Revista semanal pela Internet
Índio Gris UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2002 NÃO SABEMOS FALAR, MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS ÍNDIO GRIS
É PRODUTO ÍNDIO GRIS Nº 113 ANO III EDITORIAL ENTREVISTA AO POETA MIGUEL OSCAR MENASSAAD:
No outro dia escutei que, da primeira guerra mundial à segunda, os alemães
levantaram o país, porque davam uma hora de seu trabalho diário para o estado,
mas isso produziu um Hitler, se identificaram ao estado. MOM:
Vou dizer-lhe outra coisa mais. Hitler foi produzido pelos intelectuais de
esquerda, foi votado por eles, em uma ação de castigo... era mais barato
empapelar a parede com marcos alemães do que com papel de parede, do pouco que
valia o marco. CS:
Então, os ditadores não surgem numa sociedade que funciona bem, surgem quando
as coisas estão meio destruídas. AD:
Quando há intelectuais não, mas esses deixaram de ser intelectuais, quando há
intelectuais não surgem ditadores. MOM:
Para que haja intelectuais tem que haver conforto, conforto popular. E sempre os
caras vão por aí, por esse lado. Até o povo atual, às vezes, quando alguma
instituição se desmembra, pedem um ditador, alguém com mão dura, dizem assim
dessa maneira, mas pedem um ditador. Há algo que o Grupo
Cero entendeu muito bem. A pergunta que se fazia o Grupo Cero há 25 anos é:
por que os intelectuais preferiam o desconforto, a falta de conforto material,
vivencial, corporal e no entanto queriam conforto intelectual. Então quando diz
“Não há idéias vigorosas sem uma infra-estrutura econômica poderosa” o
que está dizendo é que se não há conforto na vida, há conforto nas idéias
e como o Grupo Cero é muito moderno, não quer o conforto nas idéias. Porque
você não necessita de nenhum dinheiro, senão de seu trabalho. Como posso
pensar quando vou me sentar numa cadeira que tem um prego? Penso bobagens, me dói
o cu. Depois estão as
personalidades, pode ser que uma pessoa de conhecimento aproveite seu
conhecimento para foder às pessoas, eu não digo que todas as pessoas de
conhecimento sejam boas, isso não. O cinema reflete inteligência para a
maldade, nunca o cinema ou a literatura refletiram inteligência para a
normalidade, não digo nem sequer bondade, para a normalidade, nunca. O policial
que confunde a advogada, por que sempre lida mal com a mulher, sempre? Lida mal
com a mulher porque não tem mulher, tem problemas sexuais. AD: O conforto
intelectual produz ditadores. MOM:
Além disto, necessitamos dinheiro para sermos criativos. Há algo que se impõe
como se não pudesses ter conforto intelectual, por exemplo, ao jovem é imposto
que, mesmo que nos agrade seu quadro, que queira superá-lo, lhe é imposto, não
fica sentado confortavelmente na boa nota que lhe atribuímos. Aprende uma
coisa, mas sai uma coisa mais moderna e ele quer aprendê-la, quer saber isso
mais moderno. Não há conforto intelectual, e quando não há conforto
intelectual estamos muito próximos de ser criadores. Então, uma comunidade
como Grupo Cero que luta para que não haja conforto intelectual, é uma máquina
produtora de criadores. Aí, não o dinheiro do conforto, aí já necessita um
dinheiro volumoso, um criador pinta, um criador escreve, um criador canta, um
criador trabalha. Por isso, uma idéia
vigorosa diz não ao conforto intelectual, sim ao conforto da vida, porque a fórmula
é assim, isto leva à criação. Na criação aparece o senhor, nós lhe
deixamos, porque se ele tivesse dito “ai...” e eu lhe tivesse dito “para
de foder com o canto vai montar na bicicleta” estaria cortando o
desenvolvimento de sua criatividade. Agora se nos ocorreu o dos CD, 150 € por
semana mais 30 de não sei o quê, mais 40 de não sei quantos... entendem como
é? Por isso que uma infra-estrutura poderosa é necessária. E quem não o
entende, não serve para o sistema, porque eu creio que até serve para o
sistema quem não tem o dinheiro de todo, mas quem não crê... E tens que correr
riscos, tens que correr muitos riscos porque, como isto não se compreende, as
pessoas pensam mal, e é um neurótico, as pessoas sempre pensam num plano neurótico,
o vês pintando “vai começar a pintura e abandonar a universidade”, “olha
este, escrevendo poesia em lugar de ir trabalhar”. Mas nós estamos
inventando um tipo de criador muito interessante, porque são criadores da
realidade, os do Grupo Cero. Se não tens trabalho, não podes ser criador.
