por trabalhar com tantas mulheres, as
mulheres nunca regalam, os homens regalam mais. No ano que vem vou me
dedicar a isso. Carmen, por favor, abra a lista de espera, a partir do ano
que vem vou trabalhar com homens.
CS:
No jornal diz: “Tentando justificar os aspectos estéticos do desfile, o
desenhista explicou que tudo vem do quadro de Magritte dos amantes que se
beijam encapuzados”.
MOM:
Muito bem, já nomeou a Magritte.
CS:
“Meu equívoco era que este era um conceito teatral, e aqui em Cibeles não
há ensaio geral, não culpo a Cibeles, a responsabilidade é minha.”
MOM:
Se equivocou, houve ensaio geral. Os patrocinadores da Cibeles foram os
que permitiram isso, porque como Barcelona ganharia à passarela Gaudi se
não ocorresse o que ocorreu? Vamos, ou somos todos tarados, ou os gênios
temos idéias. Os gênios não temos idéias, os gênios vamos por aí e
nos agarram os que têm idéias e nos fazem fazer coisas geniais, em
qualquer lugar, em qualquer canto, sempre inadequadamente, para quê? Para
que surta o efeito que eles querem. Tem que ser um efeito periodístico,
tem que ser um efeito comercial... Gostou desta versão catalã do assunto?
CS:
Me parece muito realista. “Delfín se extendeu falando do surrealismo de
Luis Buñuel e dos sonhos.”
MOM:
Já recomendou todos os poetas surrealistas, Buñuel e Sigmund Freud, é
um criador.
Eh!
E o periodista tem mulher? Para saber como a maltrata.
CS:
Não sei.
MOM:
Denunciemos os três periodistas que se levantaram, como perversos, façamos-lhes
um juízo e lhes ganhamos. Ponhamos psiquiatras a investigar a vida desses
periodistas e vão ver como padecem todas as perversões que acusam, batem
na mulher, fazem o amante masculino bater neles, castigam o amante
feminino, averigúem, estou seguro. Não tem três ou quatro psiquiatras,
Amelia Díez, para emprestar-me, para que eu trate como cães de
apreendidos?
AD:
Seu próprio ato o denuncia.
MOM:
Seu próprio ato os denuncia. Julgado, como faz Bush, julgado. Não vamos
averiguar se é verdade ou mentira.
CS:
Segue dizendo Delfín: “São imagens, desejos inocentes que falam dos
sonhos e de fantasias, talvez minha confusão...”
MOM:
Aristóteles: As pessoas decentes sonham e fantasiam o que os delinqüentes
têm necessidade de fazer. O menino lhes disse “vocês são uns delinqüentes.
Eu sou decente até para Aristóteles”, lhes disse. Eu não digo que as
pessoas saibam o que dizem, mas quando diz isso lhe diz, “Olhe já Aristóteles
sabia que os decentes, as pessoas que trabalhamos, os artistas,
fantasiamos, sonhamos as fantasias, criamos com as fantasias, ao contrário
vocês os perversos, têm necessidade de realizá-las”, é assim.
Adiante, Carmencita, que hoje vendemos tudo.
CS:
“Talvez minha confusão seja querer levar a cultura à moda e não me
refiro ao estético, senão ao espírito.”
MOM:
O que disse, a pintura?
CS:
A cultura, mas pode ser.
MOM:
Vamos ver como é isso, porque aí há um erro.
CS:
“Talvez minha confusão seja querer levar a cultura à moda e não me
refiro ao estético senão ao espírito.”
MOM:
O que acontece é que se a cultura não está dentro da moda, a moda não
é moda, o que é absolutamente impossível. Ele triunfou, levou a cultura
à moda, te estou dizendo que em uma página de moda aparecem quatro
poetas, três realizadores e apareço eu. Quando eu apareci relacionado à
moda? E ele me faz aparecer. Ou agora também vamos duvidar que eu seja um
poeta. Podemos duvidar até que compre um quadro, que eu sou um pintor,
você o compra, o olha, o olha, o olha e termina gostando, como fez com
seu esposo, do qual não gostava quando se casou e depois de tanto tê-lo
ao lado seu terminou lhe agradando. “Bom não é tão mal Paco”.
CS:
Sobre a banda sonora, o jornal descreve: “...na que se ouve um ruidoso
orgasmo e uma confusão de ruídos de grades que se abrem e se fecham e
bastidores que farfalham e palmas.”
MOM:
Contestação do menino.
