ÍNDIO GRIS

REVISTA UNIPESSOAL DE COLETA DE LIXO
1. ANO 2000, QUINTA-FEIRA 1 DE JULHO
UNE - DIRIGE - ESCREVE E CORRESPONDE: MENASSA 2000

NÃO SABEMOS FALAR MAS O FAZEMOS EM VÁRIOS IDIOMAS
CASTELHANO, FRANCÊS, INGLÊS, ALEMÃO
ÁRABE, PORTUGUÊS, ITALIANO E CATALÃO

ÍNDIO GRIS, É PRODUTO
DE UMA FUSÃO
O BRILHO DO CINZA
E
O ÍNDIO DO JARAMA
A FUSÃO COM MAIS FUTURO DO SÉCULO
XXI

Índio Gris


ÍNDIO GRIS Nº 1 

1

Hoje começou para mim uma nova vida.

Me dei conta que tenho um trabalho magnífico, uma mulher maravilhosa, uns filhos muito inteligentes e uma secretária particular para circulação geral.

Tive incontáveis amores, até fui capaz de amar as estrelas mais inalcançáveis, porém abandonei todos pelo meu trabalho.

Agora, recém agora, me sinto um gênio. Um verdadeiro gênio.
Já ninguém se sentirá amado por mim porque, em princípio, não amarei a ninguém.

E quando algum jovem me pergunte, lhe direi claramente:
primeiro pude com várias mulheres ao mesmo tempo e com vários poetas ao mesmo tempo. Agora posso com vários negócios ao mesmo tempo.

Às mulheres, as amava todas igualmente.
Aos poetas, aprendi a amá-los cada um de uma maneira diferente.
Aos negócios, amo todos por igual.

Quando jovem me dizia: terminarei vivendo com a mulher que melhor permita meus amores.

Hoje em dia, eu sei, o trabalho, negócio, que mais cuidarei será o que me permita, ou melhor, tolere, meus outros negócios.

Todo o mundo ao meu redor, terá que brilhar. E para aquele que não seja possível, ou não queira brilhar, terá que se distanciar de mim.

Isto é o que quero dizer quando digo tudo para a poesia, também meu dinheiro e outros dinheiros, todos os amores e todas as horas de trabalho.

2

Em pouco tempo, triunfarei.

Chegaremos a vender 2000 exemplares de tudo o que publique o selo editorial Grupo Cero.

Tudo para o editorial Grupo Cero quer dizer tudo para a poesia.

Viva eu, viva o poema,
viva o alcance de uma voz.

3

Adiante, meu amor, triunfamos, já não podem viver sem o Grupo Cero.

4

Estou um pouco cansado de tanta enfermidade ao meu redor. Às vezes, sinto náuseas e eu, também, estou enfermo.
Me separarei, definitivamente, de mim e já não será necessário estar enfermo.

Os enfermos mentais vão pela vida querendo transformar em marionetes entorpecidas, por seu teatro fantasmal, as pessoas que se aproximam deles.

Cada vez que o psicoanalista, por seus próprios preconceitos ou ignorâncias, transforma um paciente, em tratamento psicoanalítico, em um enfermo mental, ele mesmo se transformará numa marionete duplamente torpe.

5

Vejo tanta loucura ao meu redor que me vejo trabalhando sem parar até os cem anos. E não é que as pessoas vão estar muito melhor quando eu complete cem anos, porém eu já não vou querer mais saber destas coisas.

O importante é que tenho trabalho para mais 50 anos e isto me deixa contente porque significa uma velhice cinco estrelas.

Estou convencido de que as coisas estão bem feitas. Haverá trabalho para todos, porém só conseguirão os que se animem a trabalhar algo mais que o que necessitam.

6

À beira das três mil páginas publicadas, sinto que daqui mais 30, 40 anos poderia chegar a ser um grande escritor. Depois, o mais importante de mim terão que fazer outros, e isto será o corpo do Rei.

7

Te fará voar até os confins do universo

embora saiba que voar é um dizer do verso.

8

Hoje talvez possa dizê-lo assim: tenho que planejar 20 anos no mínimo, já que, no mínimo, 20 anos é o tempo que necessitarão de mim como psicoanalista.

Hoje deixo de ser para viver. Estou contente, muito contente.

9

Escrevo com um marcador de 12.500 pesetas e lembro que toda a minha obra até aqui, mais de três mil páginas publicadas, escrevi com caneta esferográfica de 3 x 100 pesetas.

10

Confio que poderei escrever umas 10.000 páginas em menos de 20 anos. Que maravilha!

11

Voltar é fácil. Resistir, seguir adiante, isto é verdadeiro.

Que lindo que é defender os valores universais do bem e da beleza!

12

Há alguns dias, não posso escrever completamente há alguns dias, estou brigado com o futuro há alguns dias, que não quero saber nada sobre mim há alguns dias, apenas uns dias, que não vivo o amor.

13

Ela é diferente d'Ele mas tardamos um século para perceber.

14

Às vezes quando quero ficar sozinho me sinto um gênio.

Algo de mim haverá em mim, me digo e sigo voando.

15

Ela é estranha a todos os acontecimentos.

Bordadeira de luz, não sabe outra coisa que atar-se às palavras.

16

Quis ser o paladino do amor e fiquei sozinho diante de tanto sol.

Fui todo pó, fragmentos diante do sol.

17

Onde está o bem, para mim?

É uma pergunta que todo mundo se faz e ninguém pode responder.

18

Acostumado a mulheres que pagam com amor por todo o dinheiro, poupei pouco.

19

É como se algum dia tivesse pensado em me encontrar com uma mulher verdadeira. Uma mulher que devolva beijo a beijo todo amor que recebe.

Se lhe emprestam dinheiro, devolve com dinheiro e um sorriso distante e, quando alguém investe dinheiro nela a troco de nada, uma verdadeira mulher devolve todo dinheiro e alguns interesses. Neste último caso, pode até não sorrir. Os interesses jogam como sorriso.

20

Eu mesmo tenho que me ocupar da administração de minhas coisas.

Gente sem lei não deveria se ocupar de nossas relações com a justiça.

21

Nunca mais tenho que falar com as pessoas que cometem o erro do erro.

Depois de retificar seus erros, andar por aí dizendo que estes erros são necessários para a formação.


Índio Gris