XIII Escrever, Do
homem, Devo
a mim Me
vejo cantando as vidalas Abro
a boca Áspera
rocha,
QUERIDA: Eu
me encontro à vontade nesta situação de escrever-te; comido, bebido,
fumado, com a música a tudo o que dá e sem poder escutar, mesmo que o
desejasse, outro ruído que o que produzem, secamente, as letras da máquina
contra o tambor de negra fumaça contra a qual as estrelo. Alguém
dirá, ele foi as letras de paixão. Volto
desesperado os olhos, querida, No
ventre sagrado da poesia, aí, desejo refugiar-me para sempre. Em
seu ventre feroz, mesmo que me deixem sem comida, em seu ventre feroz onde
ninguém pode ter vivido senão um instante. Quero
dizer-te, querida, que num sistema tão pequeno como é a vida de cada
sujeito e seus encadeamentos, a ambição gasta muito mais do que a
loucura. A loucura é para famílias medíocres, mesmo que depois haja
grandes loucos. Uma família folgada é aquela que permite a ambição em
seus membros em lugar da loucura. E
nós, querida, temos sido uma grande família e temos sido uma família
medíocre. Assim que teremos em nossa família, grandes loucos e grandes
ambiciosos. Hoje
como nos grandes momentos me despeço beijando-te com ternura.
Ele
chegou e me disse: -
Não posso mais. E a perversão é seguir repetindo sempre o mesmo. Vazio,
quanto vazio, filho meu, tive vontade de dizer-lhe, mas lhe disse: -
Continuamos na próxima.
Quando
ele se aproximava de mim, eu sentia a ela. Quando eu me aproximava dele,
ele a sentia. Demoro para entender as coisas do desejo, mas não por
complicadas, senão porque nunca penso que são tão perfeitas. Ela estava
presente em todos os movimentos. Era a desejada pelos dois. -
És o amor vindouro... me dizia ela. Nunca
antes havia chupado a xexeca de ninguém, menos a uma mulher e, no
entanto, enquanto o fazia, sentia que o tinha feito sempre. Uma ternura me
invadiu a alma quando pensei que não deveria sentir ciúmes, entenda-se
desejos, por qualquer um. Esse gozo estava reservado para uns poucos. Quando
nos beijávamos os três era como beijar o mesmo amor. Ele
beijava sua mulher de trinta anos e eu o agradecia, isso, mais que me
excitar, me emocionava. Tomava suas cabeças e as levava até minha boca e
ficávamos assim por um tempo. Amei
esse homem mais do que outras vezes. Ele
estava tão quente que a pica não endurecia de todo. -
Por momentos, tudo parece coisa de mulheres, disse ela e eu, por um
momento, pensei que tinha razão, mas ele gozava mais do que nós duas
juntas e eu creio, que se lhe endurecia a pica, teria sido um descuido,
uma distração. Claramente,
algo vivia em nós que não éramos nós. Cada
um, logo depois dessa noite, teria um ou vários dias menos de dor. Ao
despedir-nos nos abraçou às duas, voltamos a sentir em um segundo o que
havíamos sentido em toda a noite e nos disse: -
Hoje fabricamos várias toneladas de amor. Até o dia de hoje, votaram: Pornografia: 250.000 Erotismo: 390.000
1 Cada
vez que mato à aranha, 2 É
impossível lutar contra ela cara a cara.
Estrear
cadernos me agrada mais do que foder (para me acabar) a uma virgem. A
idéia de terminar as dívidas com o edito, todas minhas dívidas com o
editor. É uma boa idéia, mas muito forte. Uma
vez mais, começa para mim uma nova vida. Falarão de mim como um dos
melhores editores do primeiro quarto do século XXI. Tudo
se reduz a mudar a bondade pela exigência. A
grande poesia, isso é o que importa. A grande poesia. Não
deixar fantoches com cabeça. Os
grandes e eu. Eu e os grandes. Índio Gris ISTO É PUBLICIDADE
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