CS:
“Eu encarreguei Gabriel Gutiérrez um fundo sonoro que fosse como a
banda de um sonho, por isso se ouvem pulsações do coração, o abrir e
fechar de portas, tenho que dizer que esta é uma coleção feminina, para
a mulher, é minha terceira coleção e a mais feminina que nunca havia
feito.”
MOM:
Leia-me o princípio que é muito importante.
CS:
Um fundo sonoro que fosse como a banda de um sonho…”
MOM:
O menino lhes responde, qualquer ruído confuso para você já é o ruído
do orgasmo, tens uma confusão na cabeça. Claro porque o menino é um
artista, não sabe o que responde, ele talvez creia que está se
defendendo do periodista, ele talvez creia que está pedindo desculpas ao
periodista, mas olha o que lhe responde, é genial, leia e vais ver.
CS:
“Um fundo sonoro que fosse como a banda de um sonho”.
MOM:
Isso pede ele, mas o periodista, o que escuta?
CS:
“Um ruidoso orgasmo e uma confusão de ruídos de grades que se abrem e
se fecham e bastidores que farfalham e palmas”, isso é o que ouve o
periodista.
MOM:
O que vê o periodista é isso, então podemos assegurar que o periodista
não leu Marx, ou o leu mal, não leu Freud, ou o leu mal, e não leu
nenhum dos meus poemas, que isso é imperdoável, eu creio que há que
mandar o periodista preso, não o podemos mandar preso como fazem eles, nós
não temos esse poder. Que lástima! Olha que eu diga Bush a prisão. E
para quê vou encarcerá-lo? Para que aprenda a foder, para que se separe
um pouco dos homens. Porque, sabes por que vai atacar o Iraque? Porque
seus assessores lhe dizem que é um maricas se não ataca e como é um
pouco maricão, vai atacar.
CS:
O pai de Bush não pôde.
MOM:
Espero que não ataque, gosto tanto da paz, como amo a paz, vi morrer
tanta gente na guerra. O que mais me impressionava eram os que se
suicidavam antes de cair nas mãos do inimigo. Que horror!
CS:
Mas olha que gracioso como o periodista termina o artigo, porque aí muda,
depois disto: “Mas depois e antes desta polêmica, Cibeles teve outros
protagonistas e aí enumera e termina as duas últimas frases, nomeia a
outro desenhista, roupa branca para o homem e a mulher, mulheres de
vermelho fogo e nas águas transformadas em saias que podia ter pintado
Sorolla.
MOM:
Muito bem.
CS:
Tudo isto compensou o amargo trago do dia. Digo que cai na trampa, nomeia
a Sorolla, quando vai tu saber se tivesse...
MOM:
Por aí nomeia a Sorolla porque por aí não conhece os outros, e acredita
que os conheça, porque conhecer um pintor, conhecer um poeta não é
saber que pintou azul.
CS:
Bimba Bosé? Ganhou o prêmio de melhor modelo.
MOM:
Ela não é uma modelo do menino? E então, por que lhe deram? Porque é
muito boa. Por quê?
CS:
Para contribuir mais à toda teoria que temos feito sobre Delfín.
MOM:
Não será algo preparado pela imprensa e Delfín não sabe nada sobre a
publicidade que lhe estão fazendo?
Depois,
por exemplo, o assunto das mulheres, quando eu digo que ele faz um
sarcasmo, que é às vezes um pouco superficial como Aznar, quando eu lhe
disse terias que ter indagado: o que é isso Menassa de que o governo ri
da violência familiar? Bom ri porque acontece que desde que tomaram as rédeas,
que disseram que iam se ocupar das mulheres, resulta que há mais violência
familiar. Primeiro passo equivocado. Segundo passo equivocado: estão
confundindo todas as mulheres do mundo e espero que vocês não se
confundam, lhes estão fazendo crer que falar é denunciar, com o qual a
mulher nunca jamais vai aprender a falar. Se a mulher crê que falar é
denunciar, bom, as pessoas que crêem que falar é denunciar, que se reduz
a denunciar não podem nenhum grande negócio nunca na vida porque quem
vai confiar em alguém que crê que cada vez que fala tem que denunciar
algo.
Terceiro
erro: o partido socialista se adianta e apresenta a lei no Congresso
contra o maltrato de não sei que caralho e então como estes têm em
carteira uma lei melhor, rechaçam (vocês sabem que vivemos na ditadura
da democracia) porque como tem setecentos mil votos contra três, então
ganharam, então rechaçaram a proposta do partido socialista, que de
passagem eu aconselharia a todos os militantes socialistas que saquem o
carnê de foder, e todo aquele militante socialista que não foda três-quatro
vezes por semana não pode ser socialista, tem que tornar-se do PP, que não
brinquem mais. Por que chamam sado-masoquista ao que eles fazem todos os
dias? Por quê? Por que se insultam? O partido socialista é um partido
necessário, portanto, há que limpá-lo, há que lavar a cabeça destes
abobados, que se dêem conta que mudamos de século, que caiu o muro de
Berlim, que na União Soviética houve raquitismo e que o capitalismo não
melhorou suas formas agressivas e estúpidas de manejar e dobrar as
pessoas, como bem mostra Bush.
Mas
é como se o PSOE espanhol que está como partido, não soubesse essas
coisas, como um canalha como Bush vai atacar o Iraque sem um interesse
pelo petróleo dessa zona? Ou vamos crer que o cara realmente crê na
teoria do bem e do mal, por favor! No entanto, o partido socialista sem
fazer este tipo de análise vai acatar a decisão do caralho para atacar
um povo, rebentar um povo para que os Estados Unidos se beneficie
economicamente, comercialmente [1] Não, estamos vivendo épocas de
terror.
Quero
felicitar aos de El País, por favor, que eu sempre insulto, porque me
parece gracioso e atrevido, por parte deles, que regalem um livro
importante todos os domingos, todos os sábados, porque dessa maneira nos
ajudam, se transformam em ajudantes nossos em repartir a cultura entre a
população e por aí agora podem se lembrar que nós repartimos uma
revista de 125.000 exemplares há seis anos sem que eles se hajam dado
conta, agora eles vão presentear poesia aos domingos? Se darão conta que
estão nos ajudando a repartir a cultura entre a população. Queria
felicitá-los, porque nunca é tarde quando se toma o bom caminho.
Depois,
por exemplo, dando a razão aos periodistas e supondo que esse ato tenha
sido um ato perverso, malévolo, mal intencionado, que não pode ser, há
que ter cuidado porque em Madrid, ocorrem de desses atos, até 10-15
diariamente, atos desonestos, atos injustos, atos daninhos para a mulher,
atos em contra do capitalismo e a favor das religiões esotéricas, mas
aos periodistas não ocorre pôr o assunto na primeira página, então
isso é o que temos que pensar, que ainda que os periodistas tenham razão
no que dizem, temos que pensar porque decidiram pôr este ato impuro na
primeira página, quando havia tantos atos impuros na cidade. Eu creio que
no momento que o menino estava passando pela passarela suas mulheres
enforcadas, eu estava me masturbando, e no entanto foi mais importante que
as mulheres se enforcassem cegas sobre o cenário (a um grande estilo
surrealista porque olha como eu o expliquei a cena: as mulheres se
enforcavam cegas no cenário e isso é surrealista total).
MOM:
Quando alguém está de viagem não pratica sexo, ou vocês sim? Eu quando
era jovenzinho sim. Na realidade não era que viajasse e praticasse siso,
eu quando era jovenzinho praticava sexo, e também viajava.
Se
o menino tem mérito, para que se dedica a estas coisas, se tivesse se
dedicado a bordar na casa da mamãe não lhe aconteceriam estas coisas com
os jornais. Tchau. O que faz paga, depois quando todos os
pintores de Madrid venham a querer me fuzilar, o que vou dizer-lhes? Não
sabía, não me dei conta de que estava lhes estragando o negócio, não
me dei conta de que Amelia Díez ia ser uma grande pintora, não me dei
conta de que Olga de Lucia ia ser a melhor retratista de Paris, não me
dei conta de que Claire Deloupy ia pintar os melhores nus da zona sul, não
me dei conta, não me dei conta, o que vou dizer ao cara. Vão querer me
matar, não lhes posso dizer que não me dei conta.
Sabes
qual é minha ilusão como mestre de pintura? Ser o que pior pinta de
todos os meus alunos. Que louco que sou! Bom que louco ou tenho vontade de
viver de alguém, porque como sempre mantive a todo mundo, por aí, se
todos os meus alunos se tornam melhores do que eu, por aí me mantêm,
lhes faço crer que é por mim. [Gargalhadas]. Que mundo o que vivemos!
..............
[1]
Um dia depois da entrevista lemos em El País: “EUA compartilharão o
petróleo iraquiano com os países que os apóiem na guerra.”